“Dois Dedos de Prosa em Silêncio”, do escritor e jornalista Eduardo “Brigadeiro” Gomes de Andrade, é um livro que promete tudo, menos silêncio. Afinal o que é o ‘silêncio’? Num sentido visceral é a ausência de som, do barulho e da fala. No sentido teológico, silêncio é a verdade, pois a verdade nos liberta, mas o silêncio a que se refere o nosso Brigadeiro, no sentido jornalístico-metafórico, é a ausência da escrita, ausência das palavras no papel ou, pior de tudo, ausência da informação. Porém depois da leitura do livro vai acontecer, quem sabe, um bafafá, bem contrário àquele silêncio ensurdecedor que entristece qualquer escritor.
O personagem central do livro é o autor, embora ele procure se esconder. O Eduardo Brigadeiro vai estar presente em cada linha, parágrafo, cada página do livro, inclusive nas ilustrações, magnificamente desenhadas pelo quadrinista, cartunista, chargista, roteirista e designer gráfico Generino Rocha.
Explico. Eduardo Gomes Andrade é mineiro, natural de Conselheiro Pena, nasceu no distrito de Barra do Cuieté, sendo conterrâneo de Fio Maravilha, e mato-grossense de coração, de amor e paixão por este Estado que ele imaginou primeiro na ficção, por isso, lá atrás qualifico primeiro como escritor e depois como jornalista. Sim, Eduardo Gomes começou escrevendo, antes de tudo, uma história de bolsilivro, calcado nas histórias de Brigite Monfort, filha de Giselle Monfort, a espiã nua que abalou Paris, criação do jornalista Davi Nasser.
A história criada por Eduardo Gomes falava da saga de uma família mineira que veio para Mato Grosso, justamente para Poxoréu. Os nomes Poxoréu e Jaciara fervilhavam na mente do jovem escritor por conta dos anúncios do novo Eldorado e a história foi publicada e recebeu uma remuneração pelos direitos autorais. Escreveu ainda alguns artigos, reportagens de forma amadora que foram publicados nos jornais mineiros.
Acabou vindo Mato Grosso, especificamente para Rondonópolis. O ano era de 1970, o Brasil tinha vencido a Alemanha na final e erguido a taça de Jules Rimet enquanto Eduardo Gomes, por conta de um deslocamento duplo de retina resolve assumir a função de jornalista e se emprega no jornal “Folha de Rondonópolis”, do jornalista B.Cunha, onde escrevia de tudo.
Depois, bem depois, vai trabalhar no “Jornal do Dia”, de Benedito Alves Ferraz e lá escreve uma reportagem que caiu no gosto do jornalista Adelino Praeiro, deste Diário de Cuiabá, que o convida para responder pela sucursal do DC em Rondonópolis e, desde então milita no DC.
Correspondente do Diário de Cuiabá, freelancer para outras publicações de fora, e com o “vício” de viajar por Mato Grosso. O jornalista conta que no ano que visita apenas 130 municípios acha que não cumpriu a sua função. Segundo suas palavras Mato Grosso é uma metamorfose, não para. Às vezes, em questão de meses a fisionomia de uma cidade se altera. Não como cidades históricas mineiras, que passam cinco, seis anos, uma década e o que mudou foram as cores das casas, a pintura da igreja e a população que morreu ou nasceu mais gente.
Mato Grosso é diferente e o jornalista precisa estar presente para acompanhar e entender essa transformação. Segundo ele, o jornalismo, de certa forma, está agonizando e desqualificado. Muitos jornalistas (sem generalizar e com as exceções de praxe) acreditam que são filhos da rainha da Inglaterra e quando a mãe morrer vão herdar o reino. Jornalistas, segundo o Brigadeiro, precisam fazer um jornalismo mais detalhado, mais burilado, mais opinativo também, diferente dessa prática de sites, que publicam informações rasteiras, da profundidade de um pires. E se aprofundarem em Mato Grosso.
“O que temos é o jornalismo pardal, que vive entre o trevo do Lagarto e o Coxipó”, diz. Segundo ele, o fato mais relevante de Mato Grosso é o agronegócio e esse fato não acontece em Cuiabá. Aqui se tem duas vertentes. Uma da violência urbana e outro é o noticiário institucional: “O Pedro Taques vai mudar de partido, o senador Blairo Maggi está trocando de sigla, o Guilherme Maluf está procurando filiados para o PSDB. Isso, com todo respeito aos partidos e seus agentes, não interessa pro povo. Agora, quando se fala em Barra do Garças, já se está falando do turismo, das águas termais, da lenda do desaparecimento do Coronel Fawcett na Serra do Roncador, isso já tem uma importância econômica”, argumenta.
O novo livro – segundo o Brigadeiro – traz as histórias que, de alguma forma, foram relevantes na sua ótica e cobrem o período de 1970, quando desembarcou em Mato Grosso até 2015. Os casos ou causos são contados com alguma pitada de humor, mas sem nenhuma ordem cronológica. Os personagens também são aqueles que fizeram alguma coisa que marcou a nossa história. Algumas das histórias serão revelações, relatos de causos e personagens que ficaram esquecidos, por omissão ou conivência.
O escritor está apenas preocupado com uma questão: são reunidos no livro 50 textos, nos quais estão citados em torno de 300 pessoas. São citadas, por exemplo, Ricardo Teixeira (sem patrulha, por favor) mostrando sua importância para que Cuiabá fosse escolhida a Cidade Sede da Copa do Mundo 2014.
O jornalista escritor também avisa que procura ser o mais isento, ao narrar os fatos, sem que isso tenha qualquer caráter de julgamento. “Mesmo pessoas com as quais não me simpatizo estão retratadas no livro da forma mais respeitosa possível”.
A capa do livro é de Edson Xavier, diagramador que já vem trabalhando com Eduardo Gomes na edição da revista MT Aqui, o prefácio é do crítico e ensaísta Marinaldo Custódio e o livro está sendo financiado pelo próprio Brigadeiro, sem lei de incentivo e a promessa que todos os exemplares, sem exceção, serão vendidos. Por favor, não façam barulho, a história está sendo contada.