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15/11/21 às 18:06

Mato Grosso tem mais de 145 mil indígenas

Segunda maior população aldeada do Brasil, a mato-grossense ocupa 59 áreas em 54 municípios e tem lider indígena nacional

Eduardo Gomes

Diário de Cuiabá

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Mato Grosso tem mais de 145 mil indígenas

Ritual Ikpeng no Xingu

Foto: Divulgação

Mato Grosso tem uma população indígena aldeada de 42 etnias com 145.279 indivíduos em 59 áreas que se espalham por 54 dos 141 municípios ocupando 12% do território mato-grossense de 903 mil km². No comparativo populacional o quantitativo dos que vivem em aldeias corresponde ao dos moradores em Sinop, com 148.980 residentes e quarto município mais populoso do Estado. Isso é o que revela o “Dimensionamento emergencial de população residente em áreas indígenas e quilombolas para ações de enfrentamento à pandemia provocada pelo coronavírus-2020”, recentemente divulgado pelo IBGE. Os números não incluem os povos arredios.  

Antes da divulgação desse documento o IBGE registrava 3.567.264 habitantes em Mato Grosso. Com os 145.269 indígenas e 12.802 quilombolas retirados da sombra e incluídos ao plano estatístico, esse número sobe para 3.715.335 mato-grossenses.        

A maior população indígena é do Amazonas, com 284.487 indivíduos aldeados que se declaram índios, seguido por Mato Grosso com 145.279, Pará (105.320), Roraima (83.727) e Pernambuco (80.318). Nacionalmente somam 1.108.970. Os quilombolas, com 1.133.106 residentes em quilombros são em número ainda maior do que os indígenas, com destaques para a Bahia, com 268.573; Maranhão, 170.961; Minas Gerais, 130.812; e Pará, 129.770.        

Querência, com 14.877 indivíduos tem a maior população indígena seguido por Campinápolis, com 14.851; Comodoro, 14.839; Feliz Natal, 12.942; Gaúcha do Norte, 8.456; Juara, 6.191; e São Félix do Araguaia, 6.023.        

O documento destaca as terras indígenas que são mais habitadas. Pimentel Barbosa com 12.104 aldeados seguida por Wawi (11.276), Capoto/Jarina (11.033), Parque Indígena do Xingu (10.276), São Marcos (9.257), Areões (9.019), Parabubure (8.435), Sangradouro/Volta Grande (8.321), Serra Morena (6.895), Parque do Aripuanã (6.435), Merure (6.198) e Menku (6.053).  
   
  A etnia Xavante com 23 mil indivíduos é a maior e concentra-se no Vale do Araguaia, nas terras indígenas Marãiwatsédé, Marechal Rondon, Sangradouro/Volta Grande, São Marcos, Areões, Areões I, Areões II, Parabubure, Pimentel Barbosa, Chão Preto, Ubawawe e Wedezé. Antes da divulgação desse documento o IBGE considerava que Campinápolis tinha 16.223 habitantes, que somados aos 14.851 indivíduos Xavante do município eleva o número de moradores para 31.074, com os aldeados representando 47,80% da população. A área de Sangradouro/Volta Grande é compartilhada pelos Xavante com o povo Bororo.        

A única desintrusão de área urbana em Mato Grosso beneficiou os Xavante. Em dezembro de 2012 os moradores da vila de Estrela do Araguaia, mais conhecida como Posto da Mata, localizada no cruzamento das rodovias federais 158 e 242, na área de 155 mil hectares que pertenceu à fazenda Suiá Missu, e os residentes na zona rural da mesma, foram despejados para a formalização da posse da Terra Indígena Marãiwatsédé, nos municípios de Alto Boa Vista, São Félix do Araguaia e Bom Jesus do Araguaia. O cacique Damião Paridzané é o principal líder de Marãiwatsédé e está à frente da luta para desviar o trecho de 120 km da BR-158 que cruza a terra de seu povo.
         
A pandemia do coronavírus atingiu populações indígenas causando mais de 160 mortes sendo os Xavante os mais atingidos dentre eles, o cacique Domingos Mãhölõ, de Sangradouro/Volta Grande e considerado uma das maiores lideranças indígenas nacionais não resistiu ao vírus.  
     
José Medeiros
Ikpeng P.I.Xingu
Ikpeng P.I.Xingu

 
  POLÍTICA – Indivíduos de diversas etnias disputaram as últimas eleições municipais, mas o político que ganhou destaque foi o cacique Mário Juruna, Xavante, que em 1982 elegeu-se deputado federal pelo PDT do Rio de Janeiro. Juruna nasceu na Terra Indígena São Marcos, em Barra do Garças, onde seu corpo foi sepultado; o cacique e deputado morreu em julho de 2002, na sua residência em Brasília, vítima do diabetes.        

  A pulverização de candidaturas dificulta a eleição de indígenas. Mato Grosso tem 1.404 vereadores e somente 11 aldeados. Em Campinápolis, o pastor Serere Xavante disputou a prefeitura pelo Patriota ficando em terceiro e último lugar na votação, com 689 votos, com Zé Bueno (DEM) vencendo com 3.996 votos, e Jander Franco (PROS) em segundo, com 2.420 votos; no mesmo município os Xavante elegeram dois dos 11 vereadores: Gininho Tseredzapriwe (PSDB) e Azevedo Tserebuto (PROS).          

RAONI – Considerado uma das maiores lideranças indígenas do país, o cacique caiapó Raoni Metuktire responde pela Terra Indígena Capoto/Jarina, de 635 mil hectares nos municípios de Peixoto de Azevedo, Santa Cruz do Xingu e São José do Xingu, ao lado do Parque Indígena do Xingu. Em Capoto/Jarina vivem os povos Kaiapó, Metuktire e Tapayuna.      

  Raoni ganhou fama internacional nos anos 1980. Acompanhando o roqueiro inglês Sting, o cacique xinguano percorreu 17 países em 1989, defendendo sua terra e a cultura de seu povo. Na turnê foi recebido por chefes de governo e de Estado, conversou com jornalistas dos principais jornais e televisão da Europa. Na mesma década, no Brasil, ao discutir com o ministro Mário Andreazza sobre a demarcação de Capoto/Jarina, Raoni deu um puxão de orelha em Andreazza e ganhou as manchetes nacionais.        

  Não há informação precisa sobre a idade de Raoni, mas 1932 é citado como provável ano de seu nascimento, mas ninguém arrisca sobre o dia e o mês em que o líder xinguano chorou pela primeira vez.           

Capoto/Jarina ganhou repercussão internacional em 29 de setembro de 2006 por conta de um choque entre um Boeing da companhia aérea Gol e um jato executivo Legacy, o que causou a morte dos 154 tripulantes e passageiros do primeiro avião, que caiu próximo ao rio Jarinã, afluente do Xingu.          

Não há enfrentamento entre a sociedade envolvente e os aldeados, mas sempre são registradas invasões de garimpeiros de ouro nas terras Sararé, em Pontes e Lacerda, e de madeireiros em várias áreas. Porém, a proximidade das aldeias com cidades influencia no modo de vida dos aldeados, sendo o alcoolismo o mais grave. Tadarimana, dos Bororo, ao lado de Rondonópolis e com 1.067 indivíduos, além do problema com o consumo de bebidas alcóolicas, ainda enfrenta uma disputa cristã entre pastores e padres por fiéis.    
   
XINGU - O Parque Indígena do Xingu com 2.641.003 hectares e maior do que Sergipe é compartilhado por 16 etnias: Aweti, Ikpeng, Kalapalo, Kamaiurá, Kaiabi, Suiá, Kuikuro, Matipu, Mehnako, Nafukuá, Noruvôtu, Tapayuna, Trumai, Waurá, Yawalapiti e Juruna. Nessa área, numa antiga pista de pouso do Correio Aéreo Nacional (CAN), no município de Canarana, anualmente acontece o Kuarup, um festival devocional xinguano, que é muito conhecido no exterior. Ao lado do Parque há outras grandes terras indígenas banhadas pelo rio Xingu e afluentes, e afluentes do Araguaia.      

JUÍNA - Em Juína, município com 26.189,915 km² no Chapadão dos Parecis, duas terras indígenas ocupam 61% de seu território. Os Cinta-Larga vivem numa área de 13 mil km², e os Enawenê-Nawê em 3 mil km²      

POXORÉU - No distrito de Jarudore, município de Poxoréu, os Bororo lutam na justiça, desde 2006, pela posse total de 4.706 hectares que há 75 anos são ocupados por moradores na sede daquele distrito e sua zona rural. A cacique Maria Aparecida Tore Ekureudo lidera seu povo nessa luta e conseguiu a posse de alguns sítios, mas uma liminar do desembargador federal Kassio Nunes Marques, em agosto de 2020, suspendeu a ação que pede a desintrusão dos posseiros.
 

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