Notícias / Meio Ambiente

10/06/16 às 15:09

Selo Origens Brasil® permite ao consumidor conhecer a história de cada produto da floresta

Rafael Govari – ISA com informações do Imaflora

AGUA BOA NEWS

Imprimir Enviar para um amigo
Selo Origens Brasil® permite ao consumidor conhecer a história de cada produto da floresta

Foto: Marcelo Salazar – ISA

Usando um celular para escanear um código inserido no selo junto à embalagem, o consumidor pode conhecer informações do produtor, de sua cultura, do território onde vive, da forma de produção e da comercialização do produto, uma iniciativa que ajuda os consumidores a identificar empresas e produtos que valorizam e respeitam, em suas práticas comerciais, os Territórios de Diversidade Socioambiental, como o Xingu

As pessoas que vivem na cidade e compram os produtos que vêm da floresta, muitas vezes, não conhecem a história dos produtos que compram. Não sabem quem colheu e nem onde moram. Não sabem se aquele produto ajuda, ou não, a conservar a floresta e qual a relação dessa floresta com seu bem-viver na cidade. Mas o consumidor quer, cada vez mais, ter informações confiáveis sobre o produto que comprou. Conhecer essas histórias e entender essas relações ajudam a valorizar os produtos, aumentam a consciência de consumo e remuneram melhor as populações tradicionais e os povos indígenas que vivem na floresta.

Os sistemas de certificação convencionais, geralmente não estão adaptados às realidades das populações tradicionais e dos povos indígenas. São elas, através de seus modos de vida e produção, que ajudam a manter o inestimável patrimônio socioambiental que pertence a toda sociedade brasileira. Convencidos desta necessidade, um conjunto de instituições com larga experiência no trabalho com estas populações, reuniu-se em torno da criação da Iniciativa de valorização dos territórios de diversidade, intitulada Origens Brasil®.

“O brasileiro pouco conhece ou nada conhece de suas populações originais. Se você não tem gente que precise utilizar a floresta, a floresta deixa de ter valor. A forma da gente conservar não é desconectar o ser humano da floresta, na verdade é conectar mais o ser humano à floresta. O mesmo ser humano que é o vetor da destruição, é o vetor da conservação”, disse Tasso Azevedo, empreendedor social em sustentabilidade, floresta e Clima e membro do Conselho Gestor do Origens Brasil®.

Valoriza os produtos, as pessoas e o território

2O Origens Brasil® é um selo que ajuda a valorizar os produtos, os territórios e as pessoas que neles vivem. Com o selo do Origens Brasil®, qualquer pessoa, com um celular ou computador, pode ter informações e conhecera história do produto, saber quem produziu, de onde veio, a cultura desses povos e como foi feita a comercialização.

O selo garante origem e rastreabilidade (permite saber de onde veio a produção, as pessoas envolvidas na produção e para quem foi vendido), conservação (garante que a produção foi extraída ou produzida, de forma tradicional, de modo a conservar a floresta); e comercialização ética (significa que a comercialização dos produtos foi feita de forma a respeitar e valorizar o modo de vida das comunidades e dos indígenas, feitas com diálogo entre empresas e comunidades e com pagamento de preço justo).

“O Origens Brasil® quer conectar os moradores das grandes cidades, sobretudo do sudeste do País, com esse grande corredor [Xingu]. É uma plataforma solidária entre as pessoas da cidade e essas populações que moram e que mantêm essa floresta viva”, disse André Villas-Bôas, secretário executivo do ISA (Instituto Socioambiental) e membro do Conselho Gestor do Origens Brasil®.

“O consumidor tem um papel importante nessa cadeia. Ao escolher um produto na prateleira ele está impulsionando uma cadeia que está por trás disso. Valorizar esses produtos da floresta, torná-los atrativos do ponto de vista financeiro, você vai dar uma alternativa para que eles voltem para seus territórios, permaneçam em seus territórios, vivendo daquilo que eles gostam e sabem fazer e de uma maneira positiva. Por isso que eu falo que esses povos são os verdadeiros guardiões da floresta”, falou Patrícia Cota Gomes, coordenadora da iniciativa no Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola).

“Pra mim valorizar a sociobiodiversidade é isso, é valorizar esse conhecimento, é valorizar essas pessoas, essa cultura que a gente pouco conhece, curtir isso, o brasileiro, como um valor”, falou Tasso Azevedo.

“A gente fica feliz que esse produto também conta um pouco da nossa história, também conta um pouco da nossa região”, disse Winti Suya, liderança do povo Kisêdjê que habita o Parque Indígena do Xingu (PIX) no Mato Grosso e que produz o mel que leva o selo do Origens Brasil®.

Como funciona o sistema

As instituições coletam, em campo, informações do produtor, da produção e da comercialização, pelo celular ou tablet. Em seguida, envia esses dados pela internet para uma “Plataforma” que armazena essas informações. A Plataforma do Origens Brasil® recebe, analisa e devolve para as comunidades as informações enviadas. Presente no logotipo, a tecnologia do QR Code leva o consumidor com um celular ou tablet a conhecer mais sobre o produto.

Ela foi desenvolvida para funcionar nas diferentes realidades das comunidades e dos indígenas, que trabalham com vários produtos (castanha, mel, artesanato, copaíba), com várias medidas (quilos, hectolitro, caixa, litros, sacas) e que possuem diferentes formas de organização da produção (grupo e individual).

“O consumidor, ao pegar um pote de mel como esse, que ele encontre uma etiqueta como essa, que ao escanear ele seja levado para uma viagem para o Xingu. Essa viagem vai começar com pequenas informações, começa com o produto, ele vai conhecer mais sobre o mel, ele vai saber como esse mel é produzido, como as populações se relacionam com esse mel, depois vai aparecer a foto de um dos produtores que colheram esse mel, quantos anos ele tem, em que aldeia ele vive, qual a sua etnia. Depois a gente vai subindo e a gente vai chegar até o território”, explicou Patrícia Cota Gomes.

Manual_Funcionamento_OrigensBrasil_2016Produtos e território

Podem conter o selo do Origens Brasil® desde produtos do extrativismo (óleos vegetais, resinas, sementes, frutos, folhas, exsudatos, raízes); quanto produtos agroextrativista de roças tradicionais (farinha, pimenta, amendoim, mel); e até produtos da cultura (cestaria, grafismos, desenhos estampados em objetos, peças devestuários, bijuterias). Não entram no Origens Brasil® neste momento madeira, pescado, pecuária, produtos agrícolas de roças não tradicionais.

A iniciativa começou pelo Território de Diversidade Socioambiental do Xingu, nos estados do Mato Grosso e do Pará. As características que levaram o Xingu a ser o primeiro incluído foi o fato de abrigar um conjunto de Áreas Protegidas interligadas, de grande dimensão e com alta diversidade socioambiental. Esse imenso território abriga a Bacia do Xingu, uma das mais importantes bacias hidrográficas do país, tanto pela sua dimensão (51,1 milhões de hectares), quanto pela sua diversidade socioambiental.

“26 povos, 26 línguas, todas as paisagens entre o Cerrado e a Floresta Amazônica, tem uma biodiversidade fantástica, uma sociobiodiversidade no coração do Brasil”, falou André Villas-Bôas. “Se você pegar as imagens de desmatamento na Amazônia nos últimos 10 anos, você vai ver o desmatamento vindo, a cada ano vai ficando tudo pintado de vermelho, e o que barra esse desmatamento? Esse corredor de áreas protegidas, que é o nosso Xingu”, falou Patrícia Cota Gomes.
Estruturado para ser aplicado em diversos territórios, com o objetivo de ganhar escala e impactar de forma positiva um maior número de pessoas, o selo, que se inicia com o Território do Xingu, será ampliado, em breve, para outros territórios no Brasil.

Imagem – Imaflora
3Mercado paga mais pelos produtos da floresta

A empresa Mercur, por exemplo, que atua no segmento de borracha, compra látex dos extrativistas da Terra do Meio no Pará. As comunidades se comprometeram em entregar um produto de qualidade, respeitando o modo de vida tradicional e, em contrapartida, o valor do quilo pago pelo látex pela empresa quase triplicou. Sem a pressão por volume, os extrativistas podem dividir o tempo com outras atividades, além de proteger o território de invasores e do corte ilegal de madeira.

Conforme Jorge Hoelzel Neto, da Mercur, em pouco tempo toda a humanidade terá que pagar pelo serviço socioambiental das florestas: “A gente só tá começando um pouquinho antes. Esta é a vantagem, de estar experimentando uma coisa que no futuro não muito longe, todo mundo vai ter que experimentar, e vai ter uma continha para pagar, assim como a gente paga a conta da luz, a conta da água”, avalia.

Protocolo Comercial Comunitário

Um documento chamado de Protocolo Comercial Comunitário norteia as relações comerciais entre empresas e comunidades tradicionais. Em cada comunidade o protocolo tem ajudado a estabelecer caminhos para uma economia que tem na floresta em pé e nos modos de vida tradicionais o seu principal valor. “Essa relação ética entre as empresas e a comunidade, com balanço e equilíbrio de forças, se traduziu num documento que a gente chamou de protocolo comunitário”, explicou Helga Yamaki do Imaflora.

“É interessante comunidades amazônicas expressarem como gostariam de se relacionar com empresas e, a partir daí, empresas interessadas em se relacionar com comunidades em bases definidas por elas, podem iniciar uma relação. O que acontece hoje, em grande parte dos casos, é que as comunidades ficam tentando muitas vezes sem sucesso se adaptar a exigências e regras de empresas”, disse Marcelo Salazar, coordenador adjunto do Programa Xingu do ISA.

As parcerias que fazem o Origens Brasil®

O Origens Brasil® contou com o envolvimento de diversos profissionais e instituições da sociedade civil, ligados ao tema socioambiental e de responsabilidade social coorporativa. A busca por novos modelos de negócio culminou na parceria comercial entre as populações do Xingu e a Wickbold, empresa nacional fabricante de pães especiais. A iniciativa também ganhou a adesão da Rede Pão de Açúcar (Programa Caras do Brasil), da Firmenich (aromas e fragrâncias), da Mercur (borracha), da Atina (ativos naturais) e Tucum (artesanato).

Isso vem promovendo parcerias comerciais diferenciadas no território, que se traduzem em garantia de compra, contratos de longo prazo, transferência de tecnologia, pagamento de preço justo, redução de atravessadores e negociação direta com as populações do Xingu. Podem utilizar o selo Origens Brasil® empresas que querem construir uma parceria comercial diferenciada com as populações tradicionais e povos Indígenas residentes nos territórios de diversidade socioambiental, sendo o primeiro deles o Xingu.

A concepção do sistema é do Imaflora e ISA. A construção do Origens Brasil® contou com parcerias importantes, como a LDC, a União para o Biocomércio Ético (UEBT), o Grupo NSC; apoio da Sourcemap, Key Associados, do Instituto Atá e Safe Trace, além de aporte e investimentos financeiros do Fundo Vale, da Fundação Moore, do Fundo Amazônia, da Rainforest Foundation da Noruega e Patrocínio da Petrobras. A estrutura de Governança confere credibilidade e transparência à iniciativa.

comentar  Nenhum comentário

AVISO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Agua Boa News. É vetada a inserção de comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. O site Agua Boa News poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios impostos neste aviso ou que estejam fora do tema da matéria comentada.

 
 
 
Sitevip Internet