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29/11/16 às 06:46 / Atualizada: 29/11/16 às 06:56

Conversa com os poetas: Compositores da Imperatriz veem obra como um grito de clamor pelas causas indígenas

Yuri Neri - Carnavalesco

AGUA BOA NEWS

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Conversa com os poetas: Compositores da Imperatriz veem obra como um grito de clamor pelas causas indígenas

Foto: Divulgação

A Imperatriz Leopoldinense chega ao Carnaval 2017 falando do Xingu, região que habita diversas etnias indígenas como os Kamaiurá, os Jurunas, os Caiabis. Os principais idealizadores da criação do Parque Nacional do Xingu foram os irmãos Villas Boas, mas o responsável por redigir o projeto foi o antropólogo Darcy Ribeiro, ambos também homenageados pela escola nesse enredo.
O som que vai embalar o enredo “Xingu – o clamor que vem da floresta” é o samba-enredo criado pelos compositores Moisés Santiago, Adriano Ganso, Jorge do Finge e Aldir Senna, com participação especial de David Assayag. Em conversa com o CARNAVALESCO, eles contaram o que inspirou a criação do samba, a responsabilidade de serem a voz dos indígenas no grande espetáculo na Sapucaí e o que esperam com esse desfile.
 
final_imperatriz_1018-17A nossa responsabilidade enquanto compositores é grande com todos os enredos. A gente veio de um enredo que foi tido como o pior e mais rejeitado enredo do ano de 2016. Talvez, um dos mais rejeitados dos últimos tempos, e nós tivemos o mesmo cuidado para compor para ele que estamos tendo agora. Não pensem que foi diferente não. Qualquer enredo você tem que tratar com empenho, carinho e respeito. Por isso, a gente tenha feito um samba que, mesmo com enredo rejeitado, foi elogiado pela crítica, pelo mundo do samba, como um grande samba. Esse ano a gente teve um enredo que foi bem aceito, não tinha como ser o contrário desse ano: precisávamos fazer um bom samba-enredo. Então a responsabilidade, na verdade, é muito grande – explicou Moisés.

O compositor Aldir Senna explicou como serem porta-vozes dos povos indígenas em uma espetáculo exibido dentro e fora do Brasil exige deles, enquanto compositores, um grande cuidado, desde a pesquisa até a confecção do samba.

final_imperatriz_1018-36– Queiram uns ou não, fato é que o nosso ancestral é o índio. E as pessoas as vezes ignoram isso. Ele está muito presente no nosso passado, e hoje presente na vida do brasileiro, mas marginalizado sim, isso mexeu conosco. O Moisés Santiago trouxe isso para a pauta: o índio sempre é retratado de forma infeliz. Seja em reportagens, documentários, é o índio protestando, triste. E com um enredo que traz “o clamor da floresta”, esse foi um marco para nós começarmos a fazer o samba já sabendo onde queríamos chegar: mostrar a tristeza e a indignação do índio. Justamente por essa responsabilidade, nós fomos buscar vídeos, documentários; pesquisamos muito – explicou Aldir.

Parceria pesquisou durante meses a história dos povos indígenas para saber retratar suas demandas

Os compositores se reuniram por diversas vezes após terem contato com a sinopse do samba, mas nem todos os encontros foram para compor samba. É que por algum tempo eles se debruçaram unicamente em material de pesquisa, de filmes a reportagens, buscando o que eles chamaram de “a essência do índio”.
 
imperatriz_gravacao2017_2210_-28Nós tivemos um trabalho de pesquisa pesado. Ano passado assistimos diversos DVDs do Zezé e Luciano para encontrar aquela essência do artista. Assistimos o filme sobre eles juntos, e esse ano não foi diferente. Nós assistimos juntos o filme Xingu, até porque uma coisa é falar do índio, e outra bem diferente é falar do Xingu, que é um caso bem particular. Você precisa entrar na alma do que o carnavalesco propõe, e entender bem a sinopse – disse Ganso.

– E uma sinopse muito bem feita, e que nos deu muita coisa de bandeja. Mas a sinopse todas as parcerias tem acesso. É preciso algo mais – explicou Aldir.

E os compositores atribuem boa parte desse “algo mais” ao compositor Jorge do Finge, que é, segundo eles, um grande pesquisador, que muniu a parceria de bastante material para trabalharem.

– O Jorge é um grande pesquisador, estudioso, e ele trouxe muita coisa para a gente, e até tupi-guarani ele aprendeu, para entender palavras, e ele foi a fundo em cada palavra que usamos, e esclarecia pontos como “essa aqui a gente não pode usar porque é da etnia tal”, “essa aqui é do povo xinguano do Mato Grosso”; nós tivemos o cuidado de ir a fundo e entender bem tudo. Nós ficamos mais de dois meses compondo porque você tem que, estudar, ir a fundo. Nos interessa é fazer algo bem acabado – disse Ganso.
 
imperatriz_gravacao2017_2210_-45 Cuidamos do enredo, escrita e melodia. Fomos dez dias antes de concluir o samba para o estúdio, fizemos um demo, vamos pra casa e analisamos o contexto melódico, vemos se algo precisa ser mudado, até ter o acabamento ideal. “A frase é linda, mas está bem acabada”? O acabamento tem que estar perfeito – disse Moisés.

– Nós fizemos uns cinco sambas. Tínhamos quatro refrões e ainda fomos buscar um quinto – disse Aldir.


A amizade e o amor pela Imperatriz

O compositor Aldir Senna esclareceu ao CARNAVALESCO que o que permitiu o samba ganhar corpo e se tornar oficial da Imperatriz foi o fato de todos da parceria serem grandes amigos, dentro e fora do samba.
imperatriz_ciatec007261016 Se nós não tivéssemos uma grande relação de amizade, não teria esse samba. Essa amizade se estende entre as casas, nossas esposas, filhos, são todos amigos. Nossas famílias convivem, se gostam, se defendem. O samba não é de nós quatro, mas das nossas famílias. E mais ainda o fato de todos nós sermos compositores da Imperatriz e amarmos essa escola.

– Nós somos Imperatriz e isso realmente conta demais. Eu entrei para a bateria da Imperatriz em 1982 – disse Moisés.

– E a equipe é muito grande, das torcidas aos compositores. Estamos todos comemorando há dias. Fizemos festa na Imperatriz, nas Beija-Flor, com toda a equipe, dos que “bandeiraram” pelo nosso samba, a quem torceu, a quem compôs. Estamos até hoje comemorando – contou Ganso.

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