Saberes que a mata ensina
Além da telha de 1901 produzida por seu Antônio, alguns documentos encontrados por pesquisadores atestam a presença dessa família na região. Dois anos atrás, por exemplo, vários pesquisadores de universidades nacionais, como USP, Unicamp e UFABC, e a Universidade de Chicago divulgaram um relatório da ocupação na região. Um documento encontrado pelos especialistas na Paróquia de Iguape (SP) mostra que em 1856 dona Maria Euzébia do Prado possuía terras ali.
A relação próxima da família inteira com a região foi herança deixada dos mais velhos para os mais novos. "O meu pai conta que meu bisavô e meu tataravô sempre viveram aqui trabalhando a questão da cura com planta medicinal. Faziam reza, sabiam usar as folhas, a fruta e as raízes. Até pouco tempo atrás a gente vivia mais usando a floresta como medicina, tanto com plantas que estavam na mata fechada, quanto nos nossos quintais."
Muito além de ser farmácia, a Mata Atlântica foi e ainda é o que dá para todos os membros da família Prado boa parte do que eles necessitam para sobreviver. Se fosse preciso chutar um número de quanto dependem do bioma para necesidades básicas, Dauro diria 80%. Da produção de alimentos até a manutenção da cultura caiçara com as festas da região, a floresta foi quem proporcionou os saberes conhecidos popularmente como tradicionais e que são encarados pela família como a maior riqueza que possuem.
Em uma breve conversa com alguns parentes, é possível ouvir lembranças passadas de boca em boca, a cada geração. Dauro conta sobre os momentos em que, ainda criança, seguia os mais velhos para dentro da mata à procura de um espaço bom para plantar comida. Aprendeu que arroz se planta em lugar alagado, ou que se plantar mandioca em lugar com muita umidade, apodrece a raiz. E assim passou para o filho Marcos.
"Minha avó dizia que se a gente tira um remédio do mato pra cuidar da gente, então temos que cuidar daquele lugar também, cuidar da região que a gente tirou. Meu avô, quando a gente vai fazer uma cerca, por exemplo, dizia que a gente não vai tirar a madeira que não vai brotar [de novo]. Você tem que tirar uma que brota, que você sabe que daqui seis meses vai ter madeira já. A gente aprende muita coisa. Os ensinamentos do nosso mais velho. A relação que eles tinham e passaram pra gente com a mata, é muito forte. É uma relação de respeito com a floresta", diz Marcos.