É comum pessoas que já fizeram a passagem serem conduzidas para esclarecimentos nas casas religiosas que praticam a mediunidade. Os que são trazidos para as reuniões são pessoas que se foram e que por acreditarem que nada existia depois ficam perdidas, sem rumo, não entendendo a nova realidade. Muitos acreditam estarem sonhando, tendo pesadelos, e outros tantos tem a sensação de estarem ainda vivos e procuram continuar vivendo como se estivessem ainda o corpo carnal.
É verdade que mesmo em condições confusas esses irmãos não deixam de estarem amparados pela Espiritualidade Maior, pois o Pai nunca abandona Seus filhos.
Numa dessas reuniões de atendimento aos necessitados que se foram, compareceu um desencarnado, sendo o caso narrado assim pelo autor da psicografia: “Era um homem esguio e triste, exibindo o braço direito paralítico e ressecado. Atendendo-me ao olhar interrogativo, o companheiro, como quem não mais dispunha de tempo para o comentário fraterno, apenas me disse: – Faça uma auscultação. Repare por si mesmo. Acerquei-me do amigo sofredor. Toquei-lhe a fronte, de leve, e registrei-lhe a angústia. Nas recordações que se lhe haviam cristalizado no mundo mental, senti o drama interior. Fora musculoso estivador no cais, alcoólatra inveterado que, certa feita, de volta a casa, esbofeteou a face paterna, porque o velho genitor lhe exprobrara o procedimento. Incapaz de revidar, o ancião, cuspinhando sangue, praguejou desapiedado: – Infame! o teu braço cruel será transformado em galho seco... Maldito sejas! Ouvindo tais palavras que se fizeram seguidas por terrível jacto de força hipnotizante, o mísero tornou à via pública, sugestionado pela maldição recebida, bebericando para esquecer.
Cambaleante, foi vitimado num desastre de bonde, no qual veio a perder o braço. Sobreviveu por alguns anos, coagulando, contudo, no próprio pensamento a ideia de que a expressão paternal tivera a força de uma ordem vingativa a se lhe implantar no fundo d’alma e, por isso, ao desencarnar, recuperara o membro dantes mutilado a pender-lhe, ressecado e inerte, no corpo perispirítico.
Enquanto refletia, o nosso orientador reaproximou-se de nós e, percebendo quanto se passava, informou: – É um caso de reajuste difícil, reclamando tempo e tolerância. E, afagando os ombros do paralítico, acentuou: – Nosso amigo traz a mente subjugada pelo remorso com que ambientou nele mesmo a maldição recebida. Exige muito carinho para refazer-se.”
Às vezes espraguejamos, amaldiçoamos emitimos raiva para uma pessoa. Não sabemos que efeito esse nosso comportamento poderá causar ao final. Somos responsáveis pelos desejos de fazer o mal a outrem e seremos cobrados.
Pensemos nisso!