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19/08/16 às 22:48

Portas abertas ao prefeito, mas sem cabresto

Eduardo Gomes / Diário de Cuiabá

Edição para Agua Boa News, Michel Franck

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Currículo é apresentação rotular do candidato. Perfil é mostrá-lo sem a maquiagem do marketing eleitoral. No primeiro item Emanuel Pinheiro é irretocável. O outro, aqui apresentado, será avaliado pelo eleitor, que tem a palavra final sobre o futuro administrativo de Cuiabá.

Na Assembleia Legislativa, Emanuel sempre foi governista até a posse do governador Pedro Taques (PSDB), com o qual faz enfrentamento. Seu posicionamento em defesa do pagamento imediato – retroativo a maio, a data-base da categoria - e integral da Revisão Geral Anual (RGA) do servidor público revelou um deputado diferente daquele que sempre foi.

De origem política na Aliança Renovadora Nacional (Arena), o partido de sustentação do regime militar e no qual militou seu pai, Emanuel passou pelas sucessivas nomenclaturas que aquela sigla recebeu. Em 2006 saltou para o PR do então governador Blairo Maggi e juntamente com o então secretário de Estado Pedro Nadaf, passou a cuidar da estrutura partidária, além de participar ativamente da campanha à reeleição de Blairo. Emanuel era o secretário-geral e Nadaf, o tesoureiro do partido. Quatro anos depois se elegeu deputado estadual e no parlamento integrou a base de sustentação do governador Silval Barbosa, que chegou ao cargo em 31 de março de 2010 com a desincompatibilização de Blairo, que deixou o Palácio Paiaguás para disputar e vencer a eleição ao Senado.

No governo Silval, Emanuel foi defensor do projeto Copa do Mundo e ele não nega, mas observa que brigava por Cuiabá, porque o Mundial levaria o governo federal a investir R$ 4 bilhões no aglomerado urbano. Sobre o gerenciamento das obras da Copa enche o peito de orgulho ao revelar que foi o autor do projeto que extinguiu a Agencia da Copa (Agecopa) e criou a Secretaria da Copa (Secopa). Quanto a eventuais desvios, lava as mãos, “o TCE tinha uma saleta na Secopa para acompanhar tudo em tempo real; tinha em mãos todas as planilhas...”, se isenta. Mais: diz que não é técnico e que seu apoio foi político e “se alguém roubou, não importa se é governador ou secretário, que pague inclusive com a privação da liberdade”.

Em 2014 à frente da maior bancada partidária estadual, quando os republicanos eram grande força política mato-grossense, Emanuel foi um dos estrategistas do recuo republicano na disputa ao governo. O ex-prefeito de Água Boa, Maurício Tonhá, colocou seu nome à disputa, mas o PR o desqualificou. Sem cabeça de chapa o partido ficou amorfo.

Emanuel não mantém vínculos com Silval, que está preso acusado de chefiar um esquema criminoso em seu governo. O ex-governador é carta fora do baralho. A grande incógnita nos meios políticos é sobre o cacique peemedebista, que controla o partido desde sua fundação, o deputado federal Carlos Bezerra. Mato Grosso sabe que Bezerra dá as cartas nos mandatos de seus correligionários. Sobre isso, Emanuel se arrepia, quase chega à urticária, “ninguém põe cabresto em Emanuel Pinheiro; minha independência é inegociável, sou firme de personalidade”. Mais adiante, após refletir e mesmo sem ser questionado, acrescenta que só recebe cabresto do povo cuiabano, ao qual sempre serviu e pretende continuar servindo.

Independência total em relação a Bezerra não significa rompimento. Emanuel sabe a força do cacique e que o PMDB é uma espécie de feudo político estadual, que em Mato Grosso reza pela cartilha do cacique. Candidato num universo com 415 mil eleitores ele não pode espalhar brasas e precisa de paciência para ajuntar cacos sempre que se fizer necessário. Se Dilma Rousseff for defenestrada no Senado, em setembro Bezerra trará Temer a Mato Grosso.

A agenda oficial de Temer é a titulação de 1.030 parcelas de um assentamento do Incra na Gleba Mercedes, em Tabaporã, mas no fundo, o presidente virá para uma injeção da candidatura do correligionário.

Na visita de Temer o PMDB entregará seu cartão de visitas ao eleitor. Nele, o endereço do transporte público do amanhã: o VLT. Isso mesmo. O compromisso de concluir os 23 quilômetros do Veículo Leve sobre Trilhos nos dois lados da ponte, somado à palavra empenhada para levar adiante a obra do Hospital Universitário da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e cortar sua fita inaugural o mais breve possível darão fôlego a Emanuel.

Não se deve desconsiderar que o PMDB é partido muito forte no governo federal desde a redemocratização. Essa força falta ao prefeito Mauro Mendes (PSB). Mauro tem apoio na Câmara Municipal, Assembleia Legislativa, na bancada federal e no governo estadual, mas não é peemedebista, situação que pode até não prejudicar, mas em compensação não ajuda a abrir portas.

Mesmo com o apoio que tem e sem sofrer pressões do Ministério Público Estadual, da Procuradoria Geral da República e do Tribunal de Contas do Estado, Mauro não conseguiu dar o salto administrativo que Cuiabá precisa para melhorar a qualidade de vida de sua população e ganhar novos ares urbanísticos antes do seu tricentenário que se avizinha.

Numa visão ampliada, se Emanuel administrasse Cuiabá com as bênçãos do presidente da República e de seu PMDB seria o melhor dos mundos. Resta saber quem daria as cartas nesse universo, mas sem deixar de levar em conta que nesse caso o prefeito não aceita cabresto.

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