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24/04/16 às 08:58

ENTREVISTA - “Impeachment é irreversível”, diz Blairo

Para o senador mato-grossense, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) tem plenas condições de assumir o governo e comandar mudanças econômicas

Rafael Costa - Diário de Cuiabá

Edição para Agua Boa News, Clodoeste Kassu

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Principal liderança de Mato Grosso no Congresso Nacional e empresário renomado do agronegócio, o senador Blairo Maggi (PR) avalia em entrevista exclusiva ao Diário que o impeachment da presidente da República Dilma Rousseff (PT) já está consolidado. Após ser aprovado no domingo (17) pela Câmara dos Deputados com 367 votos favoráveis e 137 contrários, o processo já foi remetido ao Senado. Serão necessários 41 votos para afastar a petista por 180 dias e 54 votos para concretizar o impeachment.

Conforme Blairo Maggi, a economia brasileira está em ruína devido ao excesso de concessões oferecidas pelo governo federal nos últimos anos, o que veio à tona com as pedaladas fiscais, apontadas como crime de responsabilidade pelo Executivo. “Para ganhar as eleições, o governo federal adotou medidas que não deveriam ser aplicadas”.

Para Blairo, o vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) tem plenas condições de assumir o governo e comandar o processo de reformas no Brasil, em um amplo acordo envolvendo partidos pela união nacional.

Diário - Qual sua posição a respeito do impeachment que recém chegou ao Senado?

Blairo Maggi – Sou favorável ao processo. Há mais de um ano tenho essa posição definida por entender que é um assunto que deveria ser deliberado para retirar esse cadáver insepulto que está na sala. O impeachment passou na Câmara dos Deputados e agora no Senado tem a total chance de ser aprovado. Para a admissibilidade do impeachment, que precisa de 41 votos, nós já dispomos de 48 senadores favoráveis. E tenho certeza de que no prazo de 180 dias, quando estiver afastada a presidente, nós teremos os 54 votos ou mais necessários para concretizar o impeachment. O PT deve chegar ao final com os votos da sua bancada e mais do PCdoB, alguns votos do PMDB e da Rede Sustentabilidade. Os demais votam pelo impeachment.

Diário – O impeachment é a única solução para superar a crise política e econômica que tomou conta do Brasil?

Blairo – Não é o único, mas os outros caminhos oferecidos são mais difíceis de concretizar, enquanto o impeachment já andou pela metade. Um dos caminhos seria uma renúncia da presidente Dilma Rousseff (PT) e do vice-presidente Michel Temer (PMDB) e uma nova eleição em até 90 dias. Mas não há voluntariedade de nenhum dos dois. Uma cassação da chapa pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) pelo que aconteceu na campanha eleitoral e as provas que estão sendo produzidas, mas não há previsão para este ano. A expectativa é de que seja julgado somente em 2017. Uma outra alternativa que propuseram e assinei como signatário para dar quórum à discussão, mas não vou concordar, é uma eleição exclusiva para presidente e vice-presidente em outubro deste ano. É algo que não tem consenso e parece até casuísmo de uma das partes. Há uma discussão a respeito da constitucionalidade disso, pois estaria violando cláusulas pétreas. Então, o caminho mais célere é o impeachment.

Diário – Michel Temer é capaz de conduzir um processo de conciliação nacional na política e de recuperar a economia?

Blairo – O vice-presidente tem uma capacidade muito grande de dialogar. Sabe fazer política e ouvir a classe como poucos. Agora, há uma preocupação quanto à performance do Executivo. Isso pode ser superado por meio da equipe que vai se formar. Em tudo que se faz na vida se precisa de uma boa equipe. Não adianta ser o Pelé, o Messi e atuar junto com outros dez pernas de pau em um time. Ninguém faz a diferença assim. O Michel Temer não é nenhum Pelé na administração, mas se todos nós que o apoiamos tivemos a capacidade de auxiliar em um momento de emergência e entender a necessidade de conciliação nacional, a crise será superada e tem tudo para ser feito um bom governo. Agora, tenho insistido com todos que devem ser chamadas para os ministérios pessoas que tenham conhecimento, sejam capazes de resolver problemas e tenham autonomia para fazer os projetos andarem e apresentem resultados. Não deve ser feito como agora, onde tudo deve estar na mesa da presidente Dilma Rousseff (PT), e tudo deve ser decidido, levando a colocar pessoas da confiança dela em chefias de gabinete e secretarias executivas e tudo se pergunta se pode ou não pode.

Diário – O PT tem declarado que fará oposição sistemática a um eventual governo de Michel Temer. Isso não preocupa do ponto de vista institucional?

Blairo – Eles estão no direito deles! O PT vai sair muito ferido deste processo. Não significa apenas a perda da presidência da República, mas a perda do governo e da aura carregada pelo partido. É uma derrocada total e absoluta. Vão tentar de qualquer maneira fazer oposição, mas não têm votos suficientes para impedir a aprovação de matérias. Mas é necessário ressaltar que existem petistas e petistas. Tem senadores com os quais mantenho amizade e são petistas de muita consciência que pensam no melhor para o Brasil e são capazes, numa autocrítica, de perceber que o partido não adotou o melhor rumo nos últimos anos. Esses mesmos não irão fugir a um projeto de Brasil e irão contribuir.

Diário – Qual deve ser a primeira reforma da gestão pós-Dilma?

Blairo – O enxugamento da máquina pública é necessário. Temos muitas secretarias específicas e outras vinculadas à presidência da República que devem ser extintas. Um Ministério pode concentrar atividades como na área social. Não é necessário um exclusivo para cuidar da agricultura familiar. Tem muita atividade que foi separada para gerar acomodação e instrumentalizar o governo que não tem necessidade. Mas não é só o Executivo que deve ter mudanças. O Legislativo, o Judiciário e órgãos auxiliares, como TCU (Tribunal de Contas da União), deverão colaborar. Ninguém pode se achar melhor para o país. O arrocho fiscal tem que ser distribuído a todos. A primeira reforma começa por aí, pela redução do tamanho do Estado e sua desburocratização. Tem que estimular o empresariado, liberal ou não, para que sejam olhados como alguém de bem que queira produzir e sejam incentivados. O Estado só arrecada dinheiro com a produção econômica em ascensão da iniciativa privada. Mais do que uma reforma que saía do papel, precisamos de uma reforma de conceitos. Precisamos de mais produtividade e efetividade. Precisamos mexer nas leis trabalhistas, por exemplo. Muitos reclamam, mas não é para tirar direito de ninguém, mas dar novas opções ao trabalhador.

Diário – A presidente Dilma Rousseff está só há 16 meses em seu segundo mandato. O que deu errado para a gestão ruir tão cedo?

Blairo – Na verdade, começou a ruir em 2014. Os anos de 2015 e 2016 são consequências das pedaladas fiscais. Para ganhar as eleições, o governo federal adotou medidas que não deveriam ser aplicadas. Dar juros de 2,5% ao ano para agricultor comprar máquina sem correção foi um dinheiro jogado fora. Além disso, houve diversos subsídios como a desoneração da folha de pagamento que pode ter sido bom em um primeiro momento, mas não virou nada para a economia brasileira, apenas lucro para as empresas. O Estado deixou de arrecadar por conta de concessões que não deveriam ser feitas e as pedaladas fiscais revelam a necessidade de maquiar dados das contas públicas para autorizar subsídios em automóveis, eletrodomésticos. Tudo aconteceu em 2014 e a conta veio depois. A presidente Dilma disse recentemente que não tem culpa e que a crise se deve ao preço das commodities. Como se o Brasil vivesse só de minério de ferro, soja e milho. Dizer que a economia se perdeu por causa da crise das commodities é uma desculpa falha.

Diário – A permanência de Dilma significa o aprofundamento desta crise econômica?

Blairo – Sim! Não tenho dúvida disso! Não tem alternativa alguma com ela, que se mostrou incapaz de administrar o país na bonança e não será agora nesta crise.

Diário – Isso faz o impeachment ser irreversível?

Blairo – Na minha avaliação, sim. É a única saída. E o impeachment será irreversível.

Diário – O senhor é um nome muito forte na economia nacional. O sentimento do empresariado é de desânimo?

Blairo - Absoluto! É um desânimo tão grande, que não sabemos onde vai terminar essa crise. Todos os dias mantenho conversas com os diversos segmentos e tem muita reclamação porque projetos estão parados e há muita lamentação pelas demissões que estão sendo feitas. Conheço vários da área de shopping center que estão desesperados. Com a queda das vendas, muitos lojistas não conseguem pagar a manutenção mensal. Grandes construtoras com áreas construídas com 80 a 100 mil metros não conseguem vender. Em Brasília, onde o metro quadrado custava R$ 9 mil, estão oferecendo a R$ 5 mil e não conseguem encontrar comprador. Isso significa que o dinheiro acabou? Não, até acredito que tem muita gente com maioria. Mas, por que gastar se não tem segurança do investimento? O mercado parou porque uma turma que não tem dinheiro e outra que tem dinheiro não querem arriscar. Por isso, a chegada do Michel Temer com uma nova equipe econômica dá para reverter este quadro.

“Não tem alternativa alguma com ela, que se mostrou incapaz de dministrar o país”

“Impeachment não é o único caminho,mas os outros caminhos oferecidos são mais difíceis de concretizar”

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  • por Luis Gonzaga Domingues, em 24/04/16 às 17:59

    A Imprensa brasileira sempre foi canalha uma das grandes culpadas das condições do país, mais do que as forças que dominam politicamente, é nossa imprensa.Nossa imprensa é lamentavelmente ruim. E não quero falar da televisão que já nasceu covarde. Millôr Fernandes. Estudei minha vida inteira e trabalhei com minha família como escravo em Cachoeira do Sul -RS e jamais conseguimos ficar ricos. Também trabalhei em várias empresas particulares que os donos ficaram ricos desonestamente através da sonegação de impostos ou até roubando de outros empresários de São Paulo, Paraná e Santa Catarina para abastecer seu supermercado e matavam gados de fazendas alheias para alimentar seu comércio. Posso dizer que sou um velho, mas jamais encontrei alguém que tenha ficado rico honestamente. Aliás, os pobres também sabem disso! Gostaria que alguém me desse uma fórmula mágica para que eu consiga melhorar a minha vida. Peço ao Senhor uma ideia? Procure me responder o rápido possível.

 
 
 
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