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01/04/24 às 22:52

Encontro Nacional de Fé e Política

“É necessária a melhor política, a política colocada a serviço do bem comum. Mas hoje, infelismente, muitas vezes, a política assume formas que dificultam o caminho para um mundo diferente (e melhor)” Papa Francisco, Fratelli Tutti, 154.

“Precisamos voltar a pôr a dignidade humana no centro (da política e da economia) e sobre aquele pilar devem ser construidas as estruturas sociais alternativas das quais precisamos” Papa Francisco, Fratelli Tutti, 168.

“O Papa Francisco convoca-nos a participar da renovação da Igreja, todos protagonistas. Da mesma forma, a sociedade civil, com suas instituições democráticas (muitas vezes ameaças por  tentativas de golpes,  como aconteceu recentemente, em 08 de Janeiro de 2023), clama por qualificada dedicação cristã, para que seja vivido um novo tempo, alcançadas respostas novas, urgentes `a construção de um mundo melhor. Por isso mesmo, nenhum cristão pode permanecer alheio (pecado da omissão) `a tarefa de contribuir para que a sociedade se torne justa, solidária e fraterna: é compromisso de fé dedicar atenção `a POLITICA, buscando resgatar a sua nobre vocação – singular expressão da caridade”. Dom Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo de Belo Horizonte e na época Presidente da CNBB, Apresentação do Documento Caderno Encantar a Política, 21/04/ 2022.

Neste próximo final de semana, entre os dias 05 e 07 de Abril estará acontecendo em Belo Horizonte o 12º Encontro Nacional de Fé e Política, tendo como tema central “Espiritualidade libertadora: Encantar a Política com Arte, Cultura e Democracia”.

O Movimento Nacional de Fé e Política surgiu/foi fundado em Junho de 1989, um ano após a promulgação da Constituição de 1988, um marco significativo na consolidação da democracia, surgido após mais de duas décadas de ditadura militar, com o objetivo de buscar uma participação consciente e crítica dos cristãos na política que pudesse contribuir para a construção de uma sociedade e um país democrático, justo e com igualdade e participação popular.

Conforme o próprio movimento anfatiza: “O Movimento Nacional Fé e Política foi criado em junho de 1989, durante um Encontro de pessoas unidas pela Fé Cristã, engajadas nas lutas populares, com o objetivo de alimentar a dimensão ética e espiritual que deve animar a atividade política. Deixar-se animar pelo Espírito da vida, é a essência do Movimento Fé e Política, que não propõe diretrizes para a ação política dos cristãos, nem se comporta como se fosse uma tendência político-partidária, mas que luta pela superação do capitalismo (e do neoliberalismo) por meio da construção de um sistema sócio-econômico solidário e respeitoso da vida no planeta”.

O primeiro Encontro aconteceu em Santo Andre/SP, nos dias 02 e 03 de Dezembro do ano 2000 e contou com a participação de tres mil pessoas, representando 22 Estados e teve como tema “mística da militância” e, desde então a cada dois ou tres anos aconteceram outros Encontros, sempre em cidades e regiões diferentes, tendo também, sempre novos temas, em torno dos quais giram todas as discussões, na busca dos caminhos que conduzam o país rumo a uma sociedade sem exclusão, sem violência, com participação e o fortalecimento da democracia, da sustentabilidade e da dignidade humana.

Cabe destacar que o Sétimo Encontro, ocorrido nos dias 28 e 29 de Novembro de 2009, na cidade de Ipatinga, MG, superou todas as expectativas dos organizadores, quando nada menos do que 3.600 pessoas, tambem representando todas as regiões e estados do Brasil estiveram presentes. O tema central do Encontro foi “Cuidar da vida: Espiritualidade, ECOLOGIA e Economia”.

O último (11º  Encontro Nacional) foi realizado em Natal, no Rio Grande do Norte entre os dias 12 a 14 dse julho de 2019 e contou com a participação de mais de 850 pessoas, tendo como tema central “Democracia, políticas públicas e alternativas sociais: sinais dos tempos na construção do bem viver”.

Neste 12º Encontro Nacional, que será realizado neste próximo final de semana, além de uma Conferência inicial sob o Tema “Espiritualidade Libetadora: Política, Democracia, arte e cultura”, tendo como assessores/coordenadores Frei Beto, Lusmarina Campos Garcia, Sonia Gomes, um representante do Conselho Nacional do Laicato e também de Zé Vicente, acontecerão mais 10 conferências temáticas, simultâneamente, abordando os mais diversos temas como “Bem Viver, Economia solidária, decrescimento e socialismo”, “Eleições 2024: panorama conjuntural e desafios `as candidaturas”; “Educação Política popular:Encantar a política”; “Cultura popular libertadora e o uso das midias digitais”; “Capitalismo de Rapina e emergência climática: é possível evitar e como combater” (esta conferência terá como assessor/coordenador Leonardo Boff);  “A pessoa de Jesus e os pobres: Fé e política libertadora nos espaços eclesiais – tensões, fundamentalismo e clericalismo”; “Atualidade geopolítica e a construção da paz mundial”; “Terra para quem dela e nela vive (Povos originários, MST e Quilombolas”. “A Arte como canal de transformação estrutural” e, “Formas religiosas populares”.

Durante o evento haverá uma intensa troca de experiência e de vivências entre os participantes, buscando, de um lado fortalecer os grupos, pastorais e escolas de fé e política ou de Fé e Cidadania ja existentes em inúmeras Arquidioceses, Dioceses e Paroquias e também contribuir com subsídios para a organização de novos grupos e pastorais de Fé e Política onde os e as mesmas ainda não existem, como é o caso da Arquidiocese de Cuiabá.

Representando a Arquidiocse de Cuiabá estarão participando deste 12º Encontro Nacional de Fé e Política os professores Luis Lopes, Coordenador da Campanha da Fraternidade na Arquidiocese de Cuiabá e no Regional Oeste 2 da CNBB (todo o Estado de Mato Grosso) e integrante da Caritas Arquidiocesaana de Cuiaba e o Prof Juacy da Silva, fundador da FETAGRI/MT, Articulador da Pastoral da Ecologia Integral na Região Centro Oeste e um dos incentivadores da Organização da Pastoral da Ecologia Integral da Arquidiocese de Cuiabá e também um dos fundadores e ainda participante da Caritas Arquidiocesana de Cuiabá.

Estamos no limiar das eleições municipais, quando os eleitores irão escolher, através do voto direto, secreto, utilizando as URNAS ELETRÔNICAS, seguras e invioláveis, prefeitos/prefeitas; vereadoras/vereadores de todos os municípios brasileiros, contribuindo para o fortalecimento da democracia em nosso país, tão ameaçada nos últimos anos.

Nós, como cristãos, católicos, evangélicos ou integrantes das demais religiões, além de fiéis, somos cidadãos, cidadãs, pagamos uma imensa carga tributária e temos o direito de lutarmos por um país justo, solidário, onde a violência, a pobreza, a miséria, da mesma forma que a incompetência na gestão pública e a corrupção sejam formas distorcidas da prática da verdadeira política e que devem ficar no passado.

As consequências, por exemplo, da violência, da miséria, da falta de saneamento básico, do aquecimento global, da degradação de nossos biomas, da destruição da biodiversidade afetam indistintamente cristãos e não cristãos, católicos ou evangélicos.

Se todos somos contribuintes, pagadores de uma imensa e pesada carga tributária, temos o direito de recebermos “em troca” obras e serviços públicos de qualidade, em todas as áreas, principalmente na educação, da segurança alimentar, na infra-estrutura urbana e rural, na saúde, no meio ambiente, na segurança pública, enfim, em todas as áreas em que são definidas as políticas públicas.

Por isso é que precisamos, como cristãos, principalmente, vivenciar e propugnar  por uma ESPIRITUALIDADE LIBERTADORA, que consiga encantar a verdadeira política e defender a vida, a democracia, o meio ambiente, respeitando, também o direito que as próximas gerações tem de viverem em um país, um Estado e um município, enfim, em um planeta que ofereça condições e garanta a dignidade e os direitos humanos fundamentais a todas as pessoas.

A espiritualidade libertadora defende a vida, o direito e a dignidade das pessoas, os pobres, os excluídos e não o lucro, a acumulação de bens materiais, a riqueza, a ostentação e o poder. Só assim, tem sentido quando a Igreja faz a opção preferencial pelos pobres, caracterizando-se por ser uma Igreja Sinodal, Samaritana e profética.

Finalizando, gostaria de reproduzir as palavras do Papa Francisco quando ele diz “Todos aqueles que  estão emprenhados na defesa da dignidade das pessoas (principalmente dos escluidos) podem encontrar na fé cristã (na Espiritualidade libertadora), as razões mais profundas para tal compromissao”. Laudato Si, 65.
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