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15/06/16 às 18:16

Rede de Sementes do Xingu realiza Formação de Coletores Especialistas

Eles formarão coletores em seus grupos de coleta e auxiliarão na identificação de espécies ainda desconhecidas

Por Rafael Govari – ISA

AGUA BOA NEWS

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Rede de Sementes do Xingu realiza Formação de Coletores Especialistas

Oficina teve cerca de 30 participantes

Foto: Rafael Govari – ISA

A Rede de Sementes do Xingu, mais do que uma rede de coleta, forma coletores com conhecimento da flora do Cerrado e da Amazônia. Para tanto, a Rede e o ISA (Instituto Socioambiental), se uniram com a Unemat e realizaram no mês de junho (03, 04 e 05) no campus de Nova Xavantina-MT, a I Formação de Coletores Especialistas.

Nesta primeira etapa o principal objetivo foi ajudar os coletores da Rede a identificar melhor as espécies de plantas nativas da região. Como resultado imediato acredita-se que os coletores poderão melhorar a precisão da identificação botânica das espécies que produzem. Isso também melhora a segurança para o comprador, diminuindo as possibilidades de chegarem sementes de espécies diferentes com um mesmo nome popular.

“Será uma formação continuada. Neste primeiro módulo a gente está focando na identificação das espécies. Vamos formar eles aqui e depois eles irão formar os coletores do seu grupo. No próximo módulo nós podemos escolher outro tema, que pode ser a secagem das sementes, por exemplo”, explicou o consultor do ISA Eduardo Malta. As próximas formações devem aprofundar os conhecimentos em identificação botânica e qualidade das sementes.

A professora de botânica da Unemat do campus de Nova Xavantina-MT, Beatriz Schwantes Marimon, disse que a identificação não é fácil. Muitos especialistas dedicam a vida toda em pesquisar as características de uma determinada família botânica. Imagina então saber identificar centenas de espécies coletadas pela Rede! “O que a gente fez foi passar uma visão dos aspectos que são importantes na hora de identificar uma planta, quais partes merecem atenção, para aos poucos irem percebendo as diferenças”, explicou.

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Beatriz Schwantes Marimon. Foto: Rafael Govari – ISA
 
Para a comunicação no dia a dia, foi criado um grupo no WhatsApp para que os coletores possam enviar fotos de espécies que eles têm dúvidas. No mesmo grupo, estão especialistas que ajudarão na identificação. “Durante essa formação também foi trabalhado quais características botânicas são importantes visualizar e mostrar em uma foto, como casca, tronco, folha, flor, fruto e semente”, disse o técnico do ISA Guilherme Pompiano.

A coletora residente em Canarana, Herta Ehrleich, elogiou o curso: “Gostei muito porque tem muitas sementes que a gente não conhece e aqui estou aprendendo a identificá-las. Esse é um dos melhores cursos que já fiz até hoje. Aprendi, por exemplo, que as sementes da copaíba do mato e do cerrado são idênticas, mas o que as diferenciam é a árvore”.

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Herta Ehrleich. Foto: Rafael Govari – ISA
 
Assentada do PA Macife II em Bom Jesus do Araguaia, dona Odete Severino Barbosa quer aumentar sua produção de sementes: “Eu trouxe num caderno, folhas de árvores que a gente não conhece. Na minha terra tem um bocado de árvore que dá um mundo de semente que a gente não conhece. Agora que estou aprendendo vou poder aumentar a coleta”.

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Dona Odete Severino Barbosa. Foto: Rafael Govari – ISA
 
Durante as atividades da oficina, foram surgindo pautas diferentes e os coletores apresentaram dúvidas que enfrentam no dia a dia. A diretora da Rede, Cláudia Araújo, disse que os participantes levantaram a pauta de algumas sementes que eles não conseguem germinar. “Por exemplo, a embaúba e a gameleira eles não estão conseguindo fazer germinar e apresentaram isso aos professores da Unemat, que irão ajudar a gente nesse aspecto”, explicou.

Novas espécies

Especialistas em botânica afirmam que o Cerrado tem em torno de 12 mil espécies de plantas identificadas e que o número de espécies ainda não identificadas seria de mais 12 mil. Tudo o que é desconhecido, as pessoas não dão importância e costumam deixar de lado, ou até mesmo destroem. Mas quando se conhece, o resultado é bem diferente.

Se o curso ajuda os coletores a identificar as espécies e possibilita uma coleta de mais sementes e mais garantia ao produto, difundir o conhecimento da flora local também auxilia na conservação da nossa biodiversidade. Mas não é só isso. A professora Beatriz Schwantes acredita também que os coletores poderão ajudar no descobrimento de novas espécies.

“Os coletores, agora, vão sair com os olhos um pouquinho diferente daqui e quando forem olhar a planta, verão detalhes diferentes e, fotografando, os especialistas podem descobrir que essa é uma espécie nova. E o descobridor pode ser um coletor da Rede, tranquilamente, porque são eles que estão lá no dia a dia”, disse a professora Beatriz Schwantes, que defende que o domínio da flora local não pode ser um privilégio dos cientistas, porque é um patrimônio de todos os brasileiros.

Números

Em 2015, foram comercializadas 17 toneladas de sementes florestais de 120 espécies por 420 coletores da Rede de Sementes do Xingu.

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Prática de identificação botânica com material herborizado. Foto: Guilherme Pompiano – ISA

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Prática de identificação botânica com material herborizado. Foto: Cleiton Marcelino – ISA

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Prática de identificação botânica em campo. Foto: Maísa Nunes – Responsável da Casa Sementes de Porto Alegre do Norte

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Coletores explicam o que foi aprendido durante a oficina. Foto: Foto Beatriz Schwantes Marimon

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Coletora Odete observando as estruturas de uma folha com a lupa. Foto: Guilherme Pompiano – ISA

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Coletores confeccionando ‘mini herbário’ das espécies trabalhadas na Rede. Foto: Guilherme Pompiano – ISA

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