Quem passa na estrada que sai do bairro Deus Amor, no setor Xavantina, a vai para a região do Murtinho, passando pelas chácaras que formam o chamado cinturão verde da cidade, não acredita que aquela área hoje de pastagens, cercada e devastada pela retirada de saibro, já foi um dos pontos turísticos mais tradicionais de Nova Xavantina: a Lagoa do Saibro, como era conhecida.
Objeto de estudos e trabalhos científicos em nossas escolas e na UNEMAT, a enorme lagoa que se formava no local, fruto de uma das nascentes da bacia do Córrego Murtinho, era o ponto turístico das famílias de moradores no início dos anos 80, que para lá se dirigiam nas horas de folga, para banhar-se em suas águas escuras e (para os turistas) ameaçadoras, de onde, no imaginário popular, vinha a certeza de morar inúmeros jacarés e crocodilos em suas profundezas.
De fato, segundo os pesquisadores, jacarés lá existiam, além de uma riqueza enorme de plantas nativas, espécie de viveiro natural de toda a variedade do ecossistema do cerrado e da bacia do Córrego Murtinho, que forma com os Córregos Salgadinho, Antártico e do Estilac, o conjunto hidrográfico que serve a nossa cidade, e deságua no Rio das Mortes.
"PROGRESSO" E MORTE
No entanto, com o passar do tempo, o paraíso perdido dos nova xavantinenses -um dos-, foi tendo que enfrentar a ação dos homens em seu imenso afã de progresso, e perdeu a briga ou está perdendo. Tudo começou com a retirada desmesurada do saibro que forma o seu solo e a sua redondeza, provocando enormes buracos laterais que lhe assorearam o leito.
Ainda assim, ela sobreviveu, e nas épocas da chuva crescia exuberante, saltava do leito e cobria toda a estradinha que lhe atravessava, numa feliz e bonita paralisação do tráfego por poucos dias, durante o período, depois tudo voltava ao normal. Hoje, com esta escassez de água e de chuva, é até nostálgico lembrar desse tempo.
Por esta razão, por esses poucos dias de paralisação do tráfego durante as chuvas, veio o segundo motivo de sua morte: o levantamento da estradinha, transformando-a numa estrada de fato, como é hoje, incompatível com as "enchentes". Foi feito um escoadouro, no cantinho da lagoa, que, sorrateiro e furtivamente, esgotou a sua água, para não cobrir a estrada, gota por gota.
Até que, esgotada e exaurida de sua potencialidade máxima, de sua vitalidade maior; a mina secou, a nascente morreu, e seu terreno passou a servir de pastagem para o gado, recebeu cercas para demarcar propriedades, e, diante da seca -que ironia-, recebeu uma pequena represa para o gado beber água.
Há possibilidade de recuperação da lagoa? Segundo os estudiosos sim, a partir de um reflorestamento da mata ciliar da nascente, do fim das pastagens no local e de uma série de medidas ambientais que possam fazer irrigar novamente o lençol freático da Lagoa do Saibro. Para isso, o município conta com o préstimo inestimável de alunos e professores do curso superior de Ciências Biológicas do Campus da UNEMAT local.
Torcemos para que esse trabalho um dia possa ser realizado, para gáudio da geração de nossos netos e bisnetos.
Veja como era a lagoa, já com cerca de demarcação de propriedades, e como ela está hoje: