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07/10/21 às 11:57

Cinquenta anos sem Ana Maria do Couto

Ana Maria do Couto, mais conhecida como May (excepcionalmente, pronuncia-se “Maí”), nasceu em Cuiabá, em 13 de setembro de 1925. Foi esportista, professora, política, jornalista, advogada, e depois, promotora da Justiça Militar. Teve uma vida breve, mas viveu à frente do seu tempo e foi pioneira em algumas das áreas que atuou.

Campeã carioca de arremesso de disco pelo Fluminense em 1944, foi a primeira esportista mato-grossense a se destacar fora do estado de Mato Grosso. Graduou-se no curso de Educação Física na Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1944 e foi a primeira professora de Educação Física concursada em Mato Grosso. Foi eleita presidente do Clube Esportivo Dom Bosco, clube social e de futebol de Cuiabá, em 1971, em sua fase áurea, e fez parte do Conselho Deliberativo desse clube. Até hoje, foi a única mulher a assumir a presidência do clube.

Foi eleita vereadora de Cuiabá em 1962 pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e, em 1965, tornou-se a primeira presidenta da Câmara Municipal de Cuiabá.

Na mídia, atuou como locutora de um programa jornalístico na Rádio “A Voz d´Oeste” chamado “Bandeirante no Ar”, em 1952. Com a chegada da televisão em Cuiabá, em 1969, redigiu e apresentou o programa “Galerias de Vultos Ilustres” na TV Centro América. Em 1970, foi registrada no Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) como jornalista autônoma, em consonância com a legislação vigente.

Graduou-se em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso com a primeira turma de formandos, em 1962. Foi advogada e, em 1967, tornou-se promotora da Justiça Militar de Mato Grosso.

Participou ativamente da vida cultural de Cuiabá em sua época. Colaborou efetivamente com as festividades dos 250 anos de Cuiabá, em 1969, tendo recebido o Troféu Bororo e o Diploma de Honra ao Mérito. Foi ela que, em 1969, levantou recursos com o comércio local para a construção do monumento às três raças: o negro, o indígena e o branco, representado pelo bandeirante, localizado na Avenida Coronel Escolástico em Cuiabá.

May nasceu em uma família simples. O pai era um amante de serestas e extremamente boêmio. A mãe, além de cuidar da casa e dos cinco filhos, precisava costurar para ajudar nas despesas quando o esposo estourava o orçamento nas incursões noturnas. Ana Maria fez o curso de Educação Física no Rio de Janeiro só porque conseguiu uma bolsa de estudo. Após vencer o campeonato carioca de arremesso de peso pelo Fluminense, recebeu o convite para continuar na capital carioca, mas, retornou à Cuiabá para trabalhar e ajudar nas despesas domésticas.

O que poucos sabem é que May sempre foi muito dedicada à família. Sempre que possível, proporcionava reuniões familiares em sua casa. Nunca mais deixou que a mãe passasse necessidades financeiras.  Sua mãe, Chiquita, sentia uma verdadeira adoração por ela. Ela ficou inconsolável e nunca se recuperou da partida da filha. Dizia que só voltaria a ser feliz quando a reencontrasse na eternidade. Hoje, ambas descansam juntas, no mesmo espaço, no Cemitério da Piedade.

May foi uma pessoa que se fez sozinha. Tudo o que conquistou foi com o seu próprio suor. Não teve dinheiro e nem qualquer ajuda da família. Trabalhou arduamente ao longo de muitos anos. Mirou-se no exemplo da sua mãe, sempre trabalhando.  

Do pai, herdou o gosto por festas e pelo convívio social. Com a vida financeira e profissional estabilizada, tornou-se uma grande anfitriã. A sua residência costumava ser um ponto de encontro de intelectuais, políticos e amantes das artes em geral.

Carismática, com uma personalidade marcante e um sorriso contagiante, May foi muito popular à sua época.  Ela se fez respeitar em todas as rodas sociais, mas, nunca se esqueceu da sua origem humilde. Em sua casa, de fato, sempre cabia mais um prato à hora da refeição.

A ousadia e o pioneirismo marcaram a sua vida profissional, e, a generosidade, a sua vida pessoal. Acima de tudo, May foi um ser humano incrível, que desafiou e venceu os preconceitos da época. Foi mais ela, em todos os momentos de sua vida. Erguia a cabeça e enfrentava qualquer situação adversa.

O seu falecimento, em 17 de outubro de 1971, cerca de um mês após ter completado 46 anos, emocionou a cidade. Nesse domingo, as rádios tocaram apenas músicas clássicas e suaves em sua homenagem. O seu corpo foi levado em cima de um carro do Corpo de Bombeiros e o cortejo seguiu, a pé, de sua residência até o cemitério. A bandeira do Clube Esportivo Dom Bosco cobriu o seu ataúde e uma multidão acompanhou a sua despedida. O câncer, que a acometera por mais de dois anos, finalmente havia vencido a batalha.  

Quem passar por perto, faça silêncio. No Cemitério da Piedade, em Cuiabá, repousa uma guerreira, uma mulher que ousou, ousar: seu nome, Ana Maria do Couto, apelido, May.
 
Telma Cenira Couto da Silva,  sobrinha de Ana Maria do Couto
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