Imprimir

Imprimir Notícia

30/04/22 às 15:44

Jovem se torna fisioterapeuta, modelo e atua na recuperação de amputados após perder perna

A jovem Jéssica Araújo Reolon, de 26 anos, sofreu um acidente de carro com a família em 2009 em Ipiranga do Norte (438 km de Cuiabá). Na tragédia, além de perder o pai, precisou ter a perna amputada para sobreviver. A superação levou a jovem se formar em fisioterapia. Ela virou modelo e atua em Cuiabá na recuperação de pessoas que tiveram algum membro do corpo amputado.

Aos 12 anos, a jovem viu seu mundo desabar. Por alguns momentos, chegou a perde as esperanças. Mas, com fé e esperança, superou toda dor e dificuldade e foi em busca dos seus sonhos.

“Eu perdi 1/3 da minha perna esquerda e o meu pai. Foi um longo processo até aqui. Desde a fase de luto, a aceitação, adaptação à nova realidade, como eu sempre digo. Foi necessário passar por ele e aceitá-lo como parte fundamental para que eu conseguisse ser quem sou hoje e fazer o que faço. Escolhi ser fisioterapeuta para cumprir o propósito de alcançar pessoas que passam pelo mesmo que passei e poder ajudá-las. E, hoje, através da minha profissão e da minha experiência pessoal, consigo alcançar vidas que precisam ser restauradas através do movimento e da motivação por uma qualidade de vida melhor, com mais independência e autonomia, mesmo após uma amputação”, conta a jovem.

Desde criança, Jéssica já tinha interesse na área da saúde. Após o acidente, esse desejo se tronou ainda maior, mas optou pelo curso de Fisioterapia, pois, queria fazer a diferença e apoiar pessoas que passaram por situação semelhante à dela.

“Ter a perna amputada certamente me fez tomar essa decisão, pois, acredito que o paciente precisa perceber que a vida pode continuar de forma plena e saudável. Meu intuito era ajudar as outras pessoas a perceberem isso. Não me importo com olhares, perguntas. No início, foi bem complicado lidar com tudo isso, mas tudo foi muito bem superado. As pessoas têm muita curiosidade sobre o assunto, eu as entendo. Tudo que é diferente chama atenção mesmo. E é por isso que é tão importante a representatividade, quanto mais deficientes inseridos no mercado de trabalho, seja ele empresarial, artístico, mais a sociedade conhecerá sobre o assunto e menos tabu sobre ele existira”, explica.

Durante a graduação na Universidade de Cuiabá (UNIC), aumentou o desejo de Jéssica de fazer a diferença. Depois de formada, em 2019, Jéssica expandiu ainda mais os horizontes e seguiu para São Paulo, para atuar na clínica onde fez o seu processo de reabilitação. Hoje, é especialista em Reabilitação de Amputados (Ortopedia Técnica).

Além de fisioterapeuta, Jéssica atua como modelo desde 2015. Mesmo não sendo sua principal profissão, conta que sempre participa de campanhas. Ela nunca pensou em ser modelo, mas acabou gostando da atuação, por perceber o impacto que a representatividade pode causar.

“Na verdade, foi algo que aconteceu naturalmente. Eu sempre gostei de externar aquilo que sinto. Seja por textos, músicas, fotos, gosto de me comunicar com as pessoas e ajudá-las de alguma maneira. Quando comecei a receber mensagens de pessoas relatando que eu estava  "inspirando-as" a serem melhores em algo, a aceitar uma cicatriz, a olhar a vida de outra perspectiva e, até mesmo, cursar uma faculdade, eu não fazia ideia de nada disso, não tinha noção do impacto. E isso me motivou e motiva todos os dias a ser uma pessoa melhor e oferecer o melhor para as pessoas. Acho que o segredo é esse, transformar aquilo que nos feriu em aprendizado e propósito para ajudar as pessoas, transformando realidades, deixando o mundo um pouco melhor, todos os dias”, conta.

Ela conta que faz o trabalho por amor e quando começou a receber diversos depoimentos de pessoas que se sentiram representadas, percebeu que estava no caminho certo.

“Faço esses trabalhos porque sei do poder da representatividade. Existem muitas mulheres e meninas que perderam a perna e sonham com isso. Quando elas veem outra pessoa atuando, se inspiram e começam a acreditar na possibilidade. Já recebi vários relatos de mulheres que passaram a usar roupas curtas e a mostrar a prótese porque viram minhas fotos, e também de pessoas que começaram a cursar fisioterapia”, fala.

POLÍTICAS 

A fisioterapeuta pontua também a necessidade de fortalecer as políticas públicas para deficientes, a fim de garantir um país com mais acessibilidade, respeito aos direitos e mobilidade. “O preconceito é um assunto que precisa ser bem discutido e abordado da maneira correta. Porque, infelizmente, ainda existe sim preconceito e formas de abordagens capacitistas. É preciso conhecer sobre o assunto para diminuir cada vez mais todas essas questões”, exclama.

A fisioterapeuta deixa uma mensagem para toda a sociedade.

“Eu que eu desejo que chegue ao coração das pessoas é que não importa qual seja a dificuldade, a dor ou desafio, tudo pode ser encarado e superado. Escolha o caminho de viver uma vida mais leve e feliz, apostando nas possibilidades que existem. É preciso lembrar que não existe vida perfeita, mas existe uma vida feliz, repleta de surpresas boas. E é preciso estar aberto a tudo isso e disposto a buscar isso. É clichê, mas é real, tudo passa. O que fica é o aprendizado, o que você escolhe deixar ficar. Supere-se”, finaliza.
Imprimir