O Conselho Regional de Medicina (CRM) abriu sindicância nesta segunda-feira (20) para apurar a conduta dos profissionais médicos do Pronto Socorro Municipal de Cuiabá no atendimento ao pedreiro de 57 anos, tido como morto, por 1 hora, e levado ainda vivo ao necrotério, já para o funeral.
A sindicância é uma pré-apuração dos fatos, para certificação se o caso é de processo ético.
A equipe de plantão na sexta-feira (17), quando foi registrado o óbito equivocado, e que vai responder às investigações do CRM e também da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) tem 12 profissionais, que já foram inclusive afastados, sendo três médicos, seis técnicos em enfermagem e três enfermeiros. Eles ficarão afastados até que termine e apuração da SMS.
Para passar pelas mãos de tantos profissionais assim, ainda vivo, a princípio o CRM não descarta que o pedreiro tenha sofrido de um quadro chamado fenômeno de Lázaro, em que a pessoa tem quadro de morte e depois volta a ter batimentos cardíacos e sangue circulante. É um fenômeno raro.
Mas a vice-presidente do CRM de Mato Grosso, a médica Maria de Fátima Carvalho Ferreira, concorda que é uma situação estranha. “Será que ninguém percebeu que tinha condições de vida?” – indaga, explicando que os detalhes do caso, incluindo se houve negligência, serão apurados pela sindicância.
O que é preciso para atestar um óbito
1) Verificar se as pupilas estão dilatadas e não reagentes mediante luz
2) Ausculta de batimentos inaudíveis com o estetoscópio
3) Fazer um eletrocardiograma
4) Medir pulsos
5) Verificar a respiração
AMPLA DEFESA
Assim que o CRM solicitar ao PS documentos comprobatórios do caso, a diretoria da unidade hospitalar terá 10 dias para responder. Mas, se o caso virar processo, a vice-presidente estima que somente dentro de 1 ano aproximadamente será dado um veredicto pelo Conselho, que tem a função de fiscalizar o exercício profissional da medicina e punir infrações ao protocolo.
Maria de Fátima afirma que o caso é delicado e que pode ser arriscado adiantar conclusões, sem a devida apuração. Para ela, é preciso ouvir as partes, inclusive a família do paciente, favorecer a ampla defesa e chegar a uma punição profissional, se for o caso.
A médica afirma que o PS é um ambiente propício ao erro, que a superlotação de paciente e a falta de condições ideais de trabalho são, na rotina, um risco constante.
Apesar deste tipo de drama, a vice-presidente do CRM afirma que se é ruim com ele, seria pior sem ele. “A gente não pode ter o PS sem funcionar, a gente tem que é que brigar por melhores condições de atendimento e para que as unidades atendam os casos que não precisam ir para lá”.
OS PRIMEIROS PASSOS DA SINDICÂNCIA DO CRM:
- Solicitar o prontuário médico do pedreiro Vitalino ao OS
- Dar prazo de 10 dias para a resposta
- Observar quais as pessoas envolvidas no caso através do prontuário
- Ouvir os envolvidos, inclusive os que possam estar na condição de testemunha
FINALIZAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO
Mediante o relatório final da sindicância, uma câmara ética, formada por quatro conselheiros, irá dizer se o caso é ou não para processo.
A resposta será sim se ficar claro que há indícios de infração a artigos do Código de Ética Médica.
O CRM destaca que, antes de mais nada, é preciso levar em conta que prolongar demais a vida de paciente terminal, como parecia ser o caso do pedreiro Vitalino, também gera sofrimento para familiares e para o próprio paciente, não sendo recomendável.