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18/10/22 às 22:30 / Atualizada: 18/10/22 às 22:45

'A Venezuela está destruída'; não é difícil ouvir isso de venezuelanos que chegam ao Brasil

Dados do FMI mostram que neste ano a inflação deve fechar em 500%. Em 2021, o país ultrapassou o Haiti no quesito pobreza

Fábio Menegatti

Notícias R7

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'A Venezuela está destruída'; não é difícil ouvir isso de venezuelanos que chegam ao Brasil

Fronteira de Pacaraima (RR) e Venezuela

Foto: Fábio Menegatti

Pacaraima: são dois idiomas interagindo. O espanhol e o português aparecem não só na fala fluente de brasileiros mas também nas placas de comércio da cidade de 20 mil habitantes. A proximidade com a Venezuela marca hábitos alimentares de Pacaraima, rostos e o jeito de viver.

A cidade mais ao norte do estado de Roraima saiu do anonimato para o Brasil desde que o país passou a ter noção de que esta parte da fronteira tinha virado entrada para milhares de venezuelanos que fogem de um país marcado pelo desemprego, pela inflação nas alturas, pela fome, pela miséria e também pela forte repressão aos opositores. Não é difícil ouvir “a Venezuela está destruída”. Talvez a única chance.

 
Chegar ao Brasil já é uma vitória para muitos. A viagem no país vizinho é mais difícil conforme a situação financeira do migrante. Quem tem algum dinheiro costuma vir de ônibus, carona. Mas quem já sai sem nada, e são muitos assim, só tem como opção deixar a Venezuela a pé. E isso vale para jovens, adultos, famílias com crianças pequenas, idosos. Otulio Pacheco, vigilante de 53 anos, entrou no Brasil apenas com a vontade indescritível de recomeçar. “Ninguna plata en el bolsillo”, ou seja, sem dinheiro. Pelo tom da conversa, ele sabe que aqui tem que dar certo. Otulio, que veio com mulher, filha e dois netos, aceita qualquer trabalho.
 
O vigilante venezuelano Otulio Pacheco com a família em Pacaraima (RR)
O vigilante venezuelano Otulio Pacheco com a família em Pacaraima (RR)
Crise e Pobreza na Venezuela

 
Venezuela: os mais velhos contam que houve tempos de glória. E eles prosperaram junto com os país. No exterior, contam, eram tratados com distinção. Mas desde a empreitada socialista comandada por Hugo Chavez, que governou o país de 1999 a 2013, a situação tem mudado drasticamente. E na Venezuela do sucessor, Nicolás Maduro, os tempos são ainda mais sombrios. Dados do FMI mostram que neste ano a inflação deve fechar em 500%. Em 2021, o país, ainda segundo o Fundo Monetário Internacional, ultrapassou o Haiti num quesito extremamente difícil, a pobreza. Com isso, a Venezuela passou a ser o mais pobre das Américas. O PIB, em dez anos, ficou assustadoramente 81,8% menor.

Os reflexos, na prática, é uma população que luta pela sobrevivência. A Anistia Internacional afirma que entre 2015 e 2021 mais de 6 milhões de venezuelanos deixaram o país. É um dos maiores dramas migratórios do planeta.
 
E o Brasil? Desde que a situação se complicou e os venezuelanos passaram a vir em massa para cá, o Brasil tem feito a Operação Acolhida. A iniciativa do governo federal existe desde 2018 e é coordenada pelas Forças Armadas em parceria com agências da ONU. Organizações nacionais e  internacionais e setor privado também integram a linha de frente que tenta amenizar o sofrimento de quem troca a Venezuela pelo Brasil.

Nesses anos todos foram realizados cerca de 2,5 milhões de atendimentos. A interiorização — que é o deslocamento para outras regiões do país com perspectiva de vagas de emprego e reencontros familiares, por exemplo — já passa dos 84 mil registros.

 
Família de imigrantes em abrigo da Operação Acolhida, em Boa Vista
Família de imigrantes em abrigo da Operação Acolhida, em Boa Vista
Crise e Pobreza na Venezuela

 
Aqui os venezuelanos também ficam alojados em abrigos, onde recebem três refeições diárias. Antes disso, tiveram acesso a vacinas e um suporte para regularizar sua situação migratória, o que permite que circulem legalmente.

O que eles querem? Não muito, lutam para reencontrar a dignidade que ficou perdida nessas últimas décadas de governos de Chavez e Maduro. Afirmam que estão atrás de um emprego que lhes possibilite, além do sustento por aqui, mandar alguma ajuda para quem ainda está por lá.

E os sonhos? Simon Ortin, perito agrícola de 58 anos, ainda quer ter condições de voltar para seu país. Mas, para que isso aconteça, ele diz que não só o governo tem que mudar, mas todo o sistema que destruiu a Venezuela.

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