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07/01/23 às 14:49 / Atualizada: 07/01/23 às 15:04

O conhecimento imaterial da floresta que fomenta novos negócios

O passado é um dos insumos para o futuro das comunidades do rio Trombetas. Por meio de projetos socioambientais, a MRN investe em ações que, ao mesmo tempo, resgatam a cultura dos povos tradicionais e estimulam a geração de renda

Revista Oeste

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O conhecimento imaterial da floresta que fomenta novos negócios

A educação ambiental na região do rio Trombetas é fundamental para o sucesso dos projetos de estímulo ao desenvolvimento socioeconômico das comunidades

Foto: Acervo MRN / Divulgação

Para dar início a esta parte da nossa jornada, é bom resgatar um conhecimento das aulas de geografia lá no ensino fundamental e relembrar que a Bacia Amazônica é a maior região hidrográfica do mundo. Há desde majestosos rios, que às vezes parecem mar, a lagos emoldurados pelo verde da mata, até igarapés que serpenteiam as florestas. Esse labirinto aquático é morada de mais de 3 mil espécies de peixes. Uma delas é a Colossoma macropomum, também conhecido por pacu vermelho. Mas para Vovó Chiquinha, é simplesmente tambaqui.

Em Acapuzinho, comunidade ribeirinha do município de Oriximiná, no oeste do Pará, não adianta perguntar por Francisca Gomes. O codinome carinhoso é que identifica a pequena produtora rural, que apostou que poderia melhorar de vida se dedicando à criação e venda do tambaqui. Há 12 anos, ela aderiu ao Projeto de Piscicultura, iniciativa que faz parte do Programa de Educação Socioambiental (PES) da MRN para promoção da educação e apoio à geração de renda na região do rio Trombetas. Vovó Chiquinha conta que convenceu todos os parentes a se envolverem com o empreendimento. “Minha família acreditou que o projeto poderia mudar nossa vida. E mudou. Quando começamos, tínhamos só um tanque. Hoje, temos seis. Aprendemos bastante e trocamos nossas experiências com os demais criadores”, diz ela.


A piscicultura passou a ser a principal fonte de renda da família de Vovó Chiquinha, que ainda se dedica à produção artesanal de doces de Castanha-do-Pará. – Crédito: Acervo MRN / Divulgação

O projeto, que estimula a economia local e atende às condicionantes estabelecidas pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), conta com o suporte técnico e conhecimento científico da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). A parceria com a academia tem resultado em práticas mais sustentáveis para a atividade da piscicultura. Uma delas foi o desenvolvimento de tanques com garrafas pet, que formam a estrutura do equipamento utilizado na criação dos peixes. “Conseguimos fabricar um equipamento mais estável e com maior durabilidade, introduzindo ar comprimido nas garrafas para que elas se tornassem mais resistentes”, explica Miguel Canto, técnico em Aquicultura da Ufopa.

E a matéria-prima vem do descarte correto realizado no distrito industrial de Porto Trombetas, onde os moradores sabem que o pet não é lixo e sim insumo para estimular a cadeia produtiva da região. A piscicultora Maria Mota, moradora da comunidade do Bacabal, agradece a consciência ambiental. Ela conta que os antigos tanques necessitavam de manutenção entre três e cinco anos, o que acarretava mais custos. “Agora colocamos as garrafas e o tanque fica mais firme para trabalhar, além de durar mais tempo e ser mais seguro”, explica.


A educação ambiental na região do rio Trombetas é fundamental para o sucesso dos projetos de estímulo ao desenvolvimento socioeconômico das comunidades. – Crédito: Acervo MRN / Divulgação

O investimento da MRN não parte somente da deliberação da empresa e sim do relacionamento transparente com as comunidades, que apontam suas necessidades de acordo com quatro pilares: geração de renda, educação e cultura, promoção à saúde e preservação ambiental e patrimonial. Em 2021, foram investidos mais de R$ 23 milhões para fomentar iniciativas socioambientais na região. O Projeto de Educação Ambiental e Patrimonial (PEAP) é uma das iniciativas que recebe parte desse montante e é um bom exemplo de como a tese se transforma em ações concretas.

Há 20 anos, o programa envolve a valorização da cultura local, o respeito ao meio ambiente e a geração de renda, por meio da produção de biojoias e cerâmica. Para isso, uma equipe de especialistas trabalha na capacitação dos artesãos afim de melhorar suas competências, desde o planejamento do negócio, passando pelo design das peças até a comercialização. “Trabalhamos com o resgate da cultura quilombola de uma forma conjunta. E essa troca de saberes entre os artesãos e os especialistas é riquíssima de forma a estimular o empreendedorismo”, explica Genilda Cunha, analista de Relações Comunitárias da MRN e coordenadora do projeto, da qual participa Juanice Marinho.


No galpão construído pelo PEAP, artesãos, como Juanice Marinho, desenvolvem bijuterias e cerâmicas inspiradas na ancestralidade dos povos tradicionais da região. – Crédito: Karina Andrade / Divulgação

Ela imprime nas bijuterias que desenvolve as referências da ancestralidade local, oriundas da miscigenação de etnias indígenas e africanas. Entre suas criações estão colares, brincos e pulseiras fabricadas com diferentes espécies de sementes, ouriços de castanheiras, folhas, fibras e cascas do cumaru e do tucumã. “Com o programa, eu aprendi a fazer muitas peças. Com a renda das vendas, consigo sustentar meus filhos”, conta ela, que leva sua arte para vender nas praias de água doce, formadas durante a estação seca na Amazônia e que atraem turistas de todo o mundo.

Depois de participar da oficina de cerâmica do PEAP, Euziane Fernandes, moradora da comunidade Jamari, conta que teve a oportunidade de aprimorar a técnica que havia aprendido com a mãe. “Hoje faço peças mais elaboradas, como mais detalhes. Já vendi algumas na própria comunidade, mas minha expectativa é levar minha arte para eventos, oficinas, feiras, fazendo uma renda extra”, diz a jovem nos seus primeiros passos rumo ao empreendedorismo.

E no nosso próximo capítulo da série sobre a extração sustentável da bauxita na Amazônia, vamos falar de como o Banco de Germoplasma de Castanha-do-Pará, uma iniciativa de preservação ambiental da MRN, foi parar na 27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas, a COP 27.

Os primeiros artefatos de cerâmica na região do rio Trombetas foram descobertos em meados do século XIX, sendo objeto de estudo de artigos, ensaios acadêmicos e livros. Ainda hoje, fragmentos de cerâmicas seculares, como a Konduri – tribo indígena que ocupou a região no período de 300 a 1.700 d.C, são encontrados no entorno das residências e são referência para as oficinas de cerâmica, ministradas por Hildemar Almeida. “A produção das peças envolve técnicas ancestrais. Para isso, buscamos valorizar as raízes quilombolas. Assim, a comunidade vai criando sua marca, se fortalecendo junto ao mercado e deixando um legado para ao seu povo”, explica ele.


A produção da cerâmica, uma atividade secular na região do rio Trombetas, foi resgatada e hoje é fonte de renda para os artesãos das comunidades. – Crédito: Karina Andrade / Divulgação

Depois de participar da oficina de cerâmica do PEAP, Euziane Fernandes, moradora da comunidade Jamari, conta que teve a oportunidade de aprimorar a técnica que havia aprendido com a mãe. “Hoje faço peças mais elaboradas, como mais detalhes. Já vendi algumas na própria comunidade, mas minha expectativa é levar minha arte para eventos, oficinas, feiras, fazendo uma renda extra”, diz a jovem nos seus primeiros passos rumo ao empreendedorismo.

E no nosso próximo capítulo da série sobre a extração sustentável da bauxita na Amazônia, vamos falar de como o Banco de Germoplasma de Castanha-do-Pará, uma iniciativa de preservação ambiental da MRN, foi parar na 27ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas, a COP 27.

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