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13/07/18 às 23:38

De plagiado

Quem inventou o voto secreto e universal foi um sujeito muito esperto e que não pensou somente do princípio democrático do regime do povo para o povo, pois isso, via de regra, costuma ser conversa pra boi dormir. Mesmo assim acho; acho, não, tenho certeza, que o garnizezinho Professor Pardal (Gyro Gearloose, em inglês) criado em 1952 por Carl Barks para os estúdios Disney faria melhor para o ato de votar.

Convenhamos, se o voto fosse aberto, declarado, seria constrangedor para muitos. Como explicar ao boa-praça corrupto a escolha de outro ao invés dele? Seria difícil em muitas circunstâncias contrariar eleitoralmente o patrão, o amigo, ou desencantar o político que chorou no sepultamento de sua madrinha – muito embora não soubesse seu nome.

O garnizezinho chega ao texto misturando ficção e realidade. Imaginemos que o bípede inventor criasse um dispositivo que despertasse o senso de justiça, de responsabilidade cívica e de amor ao Brasil (a Mato Grosso e Cuiabá, também), e que o mesmo fosse colocado em todas as urnas pela nossa muito lenta e cara Justiça Eleitoral. Com ele, o eleitor ao “adentrar a indevassável cabine” – como diriam os ilustres letrados formadores de opinião – seria possuído por uma corrente cívica que não sugeriria nenhum (dos poucos) nomes bons, mas que teria força suficientemente capaz de impedir o voto intempestivo ou de cabresto.

Não temos em nosso plano o Professor Pardal. Se o tivéssemos, os poderosos tentáculos do politicamente correto, das ONGs, dos direitos humanos e do zeloso Ministério Público entrariam em cena barrando o dispositivo por considerá-lo nocivo a livre manifestação política.

Sem o dispositivo do Professor Pardal, iremos às urnas onde serão depositados votos de cabresto, de gratidão por apadrinhamento, de submissão, de medo e até mesmo de conivência. O previsível resultado é a continuidade do status quo.

Esse status quo é alicerçado em poderosas forças financeiras, econômicas, grupais, no marketing que age como na pistolagem sem se preocupar com as consequências do cumprimento contratual, na imprensa – quase sempre empenhada - também apelidada de quarto poder e até mesmo na cultura que nasce da máxima popular “quem não pode com o diabo a ele se alia”.

Não nos iludamos. As cartas estão na mesa. Uma ou outra peça será mudada, mas a essência do poder será a mesma, independentemente de quem vença, pois acima de siglas e de brigas gutembergueanas de fachada eles se completam – sempre foi assim.

Não temos o mundo da criação do Professor Pardal, que vive em Patópolis, onde nasceu, mas em compensação vivemos num país, num Estado e num município quase tricentenário onde sobra o Professor Gavião aqui plagiado pela grande e inconsequente indiferença de nossa gente com o amanhã de nossos filhos e netos.
 
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