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05/09/16 às 10:28 / Atualizada: 05/09/16 às 12:31

RISCO - Crise ameaça mais 7 frigoríficos em MT

A Gazeta

Edição para Agua Boa News, Michel Franck

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RISCO - Crise ameaça mais 7 frigoríficos em MT

Foto: Divulgação

Mato Grosso possui o maior rebanho bovino comercial do Brasil, com 29 milhões de cabeças, mas segue com 21 indústrias habilitadas à exportação desativadas. Conforme o setor industrial, outras 7 unidades correm o risco de ser paralisadas. Atualmente, as 23 plantas aptas a exportar carne bovina e que possuem capacidade para abater 23,791 mil animais por dia ou 589,402 mil bovinos ao mês utilizam 69,04% desse potencial. 

Em 2015, o aproveitamento era de 71,38% nas unidades em operação, conforme diagnóstico do Sindicato das Indústrias Frigoríficas de Mato Grosso (Sindifrigo). Forçados a se ajustarem à sazonalidade do ciclo natural da pecuária, que em 2015 transcorreu com menor disponibilidade de bezerros, decorrente do abate elevado de fêmeas a partir de 2010, os frigoríficos são duplamente esvaziados com a atual baixa oferta de boi gordo e com a saída de bovinos vivos do Estado, aponta o vice-presidente do Sindifrigo, Paulo Bellincanta. 

A situação, debatida com o Executivo estadual há mais de 1 ano, voltou à pauta durante reunião de representantes do setor com o governador Pedro Taques (PSDB) na última quinta-feira (31). “Pedimos para o governador o aumento (de 7%) para 12% na alíquota do ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) cobrado em toda saída de gado (do Estado). Para proteger a indústria, que pode entrar em dificuldade por falta de matéria-prima, uma vez que os estados de Goiás, Mato Grosso do Sul e Pará já cobram 12%”, expõe Bellincanta.
 
O receio é que com a alíquota menor em Mato Grosso, a procura externa pelo gado mato-grossense aumente, provocando efeito contrário na oferta interna de animais para a indústria local. “Agravaria ainda mais uma situação que já é crítica”, avalia o vice-presidente do Sindifrigo. 

Conforme ele, Taques orientou o secretário de Fazenda (Seneri Paludo) a reunir todos os agentes ligados à cadeia produtiva da pecuária para dialogarem até chegarem a um denominador comum. O cenário atual vivenciado pelo setor é ilustrado com uma série de números.  Ao governador foi apresentada a perda na arrecadação decorrente da saída do boi em pé a outros estados. Em 2015 foram retirados de Mato Grosso 49,128 mil bovinos, que foram abatidos em outros frigoríficos do país. 

Este ano, a média mensal até julho alcança 55,325 mil animais abatidos fora do Estado. Somente em julho, 83,317 mil bovinos deixaram Mato Grosso com destino a outros estados. “Esse número permite manter operante 7 indústrias no Estado. Se os animais tirados daqui estivessem sendo retidos teríamos no 1º mês acréscimo de 26,244 mil animais e utilização de 71,42% da capacidade industrial”, compara Bellicanta. 

Para os meses subsequentes, ele calcula adição mensal de 83,317 mil animais e uso de 83,17% da capacidade frigorífica, tornando viável o retorno operacional de plantas paralisadas. Outro aspecto destacado pelo Sindifrigo é a ampliação da contratação de mão de obra com o incremento interno no volume de abates. 

Com a saída mensal de 55,325 mil bovinos do Estado, em média, 7 indústrias deixam de funcionar e, por consequência, de ocupar 4,5 mil trabalhadores diretamente e outros 13,5 mil indiretos. Com a cobrança de 7% e não 12% de ICMS na saída de bovinos para abate fora, Mato Grosso deixará de arrecadar este ano R$ 70,196 milhões, projeta o Sindifrigo. 

Com a alíquota menor serão recolhidos R$ 98,275 milhões, quantia que poderia chegar a R$ 168,471 milhões. Em 2015, o governo arrecadou R$ 87,629 milhões com a incidência de ICMS nas operações interestaduais de venda de bovinos, mas teria recolhido R$ 62,592 milhões a mais com alíquota de 12%.

Além disso, a arrecadação do imposto estadual no último ano foi inferior à de 2013 (R$ 95,631 milhões) e que poderia ter sido ainda maior com a adição de R$ 68,308 milhões com a manutenção da alíquota em 12%.No 2º semestre de 2015, o governo do Estado atendeu reivindicação do segmento frigorífico e igualou em 2% a cobrança do ICMS incidente sobre a carne bovina, já que algumas indústrias recolhiam 7% e outras 3%. 

Desde então, a elevação da alíquota de 7% para 12% nas operações de venda do gado para abate em outros estados está sob análise. Para o presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), José João Bernardes, a defasagem nos preço da arroba do boi entre Mato Grosso e São Paulo -considerada a praça-referência pela presença da Bolsa de Valores - é muito grande. O motivo justifica a saída de animais para abate fora do Estado. Ou seja, se a indústria deseja comprar mais precisa remunerar melhor ao pecuarista. “Se pagando 7% de imposto -além do frete - os frigoríficos de fora vêm comprar aqui é porque o preço da arroba está muito baixo”.

Bernardes acrescenta que algumas regiões do Estado, como a noroeste, dispõem de abundante oferta de matéria-prima. Ainda assim há muitas indústrias frigoríficas paralisadas.
 
PREÇO - Esta semana, o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) destacou em seu boletim a dificuldade dos frigoríficos em preencher a escala de abates por cauda da baixa oferta de bovinos. A estiagem que afeta as pastagens também prejudicou culturas agrícolas, como o milho, e comprometeu a engorda dos animais com a elevação do custo, afetando assim o planejamento para este 2º semestre. Ainda assim, o preço da arroba do boi gordo atingiu R$ 130,37, com desvalorização semanal de 0,07%.

 A queda é motivada pela diminuição no consumo, que dificulta a recuperação dos preços. Em São Paulo, a arroba do boi alcança até R$ 150 no preço à vista em algumas localidades. “A diferença (no preço da arroba) entre São Paulo e Mato Grosso fica em torno de R$ 20. No entanto, se (a diferença no preço pago em Mato Grosso) fosse só em função de taxas e frete, essa discrepância deveria ser menor e os frigoríficos daqui deveriam remunerar melhor”, avalia o gerente de projetos da Acrimat, Fábio da Silva. 

EXPORTAÇÃO - São Paulo também detém maior market share no saldo das exportações de carne bovina. Enquanto o estado paulista embarcou 256,950 mil toneladas de carne bovina, Mato Grosso enviou 162,490 mil toneladas este ano, até julho. “São Paulo tem pouco rebanho e compra muito (gado) de outros estados para abater lá, por isso aparece uma exportação maior, além da vantagem de proximidade com os portos”, diz Silva. Além disso, São Paulo mantém muitas plantas habilitadas a exportar, diferentemente de Mato Grosso.

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  • por Geser, em 06/09/16 às 10:38

    Em vez de aumentar os impostos, por que não remuneram melhor o pecuárista e o caminhoneiro? Só querem vem a nós

 
 
 
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