Depois de praticamente trinta anos de proximidade, a Associação dos Docentes da UFMT (Adufmat) rompeu definitivamente com o governo do Partido dos Trabalhadores (PT). Histórica e ideologicamente alinhados, o sindicato e o PT sempre caminharam juntos, inclusive na longa batalha travada –– por mais de 20 anos –– até que Luiz Inácio Lula da Silva ganhasse a primeira eleição, em 2002. E o rompimento foi ruidoso, na semana passada, quando os professores da UFMT resolveram pôr fim a uma greve de 139 dias única e exclusivamente para não prejudicar ainda mais os alunos, segundo divulgaram em manifesto/carta aberta à sociedade.
Segundo o texto da Adufmat, neste longo período de quase cinco meses, o descaso com a educação pública e o compromisso do governo e seus parceiros com os interesses capitalistas foram amplamente denunciados, revelando a “verdadeira face da pátria educadora que defende: o aprofundamento da mercantilização da educação e a destruição das universidades públicas federais; e, junto com elas, a qualidade que lhes caracteriza”.
Prova disso seria o corte de quase R$ 12 bilhões no orçamento da educação pública ao mesmo tempo em que garantiu R$ 17 bilhões para as instituições privadas, via Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).
Marcos Lopes/HiperNotícias
A parceria de 30 anos durou até semana passada, garante docentes
O manifesto lembra também que a educação brasileira é uma das políticas sociais mais desrespeitadas, mesmo sendo das palavras mais frequentes nas bocas dos políticos em tempos de campanha e presença garantida em todos os debates que envolvam desenvolvimento.
Sobre se o rompimento com o PT significa o abandono da ideologia que sempre definiu a Adufmat em seus muitos anos de existência (37, pra ser exato), o presidente da associação, Reginaldo Araújo, explicou que a escolha ou apoio a um candidato não parte do pressuposto de que esse candidato vai anotar só as agendas que interessam ao apoiador e que ele vá dar conta de garantir os direitos e trazer novas conquistas a quem o apoiou. Especialmente porque vivemos num sistema capitalista tal que qualquer governo que assumir sofrerá forte pressão para atender aos interesses desse capital.
“Se elegermos Aecio Neves ou Dilma Roussef, temos que ficar mobilizados, porque a pressão sobre os trabalhadores é sempre a mesma. Acontece que na nossa opinião o governo do PT desde abril, maio, quando notou-se uma crise econômica, fez uma escolha, e foi pelo capital, e temos dados para quantificar isso, pois não falta dinheiro para o agronegócio, para os grandes banqueiros e as empreiteiras. Por outro lado, vai pra cima dos trabalhadores, dos servidores públicos, cortando trabalhadores, mas não há corte para ninguém ligado ao grande capital”, argumentou Araújo.
Ele justificou que o ataque recente à gestão de Dilma Roussef (PT) só está ocorrendo porque quem vai pagar a conta dos gastos públicos exacerbados são os trabalhadores. “Ao mesmo tempo em que anotamos que os trabalhadores não podem partir do pressuposto de que um candidato que se afina com sua pauta e fala sobre o direito dos trabalhadores dá a ele o direito de ir pra casa”, continuou.
Para ele, é necessário manter a mobilização porque necessariamente vai haver pressões e poucos são os governos que vão resistir. “No Brasil mesmo, tivemos talvez alguns poucos momentos em que o governo resistiu. Talvez em alguns momentos do governo lula, talvez em alguns do de Dilma, mas nos últimos meses o que temos visto é o capital agindo a partir do governo e dentro de suas ações. É lamentável que um governo que tenha sido eleito com compromissos com o trabalhador mude sua postura alguns meses depois de eleito”, encerrou, mantendo a linha dura.
OUTRO LADO -- Lideranças do Partido dos Trabalhadores foram procuradas para comentar o assunto, o rompimento e as palavras do presidente da Adufmat, mas ninguém atendeu ou retornou as ligações da reportagem.