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04/05/18 às 16:00

Aos 100 anos, alfaiate mantém ateliê no Centro de Cuiabá há mais de três décadas: 'Não pretendo parar'

Antônio Armindo Pedroso diz que desenvolveu a paixão pela profissão aos 11 anos em colégio interno. Ele tem 6 filhos, 11 netos e cinco bisnetos.

G1 MT

Edição: Clodoeste 'Kassu' AguaBoaNews

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Aos 100 anos, alfaiate mantém ateliê no Centro de Cuiabá há mais de três décadas: 'Não pretendo parar'

Antônio Armindo Pedroso continua trabalhando em ateliê

Foto: Kessillen Lopes/ G1

Embora tenha se aposentado há 38 anos, o alfaiate Antônio Armindo Pedroso, que completou 100 anos no mês passado, continua atendendo os clientes em seu ateliê, na Rua 24 de Outubro, no Centro de Cuiabá.
 
O interesse pela alfaiataria surgiu quando tinha 11 anos e ele diz não ter dúvidas de que o trabalho é o que o motiva a querer viver.
 
“O trabalho é a essência da vida. Não pretendo parar. Todos os meus amigos que pararam de trabalhar já morreram, então vou continuar. Qual é a graça de ficar olhando para o teto o dia todo, comendo e dormindo?”, questionou.
 
Ele nasceu em Poconé, a 104 km de Cuiabá, mas, diante de muitas dificuldades, em 1929 a família de Antônio mudou-se para a capital em busca de uma vida melhor.
 
Em Cuiabá, os pais o matricularam no internato do Colégio Salesiano São Gonçalo e não imaginaria que naquele lugar ele descobriria a profissão a qual se dedicaria a vida toda e da qual tiraria o susetnto da família.
 
“Foi naquele colégio que despertei o interesse pela profissão de alfaiate. Eu estudava de dia e participava da oficina de alfaiataria à tarde. Infelizmente, fiquei somente seis meses. Tive que voltar para casa porque estava com anemia e, no colégio, não tinha médico”, contou.
 
Antônio mora e trabalha no mesmo prédio, na Rua 24 de Outubro, em Cuiabá (Foto: Kessillen Lopes/ G1)
Antônio mora e trabalha no mesmo prédio, na Rua 24 de Outubro, em Cuiabá (Foto: Kessillen Lopes/ G1)
 
Antônio conta que, quando se recuperou da anemia, tentou voltar à escola, mas não havia mais vaga.
 
“Fiquei triste, mas em 1930 comecei a trabalhar em uma alfaiataria na Praça da República (no Centro de Cuiabá). Estudava em outra escola de manhã, fazia calças à tarde e depois do expediente vendia jornais no Centro. Na época era bom, vendia tudo”, explicou.
 
De acordo com Antônio, em 1939 a alfaiataria em que ele trabalhava fechou as portas por falta de demanda da clientela. Depois disso, ele começou a viajar, sempre em busca de trabalho para conseguir ajudar a família, que permaneceu em Cuiabá.
 
“Eram muitas alfaiatarias para pouco serviço. Em Cuiabá, não tinha movimento. Resolvi viajar, fui para Poxoréu (a 259 km de Cuiabá). Lá era muito movimentado, trabalhei um tempo e viajei de novo”, contou.
 
Um amigo o aconselhou a se mudar para uma cidade maior, mas na época não tinha condições financeiras para a mudança e esse amigo o ajudou.
 
“Meu amigo foi bom, ele comprou a passagem para mim rumo a Corumbá (MS). Minha mãe sempre dizia: 'cuidado com os paraguaios, essa gente é perigosa'. Quando cheguei na cidade, arrumei um trabalho na alfaiataria de um paraguaio, mas ele era gente boa, me ajudou muito, tinha um coração de ouro”, relembra.
 
Com o dinheiro que juntou com o trabalho em Corumbá, ele viajou para Campo Grande, onde tinha mais oportunidades de trabalho. Lá, Antônio trabalhou durante seis meses com outro paraguaio.
 
“O prefeito de Campo Grande disse para eu ir para Aquidauana (MS), porque lá tinha mais serviço. Sem pensar duas vezes, falei: 'eu vou'. Trabalhei um tempo e voltei para Corumbá”, disse.

Entre idas e vindas, Antônio conta que precisou voltar a Cuiabá, pois o estado de saúde da mãe dele era delicado.
 
“Depois de seis meses na capital, minha mãe faleceu. Mas nessa época Cuiabá era outra cidade, avançou muito, então arrumei um sócio e resolvi montar uma alfaiataria em Cuiabá”, explicou.
 
Em 1945, por causa da Segunda Guerra Mundial, ele deixou a alfaiataria e foi para o Exército, onde passou um ano. “Todos os meses 20 soldados saíam para a guerra. Eu não fui, se invadissem o nosso país, eu iria, mas caçar confusão em outro país não vou não”, brincou.
 
Já em 1949, Antônio deixou o sócio novamente e foi para o Rio de Janeiro para conhecer novas tendências de moda.
 
“No Rio de Janeiro, aprendi novos cortes e conheci a moda que estava em alta. Trabalhei um mês em uma alfaiataria, fazia só roupas femininas. Quando vi que eu já estava treinado, voltei para Cuiabá, implantei a nova moda e o movimento aumentou”, contou.
 
Um dos filhos do alfaiate trabalha com ele no ateliê (Foto: Kessillen Lopes/ G1)
Um dos filhos do alfaiate trabalha com ele no ateliê (Foto: Kessillen Lopes/ G1)
 
O casamento foi no ano seguinte, em Cuiabá. Antônio e Ivone estão juntos há 67 anos e tiveram seis filhos, que lhes renderam 11 netos e cinco bisnetos. Atualmente, um dos filhos ajuda-o na alfaiataria.
 
“Depois que me casei, parei de viajar, porque vieram os filhos e não dava para deixar a família. Continuei trabalhando na alfaiataria com o meu sócio e, com o dinheiro que ganhava, construi um sobrado, Moro em cima e abri uma alfaiataria em baixo”, explicou.
 
Antônio disse que não pretende parar de trabalhar e ressalta que o trabalho é o que ele faz de melhor.

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