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10/10/15 às 17:39 / Atualizada: 10/10/15 às 17:44

CONTAS NA SUÍÇA: Aperta o cerco contra Eduardo Cunha

Relatório do Ministério Público suíço mostra que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), usou contas secretas na Suíça para pagar faturas de cartões de crédito internacional e despesas pessoais da mulher e da filha na Inglaterra, na Espanha e nos Estados Unidos, entre outros países. Entre os gastos estão até pagamento de US$ 59,9 mil para a IMG Academies, de Nick Bollettieri, famoso professor de tênis em Palm Beach, na Flórida.

As contas estão em nomes de offshores com sede em paraísos fiscais e não foram declaradas à Receita Federal. Os suíços investigaram Cunha por corrupção e lavagem. A partir de agora, ele poderá ser investigado também por sonegação fiscal e evasão de divisas, entre outros crimes. Parte da movimentação já rastreada pelos suíços indicam que uma das quatro contas recebeu 1.311.700 francos suíços (R$ 5,1 milhões) desviados de um dos negócios fraudulentos da Petrobras descobertos na Operação Lava-Jato.

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Parte do dinheiro passou pela conta do lobista João Augusto Rezende Henriques, delator da Lava-Jato, e foi repassado a Cunha. Pelas informações dos suíços, Cunha e a mulher, a jornalista Cláudia Cruz, abriram quatro contas secretas no banco Julius Baer, na Suíça, em nome de quatro diferentes offshores: Orion SP, Netherton Investments, Triumph SP e Kopek. Três contas foram abertas em 2008 e uma em 2007.

CONTA PAGOU CURSO MBA PARA FILHA DE CUNHA
As três primeiras contas têm como titular o próprio Cunha, segundo os documentos. A Kopek está em nome de Cláudia Cruz. Duas das quatro contas — a Orion e a Triumph — foram fechadas ano passado, logo depois do início da Operação Lava-Jato. Outras duas contas foram bloqueadas em abril deste ano com saldo de US$ 2.566.121,00, o equivalente a quase R$ 10 milhões. Mas a movimentação financeira de Cunha e Cláudia Cruz é bem superior a estas cifras.

Parte dos extratos bancários indicam que as contas de Cunha e da mulher receberam pelo menos US$ 5,9 milhões, o equivalente a R$ 22 milhões desde que foram abertas.

Parte do dinheiro da conta Kopek (US$ 119.795,95) foi gasta em pagamentos à Fundacion Esade, em Barcelona, na Espanha, entre 4 de agosto de 2011 e 15 de fevereiro de 2012. No mesmo período Danielle Cunha, filha de Eduardo Cunha, fez um MBA na escola.

Chamou a atenção dos investigadores também o montante gasto com cartões de crédito vinculados à conta em nome de Cláudia Cruz, algo em torno de US$ 841,7 mil (R$ 3,1 milhões). Cláudia pagou US$ 316.573,65 (R$ 1,1 milhão) com um cartão American Express, entre 5 de junho de 2008 e 3 de outubro de 2012.

Com um Corner Card, outro cartão de crédito internacional, ela gastou US$ 525.157,87, o equivalente a R$ 1,9 milhão, entre 3 de janeiro de 2013 e 2 de abril do ano passado. Para os investigadores, tudo indica que os gastos do casal Cunha e Cláudia Cruz são bem maiores que os valores indicados nos extratos bancários do Julius Baer. Os dois cartões seriam exclusivos para determinados tipos de despesas fora do país.

Parte do dinheiro da conta Kopek foi usado também para fazer um pagamento de US$ 52.421,25 para uma pessoa identificada até agora apenas como G.A. Outros US$ 8.405,55 foram destinados ao Malvern College, tradicional colégio no Pais de Gales.

Pelo rastreamento feito pelo Ministério Público suíço, as contas de Cunha foram abastecidas por diversas fontes, uma delas a Acona Internacional,uma offshore lobista João Augusto Rezende Henriques, preso em 21 de setembro na Operação Lava-Jato. João Henriques é acusado de pagar propina em troca de negócios ilegais na área Internacional da Petrobras.

A Acona fez quatro depósitos no valor total de 1.311.700 francos suíços na Orion, de Cunha, entre 30 de maio e 23 de novembro de 2011. Os depósitos foram feitos logo depois de o lobista intermediar um negócio de US$ 34,5 milhões entre a Companie Beninnoise, do empresário Idalécio de Oliveira, com a Petrobras. As contas de Cunha receberam ainda depósitos de cinco outras contas, ainda não rastreadas. Três destas cinco contas são do banco Merryl Lynch.

TENTATIVA DE CAMUFLAR ORIGEM DO DINHEIRO
Na pista do dinheiro, os suíços descobriram como Cunha distribuiu o dinheiro por suas outras contas. A Kopek, de Cláudia Cruz, recebeu US$ 1.050.000 da Triumph, de Cunha, entre 25 de março de 2008 e 17 de janeiro do ano passado. A Triumph recebeu recursos da Orion, que também fez pagamentos à Netherton. Para os investigadores, a movimentação entre as contas, que tem na fachada nomes de offshore, são indícios de tentativa de camuflar a origem e dificultar a identificação dos verdadeiros donos do dinheiro.

O relatório com a detalhada movimentação das contas secretas de Cunha chegou à Procuradoria-Geral da República na última quarta-feira. O Ministério Público suíço decidiu transferir a investigação sobre corrupção e lavagem de dinheiro do presidente da Câmara para o Brasil. A partir de agora, caberá ao procurador-geral Rodrigo Janot decidir se pede abertura de inquérito ou oferece nova denúncia contra Cunha.

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Em agosto o presidente da Câmara foi denunciado ao Supremo Tribunal Federal por supostamente receber US$ 5 milhões em propina para facilitar a contratação de dois navios-sondas da Samsung Heavy Industries pela Petrobras. O negócio de US$ 1,2 bilhão teria garantido uma propina de US$ 40 milhões para Cunha, para o ex-diretor de Internacional da Petrobras Nestor Cerveró e para o lobista Fernando Baiano.

Pela fraude, Cerveró e Baiano já foram condenados pelo juiz Sérgio Moro. Nas próximas semanas, o ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no STF, deverá decidir se abre processo contra Cunha. Na denúncia, Janot pede que o presidente da Câmara devolva US$ 80 milhões. O valor corresponde à propina e à multa pelas fraudes na contra a Petrobras.

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