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19/11/21 às 08:42

De hora do combate

Pecuária não é profissão. É paixão. Pelo menos para boa parte dos que ganham o pão na cadeia dessa atividade econômica que começa no campo e literalmente avança pelas rodovias até as cidades onde estão os frigoríficos, laticínios e supermercados. Propor redução drástica no rebanho bovino brasileiro por motivação ambiental é procurar briga. Porém, diante do aquecimento global será necessário rearranjo na engenharia produtiva, na esfera comportamental humana e uma travada bem forte no consumo de combustível de origem fóssil.          

O Brasil tem culpa ambiental. O país não se interessa pela mudança da matriz do transporte terrestre urbano e rodoviário, trocando o caminhão pelo trem e retirando de circulação nas cidades o ônibus botando em seu lugar o metrô – inclusive de superfície – e o veículo leve sobre trilhos (VLT), ambos elétricos.      
 
  O país também não assume responsabilidade com a urgência necessária, para substituir as descomunais hidrelétricas por energia solar e eólica, o que convenhamos, é um atentado contra a lógica.        

Chegamos ao curral. Ao boi. O Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG) mostra que os mais de 392 milhões de bovinos brasileiros, dos quais 30 milhões mato-grossenses, respondem por 17% das emissões de gás carbônico no Brasil. Num comparativo o SEEG cita que se esse gado fosse país, seria o 17º maior poluidor, à frente da Ucrânia, por exemplo.  
     
Nem tente mostrar isso a algum pecuarista da velha guarda. Porém, o Estado Brasileiro deveria conversar oficialmente com a cadeia pecuária propondo drástica redução do rebanho. Isso implicaria no fortalecimento de outros segmentos pecuários e na mudança parcial dos hábitos alimentares, o que provocaria uma revolução no campo, incluindo o aspecto social, pois o boi está incorporado ao universo da pecuária desde a colonização brasileira.       

O encolhimento do rebanho deveria atingir os animais de terminação, sem prejuízo ao leite, preservando as vacas leiteiras e mantendo matrizes para uma produção menor de bezerros. A terra excedente poderia produzir milho, soja e algodão em rotação de cultura para as granjas integradas, e cana para virar etanol e bioenergia.      

  A questão da pecuária tem que entrar na agenda, mas não somente ela. O governo deve investir nas mudanças da matriz de transporte terrestre e de geração de energia; tem que estancar o derramamento de esgoto nos rios; precisa proibir a exportação de madeira bruta e beneficiada, como parte de uma política de desmatamento zero.  
       
Da porteira pra dentro o boi ainda pastará e reinará por muito tempo. O rodoviarismo sempre descarrila o trem. A geração de energia é sustentada com força – sem trocadilho – por poderosos grupos empresariais. E o esgoto; ora, esgoto não rende voto, como acreditam políticos. Não será fácil, mas está na hora de botar as luvas para esse combate.
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