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Ruy Ferraz Fontes escapou de assaltos e ataques antes de ser morto em Praia Grande — Foto: Reprodução
Morto a tiros nesta segunda-feira, em Praia Grande, no litoral paulista, o ex-delegado geral da Polícia Civil de São Paulo Ruy Ferraz Fontes já havia escapado de ataques atribuídos ao crime organizado e assaltos. Em dezembro de 2023, ele e a mulher foram alvo de um roubo à mão armada no bairro Canto do Forte, na mesma cidade. Na ocasião, uma dupla abordou o casal perto da saída de um restaurante — após levarem joias, celulares e a motocicleta de Fontes, os dois suspeitos foram presos por guardas municipais, e os bens foram recuperados.
Em 2010, depois de deixar a Delegacia de Roubo a Bancos, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), para atuar no 69º DP, ele escapou de um plano de assassinato. Investigações atribuíram a trama ao PCC. Dois homens com fuzis foram detidos em frente à delegacia, antes do atentado, segundo o Estadão. Em 2012, Fontes chegou a trocar tiros com criminosos que o abordaram na Via Anchieta. Um suspeito morreu. Já em 2020, ele reagiu a outro assalto, no Ipiranga. Em 2022, uma dupla numa motocicleta chegou a tentar um roubo, mas fugiu ao perceber que Fontes estava num carro blindado.
O novo caso, que levou à morte de Fontes, ocorreu na Avenida Dr. Roberto de Almeida Vinhas, por volta de 18h. Imagens que circulam nas redes sociais mostram que o carro do ex-delegado, em tentativa de fuga, colidiu contra um ônibus e capotou. Um grupos de homens armados desceu de outro veículo que vinha atrás e aparentemente passou a atirar contra a vítima.
— Difícil falar, conheço ele desde 79, trabalhamos juntos todo esse tempo, sucedi ele na delegacia geral, meu amigo... Não dá pra falar nada — disse um abalado delegado Osvaldo Nico, atual secretário-executivo de Segurança de SP.
Fontes assumiu a função de delegado-geral da Polícia Civil entre 2019 e 2022. Delegado de polícia por mais de 40 anos, ele iniciou a carreira como titular da Delegacia de Polícia do Município de Taguaí. Depois, trabalhou no Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), no Departamento Estadual de Repressão ao Narcotráfico (Denarc) e no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), onde atuou em investigações contra o crime organizado e se tornou um desafeto de Marcola, líder do PCC.
Desde 2023, trabalhava na prefeitura de Praia Grande, no litoral sul de São Paulo, onde era secretário de Administração da prefeitura.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública afirmou que "lamenta, com profundo pesar, a morte do delegado Ruy Ferraz Fontes, ocorrida nesta segunda-feira (15), em Praia Grande, vítima de um atentado no bairro Vila Mirim. Policiais militares atenderam rapidamente à ocorrência e localizaram o veículo utilizado pelos criminosos. A cena foi preservada para a realização da perícia, e o caso está sendo registrado na Polícia Civil. Equipes estão em campo, realizando diligências e utilizando ferramentas de inteligência para identificar, prender e responsabilizar os envolvidos", diz a pasta.
A Prefeitura de Praia Grande informou que outros dois homens ficaram feridos na ocorrência. "Os dois homens foram atendidos pelas equipes do Samu de Praia Grande e encaminhados para a UPA Quietude. No momento, os dois não correm risco de morte e foram transferidos para o Hospital Municipal Irmã Dulce, onde estão recebendo todos os atendimentos necessários", diz a gestão municipal.
NOTA OFICIAL
SINDICATO DOS DELEGADOS DE POLÍCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO (SINDPESP) - EXECUÇÃO DO EX-DELEGADO-GERAL DE SP, RUY FERRAZ FONTES
O Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp) recebeu com pesar, indiscutível perplexidade e indignação a notícia do bárbaro homicídio praticado contra o ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo Ruy Ferraz Fontes, na noite desta segunda-feira (15/9), em Praia Grande-SP, município da Baixada Santista.
Ruy Ferraz Fontes destacou-se na carreira de delegado de Polícia como um dos principais expoentes no combate ao crime organizado, com reconhecida atuação contra a facção Primeiro Comando da Capital (PCC) - o que, por outro lado, lhe rendeu histórico de ameaças de morte por parte da organização.
A ação que resultou na execução de Ruy Ferraz Fontes, o qual, há poucos anos, ocupou o cargo de comando máximo da Polícia Civil bandeirante, escancara a forma como o Governo do Estado de São Paulo cuida de seus policiais mais dedicados, ao mesmo tempo em que torna gritante a necessidade de a Polícia Civil ser melhor tratada, com efetiva valorização de seus profissionais, mais contratações e aumento nos investimentos em estrutura física e de materiais.
É, afinal, a Polícia Civil a responsável pela investigação das organizações criminosas. Por consequência, se o Governo do Estado permite que a instituição se enfraqueça, como São Paulo tem feito nas últimas décadas, o crime organizado, inevitavelmente, ganhará espaço.
Para o Sindpesp, o homicídio do ex-delegado-geral, da forma como ocorreu, revela-se uma grande afronta às Forças de Segurança, à máquina pública e ao Estado de São Paulo, não podendo ficar de maneira alguma impune, sob pena de que todo o sistema de Segurança Pública caia em descrédito.
Por fim, importante reforçar que a Polícia Civil sofreu, nesta segunda-feira, perda irreparável. Tendo iniciado a carreira na Polícia Civil em 1988, Ruy Ferraz Fontes atuou em diversos setores da instituição até ser alçado a delegado-geral, cargo que exerceu de 2019 a 2022. Com bagagem de 11 anos também na área docente, foi professor de Investigação Policial na Academia da Polícia Civil do Estado de São Paulo.
Aos 63 anos, atualmente aposentado, atuava como secretário municipal de Administração da Prefeitura de Praia Grande.