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15/10/15 às 19:51

Comerciantes pegam carona no garimpo e vendem de marmita a motocicletas no pé da serra

Já que a população de Pontes e Lacerda resolveu se mudar para o garimpo e passar mais de 12 horas na Serra do Caldeirão, comerciantes, vendedores ambulantes e até a concessionária local de motocicletas decidiram mudar-se para lá também. O preço não é o mesmo do convencional, porém tudo que tem é vendido. E quando se diz tudo, é tudo mesmo. Duas motos Honda modelo XRE 300 foram vendidas em menos de duas horas no garimpo.
 
"Eu trabalhei na Cometa Motos dois anos e saí. Aí voltei a trabalhar anteontem [terça] e pensei em vender moto no garimpo. Cheguei aqui, vendi três consórcios e duas motos. Pego a proposta até em ouro, por isso estou feliz. Até moto a gente vende, e moto que vale R$ 19 mil, vendemos à vista", comentou Maurício Marques, representante comercial da Concessionária Honda em Pontes e Lacerda.
 
André Romeu / HiperNotícias
vendedor de motos - garimpo
 Vendedor conta que já vendeu duas motos de R$ 19 mil em menos de duas horas. À vista
 
Além de motos, tem gente que estava em casa parado e resolveu ganhar um dinheiro nesse período de crise, mas não foi escavando para procurar ouro. É o caso de dona Maria Aparecida, que vende marmitex junto com a filha. Ela fica na parte de baixo da serra, enquanto a filha sobe até os barrancos e distribui as marmitas.
 
"Quando soube que o garimpo estava a todo vapor, resolvi fazer comida e vender aqui. É longe de casa, mas tá valendo. Na primeira semana, vendia 17 marmitas no almoço, agora vendo 50 e se tivesse como trazer mais, vendia tudo", disse sorridente. E tem motivo: cada marmita lá custa R$ 25, duas vezes mais caro que na cidade.
 
André Romeu / HiperNotícias
Marmiteira do garimpo
Dona Maria e a filha enchem a barriga dos garimpeiros, cobrando o dobro do preço praticado na cidade
 
No comércio do garimpo, a equipe do HiperNotícias ainda encontrou o vendedor Damião Batista. Deficiente físico, ele usa uma perna de pau para caminhar, porém nada tira o sorriso do vendedor. Ele veio de Várzea Grande para garimpar, mas quando se deparou com o lugar de difícil acesso, resolveu ganhar dinheiro como pôde, vendendo fumo, cigarro e bebida. 
 
"Tem 10 dias que estou aqui. Quando eu cheguei, percebi que não tinha como garimpar. Sou deficiente e não tenho como subir. Quando me falaram, me disseram que o garimpo era no raso, mas aqui o sistema é bruto. Por isso comprei fumo, cigarro, cerveja, água, refrigerante e ganho meu pão aqui. Com as mãos abanando não volto", disse o vendedor. 
 
André Romeu / HiperNotícias
Marmiteira do garimpo
Com dificuldades de locomoção, Damião Batista não pode subir a encosta do garimpo, mas decidiu que não ia voltar de mãos vazias
 
No garimpo, a única coisa que tem preço fixo é o ouro. Em Pontes e Lacerda, ninguém compra, mas em Cuiabá eles vendem a quase R$ 130 o grama do metal precioso. Suprimentos, bebidas e cigarros, cada barraca tem seu preço.
 
Por exemplo, uma garrafa de refrigerante que custa até R$ 6,50 em qualquer lugar sai por R$ 17 a 20 na porta do garimpo ou com os vendedores ambulantes. Um litro de água mineral custa R$ 10. Um maço de cigarros custa entre R$ 8 e R$ 10. Uma dose de pinga, uísque ou conhaque –– em copinhos de servir café –– custa R$ 10. E o tradicional espetinho, acompanhado de mandioca e farinha, também está na faixa dos R$ 20. 
 
"Ou você come aqui ou traz de casa. Como a comida de casa pode misturar com a poeira e com as bactérias daqui, eu prefiro comprar. Sorte que já consegui 30 gramas de ouro. Consigo pagar, por enquanto, mas ainda sonho com uma pedra de pelo menos um quilo ou mais", disse um garimpeiro que, assim como muitos, prefere não se identificar. 
 
André Romeu / HiperNotícias
comercio do garimpo
Única coisa com preço fixo no garimpo é o ouro. O resto, cada um cobra o quanto acha melhor
 
Na cidade, os supermercados estão ficando sem alimentos. A multidão de visitantes e curiosos pelo ouro aumentou rapidamente a população do pequeno município de 40 mil habitantes. Gôndolas estão vazias e o que tem pra vender, claro, teve um acréscimo no preço.
 
"Muita gente chegou de uma vez só. Temos comida, pouco, mas temos. Não é caro como dizem, mas tivemos que reajustar", comentou um empresário que estava no garimpo e tem um barranco onde colocou seus funcionários para procurar ouro. 
 
André Romeu / HiperNotícias
garimpo pontes e lacerda
 
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