Quando eram jovens, os aposentados Epifânio Marques Filho e Coracy Sudária da Mota chegaram a se esbarrar uma ou duas vezes em Trindade, na Região Metropolitana de Goiânia, onde já moravam. As duas famílias se conheciam, no entanto, os dois nunca haviam trocado nenhuma palavra e eram casados com outras pessoas. Mas quis o destino que cerca de cinco décadas depois, ele com 94 anos e ela com 78, ambos viúvos, se encontrassem para construir uma nova união. Sem perder tempo, o casal decidiu ficar noivo logo no primeiro encontro que tiveram.
Foi amor a primeira vista. No primeiro encontro, a pedi em noivado. Não temos tempo a perder"
Epifânio Marques Filho, aposentado
O casal realizou a união no civil no último dia 15 de julho, em Xinguara (PA), onde Epifânio estava vivendo. Eles agora se preparam para a cerimônia religiosa, que será realizada no dia 15 deste mês, em Trindade. Atualmente, os dois moram na casa da aposentada, localizada no Setor Cidade Jardim, em Goiânia.
Antes de saberem que se tornariam marido e mulher, Epifânio e Coracy seguiram rumos bem distintos. Trabalhando com lavrador, ele ficou casado por 68 anos, mas a esposa morreu há seis. Sozinho e com filhos criados, saiu de Guapó, onde nasceu, também na Grande Goiânia, e mudou-se para Xinguara, onde comprou um pedaço de terra.
Já Coracy permaneceu com o ex-marido por 28 anos até se divorciar. Ele faleceu dez anos depois e a aposentada manteve-se viúva por 19 anos. Nessa época, já havia mudado de Buriti Alegre, sua cidade natal, para a capital.
A aproximação dos dois ocorreu quando ambos se sentiram carentes e cansados de viverem sozinhos. Um conhecido em comum ajudou o casal a se aproximar.
"Estava em uma festa e minha filha comentou em tom de brincadeira para uma mulher que eu estava procurando alguém. Por coincidência, essa pessoa era ex-nora do Epifânio, que ainda é muito próxima dele, e também comentou sobre ele. Foi quando ela começou a 'organizar' tudo", conta Coaracy.
Idosos mostram alianças: eles se preparam para união na igreja (Foto: Sílvio Túlio/G1) |
Encontro surpresa
A história foi se desenrolando, e uma viagem do aposentado para Indiara, a 90 km de Goiânia, onde um de seus filho mora, marcou a aproximação do casal. Ele havia se deslocado para uma consulta médica, mas acabou conhecendo a mulher da sua vida.
Ele estava descansando na chácara sem saber que sua ex-nora já havia combinado com Coracy de ir, de ônibus, até lá para conhecer o pretendente. A conversa não poderia ter sido melhor.
"Ela [ex-nora] chegou e disse que tinha uma surpresa e mostrou a Coracy. Conversamos muito e vimos que a gente tinha dado certo. Foi amor à primeira vista. Naquele momento, já fiz o pedido de noivado, afinal, não temos tempo a perder", recorda-se Epifânio.
Após um breve namoro de três meses, os dois embarcaram para Xinguara, onde se casaram no civil. A expectativa agora é pela união na igreja. Ambos irão entrar acompanhados de netos.
'Grande família'
O casamento dos dois deve reunir cerca de 400 pessoas, a maioria parentes que agora vão formar, como eles mesmos dizem, uma "grande família". Epifânio teve 13 filhos - 3 morreram - 36 netos, 40 bisnetos e 5 tataranetos. A atual esposa tem 4 filhos, 10 netos e 1 bisneto.
Epifânio e Coracy durante casamento no civil, em Xinguara (Foto: Arquivo pessoal)
"A gente considera que agora é uma família só. Eu acolhi os entes dele e ele os meus. Todos nos damos muito bem", diz Coracy.
A relação dos dois é pautada por muito carinho e compreensão. Ela o chama de "amor" e ele se desdobra para tentar fazer todas as suas vontades. Exemplo disso é quando questionado sobre onde passarão a lua de mel. "Onde ela escolher eu vou", derrete-se.
André, ainda bebê, com o avô: exemplo
(Foto: Arquivo pessoal)
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Apaixonados, eles trocam juras de amor. "Ela é uma fortuna na minha vida, ganhei na loteria, nunca achei vi defeito nela", elogia Epifânio. "Ele é tudo para mim, nosso amor é muito grande", responde.
Apoio
Parentes dos dois lados ressaltam a felicidade com o casamento. Neto de Epifânio, o administrador de empresas André Saldanha Marques, de 34 anos, disse que todos estão ansiosos com a cerimônia e querem ajudar a fazer uma grande festa para o casal.
"No começo, ficamos meio divididos pelo fato dele se casar nesta idade, mas depois vimos que era uma vontade dele e apoiamos com toda força. Cada um quer fazer uma coisa. Uns vão cuidar da música, outros do cerimonial. Vamos o máximo para dar tudo certo", diz.
Ele faz questão de elogiar o avô e esposa. "Ela já conheceu todo mundo e foi muito bem tratada. Já ele é um exemplo, uma referência. Morei em Xinguara e o ia para a chácara dele todo final de semana. Até brinco com meus primos que sou o neto preferido dele", revela.
Uma das filhas de Coracy, a empreendedora de multinível Marlene Sudária Martins Froes, de 58 anos, também partilha da mesma opinião. "Eles não ficam parados, ninguém tem o fôlego deles. Foi um susto saber do casamento tão rápido, mas como eles disseram, não tem o que pensar na condição deles", pontua.
Casal se reencontrou após ambos ficarem viúvos (Foto: Sílvio Túlio/G1)