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21/04/16 às 16:46 / Atualizada: 21/04/16 às 16:52

Mulher é libertada após ficar 2 anos em cativeiro pelo marido em Cuiabá

Vítima era espancada, dopada por remédios e ameaçada pelo marido. Suspeito está com a prisão decretada pela Justiça, mas está foragido.

Denise Soares G1/MT

Edição para Agua Boa News, Clodoeste Kassu

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Mulher é libertada após ficar 2 anos em cativeiro pelo marido em Cuiabá

Mulher foi libertada após ficar 2 anos em cativeiro pelo marido em Cuiabá

Foto: Divulgação

Uma jovem foi libertada após passar dois anos sendo mantida em cativeiro pelo próprio marido, em Cuiabá. A vítima, de 23 anos, era espancada, torturada, dopada por remédios e ameaçada pelo marido, de 37 anos.

Segundo a promotora de Justiça que acompanhou o caso, Lindinalva Rodrigues, a jovem era impedida de se comunicar com a família, que não é de Mato Grosso, e vigiada o tempo todo pelo esposo. Ele teve a prisão decretada e está foragido desde o último final de semana, quando a jovem foi resgatada na fazenda da família dele em Rosário Oeste, a 133 km de Cuiabá.

A situação de cárcere privado foi descoberta pela família da vítima, que nos últimos meses não conseguia contato com ela. Em uma carta entregue à mãe, a jovem relatou os abusos que sofria, revelou que estava presa dentro da própria casa e pediu ajuda à família.
 
Em trecho da carta, jovem revelou os abusos que sofria e disse que estava presa dentro da própria casa (Foto: Divulgação)
Em trecho da carta, jovem revelou os abusos que sofria e disse que estava presa dentro da própria casa (Foto: Divulgação)
A vítima ficava sob vigilância do marido na casa onde moravam, no Centro de Cuiabá. O marido, por causa da boa condição financeira da família, não trabalha e seria sustentado pelos pais. De acordo com testemunhas e do relato da própria vítima, ela conheceu o esposo quando tinha 12 anos.

“Ela disse que ele começou a assediá-la, mandar flores e procurá-la quando ela tinha apenas 12 anos. Eles começaram a namorar quando ela tinha 18 anos. E ela estaria nessa situação de cárcere há dois anos”, disse a promotora ao G1. O casal não teve filhos.

 
 
De acordo com o relato da vítima, a família do marido e as pessoas próximas ao casal sabiam da situação vivida por ela. No entanto, nenhuma delas interferia na relação ou denunciou o caso à polícia até então. De outro lado, a família da moça não sabia o que acontecia, uma vez que o marido controlava as ligações e determinava o que ela poderia dizer aos parentes. A jovem não tinha acesso a telefone, celular, televisão, internet ou qualquer outro tipo de contato fora da casa.

“Sabe o que é uma mulher nunca poder ir ao banheiro sozinha? Ele batia nela todas as semanas, era espancada e não podia ir nem na porta de casa sozinha, era sempre vigiada. Nunca saiu sozinha. E, se saísse, era sempre de cabeça baixa, só podia levantar quando ele falasse. Ela vivia assim há dois anos”, disse Lindinalva.

Na casa do casal a polícia encontrou diversos medicamentos, supostamente os que ele obrigava a mulher a tomar, além de um revólver. O marido controlava tudo: desde as roupas que a mulher vestia até as coisas que ela poderia fazer na casa.

“Se eles saíssem para um lugar, não importasse o quanto tempo fosse ficar longe [de casa], ela não podia entrar num banheiro público, porque lá dentro poderia pedir o celular de alguém para ligar e pedir socorro ou encontrar alguém. Ela teve até problemas de saúde porque teve que segurar o xixi por muitas horas e passou mal”, lembrou a promotora.
 
Mulher, que ficou 2 anos mantida em cativeiro pelo marido, afirma em carta que suspeito controlava ligações (Foto: Divulgação)Mulher, que ficou 2 anos mantida em cativeiro pelo marido, afirma em carta que suspeito controlava ligações (Foto: Divulgação)
 
Sofrimento
Para a promotora, fica claro a tortura física e psicológica sofrida pela mulher, além de um trauma vivido por muitos anos. “Ela afirma que a única companhia que tinha era a de um cachorrinho. Ela conversava com esse animal como se ele fosse uma pessoa, dizia que parecia que ele a ouvia e entendia a tristeza dela. Ela estava retirada do mundo e existia apenas para servi-lo. Mas ele nunca estava satisfeito. Esse tipo de homem, abusador e agressor, nunca está satisfeito. Sempre ele queria mais, controlava a roupa, sapato, o tipo do cabelo, o que ela podia falar, o que ela podia fazer. Um completo agressor, uma violência de gênero muito típica”, lamentou Lindinalva.

Socorro e resgate
No final do ano passado, a mãe da jovem veio passar um período com a filha. Conforme a promotora, a jovem conseguiu entregar, escondido do marido, uma carta para a mãe onde revelava a situação que vivia. “Toda a família dela ficou preocupada porque nessa carta ela dizia que estava presa. Mas quando entraram em contato com ela, ele mandava ela dizer, sob a mira da arma, que não era nada daquilo, que ela estava bem e feliz”, disse a promotora.

Depois desse ocorrido, a família passou a desconfiar do marido. Algum tempo depois, o pai da jovem ficou doente com câncer e a família a procurou novamente para contar sobre a situação.

“Ninguém conseguia falar com ela, o marido sempre dizia que ela estava na fazenda. Um familiar veio para Mato Grosso e foi até a casa sem avisar. A encontrou dopada e chorando muito. Essa moça era tratada como uma 'coisa', um objeto. A suspeita é de que não tenha sido a primeira mulher que ele trata dessa forma”, estimou.

A família procurou a promotoria e registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil. No entanto, o marido, ao saber da visita da família, levou a jovem até a fazenda dos pais, em Rosário Oeste.

Uma equipe policial foi até a fazenda onde procurou pela jovem e pelo suspeito. Porém, o marido se escondeu na propriedade e levou a mulher junto. “Somente depois que a polícia saiu a família o convenceu de entregar a jovem. Mas a própria família disse que ele não vai ser preso de jeito nenhum porque eles têm muito dinheiro e influência”, afirmou a promotora.

O mandado de prisão do marido foi decretado pela juíza Ana Cristina Silva Mendes, da Vara Especializada de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher.

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