Ela ficou surpresa porque acreditava em um mito há muito perpetuado: que os altos níveis de melanina da pele negra a protegiam do sol.
"Eu pensava que, se você tem pele negra ou escura, você não pode ter [câncer de pele] e você não precisa usar protetor solar porque você se sente um pouco protegida. Mas obviamente agora eu sei, pele é pele e qualquer um pode ter a doença", diz Isser.
Cinco anos depois, o câncer voltou. "Felizmente, eu identifiquei novamente a tempo e não precisei fazer nenhuma quimioterapia. Eles só tiveram que remover um dos meus linfonodos [gânglios linfáticos, pequenos órgãos que fazem parte do sistema linfático]."
Agora, dez anos depois, ela ainda está livre da doença.
O mito
Isser nunca usou protetor solar durante sua infância, mas hoje ela alerta outras pessoas negras para não cometerem o mesmo erro, por meio de sua atuação na Cancer Research UK, organização britânica de pesquisa do câncer.
A organização afirma que os cânceres de pele do tipo melanoma são menos comuns em asiáticos e negros do que em brancos.
Mas a médica Ophelia Dadzie, da Associação Britânica de Dermatologistas, explica que, quando ocorrem em pessoas negras, tendem a ser "muito mais agressivos e a ser detectados em um estágio posterior".
Dadzie dá o exemplo do astro do reggae Bob Marley, que descobriu uma mancha de pele pigmentada que acabou se revelando um melanoma maligno, do qual ele morreu mais tarde.
"Ao examinar sua pele, você deve olhar para toda ela", explica a médica.
"Particularmente as pessoas que têm pele mais escura não devem esquecer de olhar para as solas dos pés, mãos, palmas das mãos e unhas."
A médica cita pacientes que achavam que tinham pintas nas solas dos pés, que acabaram sendo diagnosticados com câncer de pele.
Derrubando o mito de que a pele negra é imune aos raios do sol, Dadzie diz que o equívoco provavelmente se originou do fato de que os negros têm maiores quantidades de melanina do que as pessoas com outros tons de pele.
"Dentro da comunidade, há pessoas que dizem: 'Sou de um país quente, estou bem no sol', o que se incorporou na comunidade, porque temos mais melanina", acrescenta Dadzie.
A melanina é o pigmento que torna a pele escura, mas também tem outras propriedades: é um "protetor solar natural ", observa ela. "Ela fica nas células da pele e protege dos danos causados pelos raios UV e das alterações no DNA induzidas pelos raios UV."
"A melanina realmente protege, mas não oferece 100% de proteção contra o sol."
A médica alerta ainda que não é só no câncer de pele que as pessoas devem pensar.
Como se proteger do sol?
"Na pele escura, uma condição que vejo com frequência é a hiperpigmentação. Agora, o que as pessoas não percebem é que os raios UV do sol causam hiperpigmentação."
A hiperpigmentação acontece quando manchas mais escuras se desenvolvem na pele, podendo ser causadas pelo excesso de produção de melanina.
Então, o que fazer quando estamos ao sol? O conselho da doutora Dadzie é: "A Associação Britânica de Dermatologistas tem um plano de proteção tripla: sombra, roupas e protetor solar", afirma.
"Assim, você pode proteger sua pele com roupas, incluindo um chapéu. Use também óculos de sol com proteção UV. Procure sombra entre 11h e 15h, quando os raios UV do sol são mais fortes", recomenda a médica.
"Ao escolher um protetor solar, você deve usar um com FPS (fator de proteção solar) mínimo de 30, com boa proteção UV, mas quanto maior o FPS, melhor. Certifique-se de que o protetor solar é à prova d'água e reaplique o protetor a cada duas horas, isso é muito importante."
Dicas para se proteger do sol
- Proteja-se com roupas e chapéu
- Use protetor solar com FPS 30, pelo menos, mas quanto maior, melhor
- Use protetor solar de amplo espectro, UVA e UVB, e resistente à água
- Reaplique o protetor solar a cada duas horas
- Abrigue-se na sombra regularmente
- Se notar algo preocupante na sua pele, procure um médico