Artigos / Eduardo Gomes

03/03/17 às 20:05

De trevas

Rodeado por todos os lados pela América do Sul, assim é Mato Grosso. Essa localização não deveria ser entrave para seu mercado internacional em razão dos acessos regionais aos portos que a natureza inspirada na Mão Divina lhe deu. Somem-se a eles o transporte rodoviário e ferroviário existentes e que podem ser melhorados. Portanto, não é a logística, mas sim a incapacidade política a culpada pelos gargalos às exportações e o afunilamento de nossa ligação com a Pátria Mãe Gentil, como o Brasil é chamado por Aldir Blanc e João Bosco em “O bêbado e a equilibrista” que leva a chancela dos dois.

Pelo reduzido espaço editorial, foco a logística do acesso aos portos paraenses do Arco Norte em Santarém e Itaituba (Miritituba). Um assunto do momento é o atoleiro em que se transformou parte da BR-163. Sobre ele: a rodovia foi inaugurada em 20 de outubro de 1976 pelo presidente Geisel e desde então, todos os anos, todos os meses e todos os dias ela deu passagem nos dois sentidos. Seu projeto de pavimentação também sofreu atraso porque o Ibama relutou em conceder licença ambiental para a substituição das suas pontes de madeira pelas de concreto.

Nossa BR-163 é a melhor rota para o Nortão exportar commodities. A ela poderiam se somar outros dois meios de transporte e ambos deveriam estar em operação a todo vapor: ferrovia e hidrovia.

Em 3 de setembro de 2011, numa reunião em Castelo de Sonhos (PA), Marco Polo Moreira Leite, presidente da Asian Trade & Investiments, disse aos governadores Simão Jatene (PA) e Silval Barbosa que sua empresa investiria 10 bilhões de dólares numa ferrovia com 800 quilômetros de Cuiabá a Santarém, numa obra que seria executada em 450 dias. Os chineses pediram garantia jurídica e o Brasil não pôde dá-la.

Em 1997 o Ministério Público Federal em Santarém e Cuiabá conseguiu na Justiça Federal barrar estudos e obras na Hidrovia Teles Pires-Tapajós acima de Itaituba. Esse cadeado continua trancado.
Qual a resposta política a tudo isso? Nenhuma! A classe política (salvo exceções) se perde na atividade-meio, briga por verbas indenizatórias, auxílio-moradia para juízes etc. etc.

Entidades representativas dos setores produtivos interessados imitam gatos de armazém. Tudo que fizeram foi criar um certo Movimento Pró-Logística, que é igual orelha de freira: existe mas ninguém vê.

Vivemos os tempos do “quanto pior, melhor” com nossos políticos paladinos superficiais com a BR-163 ora sendo atoleiro sem fim ora um canudo interminável de poeira; enquanto as águas do Teles Pires e do Juruena se abraçam rumo ao Pará sem direito à companhia das barcas transportadoras de riquezas; e sem ouvir o apito do trem, nesta terra onde lei existe somente para garantir direitos adquiridos dos poderosos, lhes conceder benefícios e lançar seus rigores aos seus adversários. Esse é o tom de meu novo livro “Nortão BR-163: 46 anos depois”, que Mato Grosso deveria ler para poder enxergar o que as trevas nos escondem.
Eduardo Gomes

Eduardo Gomes

Eduardo Gomes é jornalista e escritor
.
ver artigos

comentar  Nenhum comentário

AVISO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do Agua Boa News. É vetada a inserção de comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. O site Agua Boa News poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios impostos neste aviso ou que estejam fora do tema da matéria comentada.

 
 

veja maisArtigos

Juacy da Silva

Vamos cuidar melhor da nossa 'Casa Comum'?

“Quando os seres humanos destroem a biodiversidade na criação de Deus, quando os seres humanos comprometem a integridade da terra e contribuem para a mudança climática, desnudando a terra de suas florestas naturais...

 
 
 
 
Sitevip Internet