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29/05/16 às 23:50

Polícia afasta delegado que disse não saber se houve estupro coletivo

Mariana Della Barba - Da BBC Brasil em São Paulo

Edição para Agua Boa News, Clodoeste Kassu

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Polícia afasta delegado que disse não saber se houve estupro coletivo

Advogada da vítima pediu a saída do delegado Alessandro Thiers do caso

Foto: Agencia Brasil

Após afirmar que não estava convencido de que realmente houve estupro coletivo no caso da menina de 16 anos estuprada por mais de 30 homens no Rio de Janeiro, o delegado Alessandro Thiers foi afastado do caso pela Polícia Civil.

A advogada da vítima, Eloísa Samy, e o Ministério Público pediram o afastamento de Thiers alegando machismo e misoginia no tratamento da adolescente.

No final da tarde de domingo, a Polícia Civil do Rio anuncio que o caso ficará sob a responsabilidade da delegada Cristiana Bento, da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV). Em nota, a Polícia afirmou que a decisão "visa evidenciar o caráter protetivo à vítima na condução da investigação, bem como afastar futuros questionamentos de parcialidade no trabalho".

Segundo o canal Globonews, Bento afirmou que a garota entrou no Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes ameaçados de Morte (PPCAM), executado pela Secretaria de Direitos Humanos do Estado do Rio de Janeiro. Ela já teria saído de casa e estaria em local não divulgado.

Em seu perfil de Facebook, Eloísa Samy afirmou que a família da adolescente dispensou seus serviços.

"Hoje à tarde recebi pelo WhatsApp um aúdio da avó da adolescente me agradecendo pelo meu empenho e dedicação ao caso, mas dispensando a continuidade dos meus serviços em razão da família agora estar sob os cuidados e a proteção da Secretaria de Direitos Humanos do Estado", disse.

Acusações

Até o momento, não houve prisões relacionadas ao caso. Em entrevista coletiva após o depoimento da vítima e de suspeitos, o delegado Alessandro Thiers afirmou que a polícia estava "investigando se houve consentimento dela, se ela estava dopada e se realmente os fatos aconteceram. A polícia não pode ser leviana de comprar a ideia de estupro coletivo quando na verdade a gente não sabe ainda".
Samy havia pedido o agastamento de Thiers do caso afirmando que suas perguntas "desqualificavam a vítima".


Após pressçao, caso será conduzido por Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima - foto:ABR

"Ele não tem condições de conduzir esse caso. Durante o depoimento da vítima, fez perguntas que claramente tentavam culpá-la pelo estupro. Ele chegou a perguntar: 'Você tem por hábito participar de sexo em grupo'. Não acreditei e encerrei o depoimento", disse Samy à BBC Brasil.

"Ele mostra uma atitude machista por claramente desqualificar a vítima e a violência que ela sofreu, a responsabilizando pela violência do estupro. Assim, ela faz com que ela sofra duas vezes, com a violência do estupro e com a violência inconstituicional pelo descrédito que lhe é dirigido", acrescentou a advogada.

"Assim fica fácil perceber o que faz com que tantas vítimas de estupro deixem de denunciar seus agressores no Brasil."

A BBC Brasil procurou a Polícia Civil para comentar as acusações. A delegacia comandada por Thiers afirmou que, durante o depoimento, a vítima foi questionada sobre "ter conhecimento de que havia um outro vídeo sendo divulgado em mídias sociais em que ela apareceria mantendo relações sexuais com homens, conforme relato de uma testemunha".

A jovem afirmou desconhecer as imagens e disse que elas não eram verdadeiras, segundo a polícia. "A mãe da vítima acompanhou todo o depoimento, sendo que, em determinado momento, houve discordância entre a advogada e o desejo da mãe da vítima. Por esta razão a oitiva da mãe foi feita sem a presença da advogada."

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