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06/06/17 às 07:16

Fawcett, um britânico grampeado por aqui

Eduardo Gomes, especial para o Diário de Cuiabá Ilustrado

Edição para ÁguaBoaNews, Clodoeste Kassu

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Antes Spielberg (aquele do ET) e George Lucas. Agora é James Gray. Eles insistem tanto na distorção dos fatos sobre Fawcett, que sua mentira poderá virar verdade, como profetizou Joseph Goebbels. Gary assina A Cidade Perdida - episódio na Serra do Roncador que evapora o coronel britânico Percy Harrison Fawcett, na pele de Charlie Hunnam.

Ao contrário do que sustenta o cinema, Fawcett morreu aos 120 anos em 1987, na sua mina de ouro em Nova Xavantina, rodeado por jagunços, filhos, netos e sob os olhares apaixonados de suas três mulheres.

Impressionante a capacidade da indústria cinematográfica em mudar histórias. Você lê um livro que retrata um episódio, bota o texto na memória até o momento em que vê aquela obra adaptada ao cinema. Porém, a força da imagem e a dramatização quando distorcidas podem revirar seu conceito sobre aquele fato. Enquanto leitor de textos sobre Fawcett, por pouco não me deixei seduzir pelo irreal conteúdo do filme, que leva a chancela de Brad Pit na produção.

A verdadeira história de Fawcett está no livro “O maior grampo do mundo”, que será publicado em Cuiabá, pelo sargento Gonçalo. O autor narra como o governo de Mato Grosso acompanhava os passos de Fawcett por um sofisticado sistema de grampo; ele foi o primeiro estrangeiro grampeado por aqui. Vale ressaltar que Gonçalo mesmo nunca o monitorou. A missão começou em 1925 com o cabo Moraes, na estação telegráfica de General Carneiro e prosseguiu até 1931. No ano seguinte, por indicação de Filinto Müller a arapongagem entrou em sistema de escala de serviço e assim prosseguiu até 1974, quando a escuta foi desviada para os censores da Casa Civil.

Gonçalo conta que em 1962 uma escuta de Fawcett por pouco não cria animosidade diplomática, pois do outro lado da linha, De Gaulle – carne e unha com o britânico – disse, “Le Brésil n’est pas um pays serieux”. O PM graduado observa que as gravações viraram obsessão. Ele acredita que o poder estava tomado por histeria, que se assustava com qualquer muvuca, barulho de gata ou nota da imprensa amiga.

O governo se preocupava atoa. Fawcett não queria o poder. Seu único papel político por aqui foi o financiamento da candidatura de Roberto Campos ao Senado, em 1982, mas por puro gesto de afinidade internacional. O coronel vivia na penumbra, mas guardava mágoa de Valdo Varjão, um cearense esperto feito gato, que se apoderou do seu projeto de construção de um discorporto em Barra do Garças, pois ele sabia das incursões de marcianos por lá. Uma década depois Varjão surgiu como o pai da ideia secundado por Hans Donner.

Seguramente o livro do sargento chegará a 80 exemplares vendidos em Cuiabá, desempenho esse que lhe dará o título de maior tiragem comercial de todos os tempos na cidade. Aguardemos a obra, nem tanto por Fawcett, mas porque precisamos saber mais sobre grampos.

A obra sustenta que o Marechal Rondon nunca se meteu no grampo, muito embora houvesse suspeita sobre sua participação, já que ele e Fawcett disputavam o título de maior explorador. Rondon tinha controle sobre o telégrafo, mas somente usava essa situação quando estava em jogo os interesses do Brasil e o coronel era apenas um enxerido estrangeiro no Araguaia, para mostrar que aquele é o Vale dos Esquecidos. Ou seja, nosso maior herói tem as mãos limpas sobre arapongagem.

Como se vê, tudo tem seu lado bom e ruim. Se não fosse pelos grampos não saberíamos sobre a trajetória de Fawcett. Não critico o governo por sua tradição em ouvir e ele sempre tem o meu alô.

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