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08/08/21 às 12:40

O filho do vendedor de pamonha que fez mestrado na Inglaterra e missão humanitária da África

Entre Alessandro, tenente-coronel da PMMT, e seu pai, Aparecido, o orgulho é mútuo

Alecy Alves

Diário de Cuiabá

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O filho do vendedor de pamonha que fez mestrado na Inglaterra e missão humanitária da África

Alessandro, tenente-coronel da PMMT, e seu pai, Aparecido

Foto: Divulgação/Diário de Cuiabá

Alessandro Souza Soares, 41 anos, fala duas línguas fluentemente, inglês e espanhol, além do português, e está estudando a terceira, francês.

Fez graduação em Justiça Criminal nos Estados Unidos, mestrado em Combate ao Crime Organizado e Terrorismo na Inglaterra e integrou missão de paz da ONU na África, em Guiné Bissau e Sudão do Sul.

Quem é Alessandro? O filho de "seu" Aparecido Gomes Soares, um trabalhador que nas folgas dos plantões no emprego fixo vendia pamonha nas ruas de Várzea Grande para complementar a renda da família.

Mas, se preferir, o filho "do senhorzinho do arquivo que passou para o CFO". Foi assim que Aparecido soube que circulava entre o alto escalão do Comando da Polícia Militar a notícia da aprovação do filho.

Alessandro, o grande orgulho de "seu" Aparecido, hoje é tenente-coronel e atua na função de Superintendente de Planejamento Operacional e Estatística da Polícia Militar de Mato Grosso.

"Nem sabia que existia tudo isso que ele estudou", diz, orgulhoso, referindo-se ao extenso currículo do filho.

O pai conta que "Sandro", como se refere ao filho, sempre foi estudioso, porém a família era muito pobre, passava dificuldades.

Os filhos dele, três, sempre estudaram em escolas públicas. Sandro, depois de concluir o ensino médio na Escola Militar Tiradentes quis frequentar um cursinho preparatório para o vestibular do CFO.

O oficial descreve com orgulho o esforço do pai para garantir a continuidade dos estudos do filho. Aparecido juntou por três meses o dinheiro da venda das pamonhas para fazer a matrícula e pagar a primeira mensalidade do cursinho.  

"Sandro", na época com 17 anos, foi trabalhar na lanchonete de uma escolinha de futebol onde tinha uma promessa de salário, que jamais foi concretizada, porém recebia lanche, espetinho, e o vale transporte.

Enquanto isso, o pai, que era servidor civil da PM e pamonheiro nas horas de folga, dava duro para assegurar o pagamento das mensalidades do cursinho. E a mãe, dona Eletícia, cozinhava em casa de família ou restaurantes populares.

Alessandro conta que quando decidiu que faria o vestibular para o CFO pensou mais na família do que nele próprio.

Na mãe, que de tanto cozinhar e lavar panelas gigantescas adquiriu 13 hérnias de disco na coluna e uma lesão no joelho. Precisou fazer cirurgia para colocação de prótese.

E, claro, no pai que debaixo de sol e chuva vendia pamonhas no horário em que deveria estar em casa descanso do outro emprego.

O salário do então aluno oficial da PM, relembra o TC Alessandro, era três vezes superior à renda do pai. Quando recebeu a primeira "bolada", dos três primeiros meses acumulados, a família comemorou.

O CFO, graduação com duração de três anos, foi apenas o começo para Alessandro. Durante sua primeira especialização na Universidade Federal de Mato Grosso, em Inteligência em Segurança Pública, agarrou uma possibilidade de bolsa de mestrado nos Estados Unidos.

Mesmo sem falar inglês, candidatou-se a uma vaga. Elaborou o projeto e por quase um ano percorreu os diversos escalões da PM e do Governo do Estado até conseguir a autorização.

Enquanto aguardava o mestrado, serviu na Força Nacional, inclusive durante os jogos Pan-americanos de 2007, no Rio de Janeiro.

Nos Estados Unidos, Alessandro descobriu que o CFO não somava a carga horária de graduação para ingressar no mestrado americano.

O primeiro ano lá, fez um intensivo de inglês e começou a graduação em Justiça Criminal na Universidade do Estado do Alabama. Essa seria a maneira de complementar a carga horária.

Paralelamente, em 2010, se candidatou para mestrado no Chevening, um programa mundial de bolsas do Reino Unido, em Londres.  

Conquistou a bolsa no Colégio Universitário de Londres, onde fez mestrado em Combate ao Crime Organizado e Terrorismo. Dois anos depois, quando retornou para Mato Grosso, tornou-se embaixador voluntário do Chevening e desde então conseguiu ajudar três estudantes a ingressar no programa.

Em 2019, Alessandro seguiu para uma missão de paz na África, onde permaneceu por quase um ano.

Nos 22 anos de carreira militar, Alessandro serviu em diversos municípios mato-grossenses, entre os quais as cidades de Vera, onde foi o primeiro oficial comandante, e Cuiabá, onde comandou a unidade do CPA.

"Cheguei a ouvir que meu filho tinha privilégios, que recebeu ajuda de outras pessoas de poder. Ou até que era amigo do neto da rainha da Inglaterra", diz, aos risos, "seu" Aparecido.

"Ele abriu seu próprio caminho, mostrou que com força de vontade, determinação e vontade de crescer nada é impossível", completa.

Alessandro é casado, tem uma filha de 7 anos, a Ayla. Os pais dele, Aparecido e Eletícia, tiveram três filhos e já tem sete netos e três bisnetos.

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