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09/01/17 às 09:22 / Atualizada: 09/01/17 às 09:39

Casos de AVC entre jovens são alertas para risco real

Keka Werneck, redação A Gazeta

Edição para Água Boa News, Clodoeste Kassu

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Casos de AVC entre jovens são alertas para risco real

Fernanda tinha má formação e não sabia

Foto: Facebook

Pelo menos três casos de AVC na juventude chamaram a atenção em Mato Grosso nos últimos meses e alertam para um problema que não ocorrem somente com pessoas mais velhas. Adolescentes e até crianças também podem sofrer Acidente Vascular Cerebral.
 
O caso mais recente foi o da adolescente Fernanda Schock, 14, moradora de Cáceres (225 quilômetros a Oeste de Cuiabá). Ela morreu, dia 1º deste ano, dentro de um avião, em São Paulo, quando viajava a caminho de Joinville (SC), para passar os primeiros momentos de 2017 com um irmão. Foi socorrida pelos passageiros e tripulação da aeronave, mas não resistiu. Faleceu quando o avião estava no ar.
 
Os médicos informaram à família que ela tinha uma má formação de nascença na estrutura venal do cérebro. Quando é assim, um derrame pode ocorrer a qualquer momento, causando óbito ou sequelas.
 
Fernanda era goleira da escola onde estudava, o Centro de Educação Anália Franco (CEAF), e a morte dela causou muita comoção na cidade.
 

Médicos ainda não sabem o que causou AVC em Katinayane - Foto: arquivo pessoal

 
Outra que sofreu um AVC ainda jovem é a estudante Katinayane Jaine da Silva Zolin, 19, de Várzea Grande. Ela passou mal dia 1 de novembro do ano passado, dias antes de fazer o Enem, com foco em Medicina. A moça ficou em coma internada no Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá, entre a vida e a morte.Foi transferida para o Hospital Universitário Júlio Muller, teve significativa melhora, saiu da UTI e já recebeu alta, último dia 30 de dezembro, para surpresa de familiares e da equipe médica. Vai ter que trabalhar as sequelas: dificuldade motora, paralisia facial, além da vivência traumatizante.

A mãe dela laboratorista Vilma Aparecida da Silva, 45, acredita que a resistência da filha é um milagre. Na época em que ela passou mal, cogitou-se que o AVC seria decorrente do estresse pré-Enem. “Mas até hoje não sabemos exatamente o que provocou o AVC na minha filha, será preciso investigar”, diz a mãe.
 

Caso de Rodrigo está sendo investigado - Divulgação
 
O AVC de Rodrigo Patrício Lima Claro, 21, ocorreu em situação ainda mais extrema. Ele passava por treinamento na água, dia 15 de novembro do ano passado, para entrar definitivamente no Corpo de Bombeiros, após ser aprovado em concurso público para alegria de seus familiares. A tenente Isadora Ledur é acusada de humilhar o rapaz forçando-o a continuar no treino na Lagoa Trevisan ao ponto dele passar mal. Ele morreu à noite do mesmo dia.

A família de Rodrigo, que ainda não teve aceso ao laudo de necropsia até hoje, acredita que o AVC tenha sido provocado pela tortura.

Neurologia

O neurologista e neurocirurgião de Cuiabá, Giovani Mendes Ferreira, afirma que os casos de AVC entre jovens e até crianças são mais comuns do que se imagina, mas não são frequentes, nem também, por outro lado, raros.

Ele explica que a expressão AVC é muito ampla, no sentido que pode conceituar uma série de fenômenos anormais que ocorrem no cérebro. Explica também que, nos mais velhos, o colesterol alto e a hipertensão são os grandes potencializadores desses acidentes.

Na juventude, outros fatores contam mais, como uso de cigarro, bebida e anticoncepcionais, assim como as más formações desconhecidas previamente.

O médico salienta que os tipos de AVC são dois: esquêmico e hemorrágico. O esquêmico, segundo ele, se dá quando ocorre a obstrução de uma artéria, impedindo a passagem de oxigê- nio para as células cerebrais, que morrem. Já no hemorrágico há derramamento de sangue. Ele afirma que, em um caso ou outro, pacientes mais jovens têm mais chances de sobreviver e se recuperarem das possíveis sequelas, podendo inclusive não sofrê-las. “Isso depende muito da área cerebral atingida”, ressalta.

Especialista em acidentes vasculares, Giovani Mendes Ferreira afirma ainda que sempre é possível identificar as causas do AVC e entre elas estão as doenças hematológicas, como o lupus e outras.

O médico avisa que tem como evitar um AVC em qualquer idade, com comportamentos preventivos. “Cortar cigarro e bebidas alcoólicas, principalmente associados. Fazer exercícios físicos, se alimentar bem”, detalha. “Uma pessoa que tem uma qualidade de vida boa e fazer exercícios físicos não deve se preocupar com isso”, garante. Ressalta que, no caso de Fernanda, por exemplo, que morreu aos 14 anos, durante voo, dentro do avião de São Paulo para Joinville (SC), a pressurização da cabine pode ter favorecido o acidente vascular. Ela tinha má formação arterial.

O médico diz ainda que é grande o leque de causas de um AVC e que outra forma de evitá-lo é cuidando bem da saúde cardíaca.

Dados oficiais

A política Nacional da Juventude do Ministério da Saúde considera jovens pessoas até 29 anos. Nesta faixa etária, de acordo com dados oficiais da Secretaria de Estado de Saúde (SES), duas pessoas morreram de AVC em Mato Grosso em 2016, sendo uma delas menor de 20 anos e a outra maior. Outros casos ainda podem ser informados e inclusos nas estatísticas assim que notificados.

Além disso, 82 pacientes jovens ficaram internados em decorrências de doenças vasculares cerebrais. A epidemiologista Tânia Rosário, do setor de Doenças e Agravos não Transmissíveis da SES, entende que estes casos são muito mais raros do que os que atingem pessoas adultas e idosas.
“A primeira causa de morte em Mato Grosso são doenças do aparelho circulatório e uma delas é o AVC”, ressalta. “Mulheres são as vítimas preferenciais”. Ela lamenta que estatística nacional mostre o mato-grossense em desvantagem com relação aos demais brasileiros. “A média nacional de idade em que iniciam as mortes por doenças circulatórias no país é 40 anos. Em Mato Grosso, esse limite mórbido cai para 20”.

Segundo o Ministério da Saúde, a cada 5 minutos um brasileiro morre em decorrência do AVC, contabilizando mais de 100 mil mortes por ano. No mundo, são seis milhões de óbitos. Na população adulta, hipertensão, colesterol, tabagismo e sedentarismo são os vilões do AVC. Os principais sintomas sentidos são formigamento ou fraqueza em um dos lados do corpo, súbita dificuldade para falar, enxergar e andar; perda súbita do equilí- brio, súbita dor de cabe- ça explosiva sem causa aparente e vertigem. O atendimento imediato é fundamental para a sobrevivência do paciente.

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