Notícias / Meio Ambiente

16/02/16 às 10:51

Respingos de vida no Rio Doce

National Geographic Brasil Online

Edição para Agua Boa News, Clodoeste Kassu

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Respingos de vida no Rio Doce

Foto: Gabriel Lordêllo/Mosaico Imagem

Desde o rompimento da barragem da mineradora Samarco em Mariana (MG), no dia 05 de novembro de 2015, acompanhei de perto as consequências do desastre e seus impactos pelo Rio Doce no Espírito Santo. Juntamente com os fotógrafos Tadeu Bianconi e Leonardo Merçon, passei mais de 20 dias em campo registrando a paisagem inóspita de um rio que mudou de cor. Eram muitos peixes mortos, pescadores desesperados e uma população mobilizada para salvar os peixes nos locais em que a lama de rejeitos ainda não havia chegado. As pessoas estavam desoladas com os possíveis efeitos do acidente em suas vidas.

Passados os primeiros dias da tragédia voltamos ao Rio Doce para acompanhar a situação na região. O impacto inicial havia passado, mas o rio continuava com a coloração quase avermelhada e repleto de rejeitos. Parte da população das cidades maiores – Linhares e Baixo Guandú – não demonstrava mais tanta preocupação com o rio, pois a água potável estava chegando até suas torneiras, captadas a partir de outros remanescentes. No entanto, em Colatina a situação era desesperadora, faltava água em boa parte da cidade e nos locais em que a água chegava as pessoas desconfiavam de sua qualidade para consumo.

Nos dias seguintes, partimos em busca do que restou de vida no rio. Resolvemos começar pela margem direita, onde pastagens e trechos de mata dominam a paisagem. As cidades mais populosas, que beiram o rio no Espírito Santo, ficam na margem esquerda, ao sul do estado. Durante os dias que rodamos o rio, a única forma de vida que encontramos foram alguns pássaros, que não haviam entrado em contato com a água contaminada.

Pegamos uma estrada de terra ao redor da usina hidrelétrica de Aimorés que nos levou até a margem oposta do Rio Doce, no município de Baixo Guandú. No final da estrada, enquanto caminhávamos por um pasto, avistamos algumas pegadas de animais, que suspeitamos ser de capivaras. Mais a frente ouvimos o barulho de passos sobre as folhas secas. Eram cerca de 10 capivaras.

Consegui registrar o bando por pouco menos de dois minutos. Ao nos verem os animais rapidamente entraram na água contaminada pela lama de rejeitos da barragem, passaram pelas pedras e pularam novamente na correnteza do rio, sumindo no horizonte. A sensação inicial de alívio e dever cumprido, por ter encontrado animais aparentemente saudáveis no rio, foi abafada pelo sentimento de insegurança e preocupação ao pensarmos nas consequências a longo prazo que o contato com a água contaminada poderia gerar à saúde desse bando. O Rio Doce parece refém da triste condição de esfacelamento da vida.

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