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18/04/24 às 20:40 / Atualizada: 18/04/24 às 20:48

Em Mato Grosso, ‘Lagoa Encantada’ carrega mistérios sobre povo Xavante

Davi Vittorazzi

Da Revista Cenarium

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A Lagoa Encantada é cenário de uma série de histórias contadas por indígenas Xavante e pela população mato-grossense ((Josué Rodrigues Nogueira Junior/Arquivo Pessoal)

Pelo próprio nome, uma lagoa no território Xavante, na Terra Indígena Parabubure, zona rural de Campinápolis (a 565 quilômetros de Cuiabá), gera enorme curiosidade: é a chamada Lagoa Encantada. Sem profundidade conhecida, o local é cercado de mistérios sobre a origem do povo Xavante que vive na região.

Em Mato Grosso, os Xavante têm uma população de cerca de 25 mil pessoas e estão em maior número no Estado, divididos em centenas de aldeias em 12 cidades. Campinápolis possui três terras indígenas, duas delas demarcadas: Parabubure e Chão Preto.

Lagoa Encantada em Mato Grosso.
‘Logoa Encantada’ fica no município de Campinápolis (Josué Rodrigues Nogueira Junior/Arquivo Pessoal)

O diretor da Escola Estadual Indígena Luiz Rudzane Edi Orebewe, Josué Rodrigues Nogueira Junior, afirmou à REVISTA CENARIUM que o sagrado da lagoa se relaciona à origem desse povo. “Muitos acreditam que os primeiros Xavantes surgiram na região da lagoa (…) é um lugar precioso, de autoestima, importante para a cultura local”, explica.

 
Para acessar o local, é necessário obter permissão de algum Xavante, pois a região é considerada sagrada. A lagoa fica a cerca de 30 quilômetros da zona urbana de Campinápolis. Mesmo assim, o diretor explica que é comum ver turistas no local sem essa autorização, o que ele considera desrespeitoso.

“Ao lado da Lagoa Encantada existe a Gruta dos Segredos, onde eles [os indígenas] acreditam ser um portal para o outro mundo. Esse Portal também é de muita importância para a cultura Xavante”, descreve Nogueira Junior.

Encantada e cercada de mitos

Segundo o diretor do colégio, que vive há dez anos na região, há diversos mitos contados pelos moradores locais, mas cada família apresenta uma história diferente relacionada à lagoa. Uma delas é que existiriam homens prateados vivendo debaixo d’água. Outro mito conta que um Xavante teve que orar aos deuses para resgatar as mulheres que estariam nas profundezas.

“Eu acredito que a Lagoa Encantada seja a alma do povo Xantante. Todos os Xavante das nove regiões vão à lagoa”, salienta o professor. Por estar dentro de uma terra indígena, ele acredita que o espaço deva ser valorizado e preservado como parte da cultura desse povo.

O indígena Xavante do clã Poredza’ono e professor pedagogo pela Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) Florestino Warawi diz que o mito contado por seus pais era que existia, dentro da lagoa, o pai e a mãe da água.

“Um dia desses, as mulheres foram para lá, na lagoa, e viram um cabacinho [uma porção de água] para fora, transbordando de água. As mulheres foram descendo lá para pegar cabacinho, e foram pegas pelo dono da lagoa”, conta Warawi.

Ancestralidade

Já Saturnino Wapotowe Rudzane’edi, que também é professor, há 14 anos, diz que na língua-materna a lagoa se chama U’U Lagoa Encantada, e está a 16 quilômetros da aldeia em que ele vive. Saturnino conta que falar sobre o local é motivo de orgulho para os povos da região, por envolver relação com a ancestralidade.

“É uma lagoa praticamente feita pela obra da natureza, é uma dádiva de Deus, que a gente aprendeu a conviver com a beleza, com o que nos oferta, onde buscamos as nossas energias também em virtude de fazermos nossos rituais dentro da caverna, que fica ao lado da lagoa. Lugar místico, lugar misterioso, porém de convivência respeitosa”, descreve o professor.

Saturnino ainda explica que a água tem uma coloração verde e que não seca, mesmo com a ausência de chuvas. Além disso, ele diz que o local não acumula sujeira durante as chuvas e não muda de nível. 

“Hoje, infelizmente, ela corre um risco, em virtude do maior tráfego de veículos, principalmente de não indígenas. Nós temos flagrado [essas pessoas]. Temos esperanças em um monitoramento para que a gente venha conservar em virtude do seu valor para nós, povo Xavante”, destaca o professor.

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