Artigos / Max Lima

20/08/25 às 14:48

Como a saúde intestinal pode influenciar a insuficiência cardíaca

Você sabia que dentro do seu corpo vive um verdadeiro “universo paralelo” formado por trilhões de microrganismos? Eles não estão só no intestino, mas também na pele, boca, pulmões e outros locais.

No entanto, é no intestino que eles formam a comunidade mais numerosa e diversificada  o chamado microbioma intestinal.

Esse microbioma ajuda na digestão de fibras, na produção de vitaminas, na regulação da imunidade e até na saúde do coração. Mas, quando o equilíbrio dessa comunidade é perdido, ocorre a chamada disbiose intestinal, que pode estar ligada a várias doenças, incluindo a insuficiência cardíaca.

O elo entre intestino e coração
Na insuficiência cardíaca, o coração perde parte de sua capacidade de bombear sangue adequadamente. Isso pode afetar o intestino de várias formas: o fluxo de sangue diminui, a parede intestinal perde integridade e substâncias inflamatórias produzidas por bactérias podem “vazar” para a circulação. Entre elas, destaca-se o LPS (lipopolissacarídeo), que provoca inflamação no corpo todo e pode agravar a doença cardíaca.

Além disso, algumas bactérias produzem compostos prejudiciais como o TMAO, associado a maior risco de infarto, derrame e morte por causas cardiovasculares. Por outro lado, outras bactérias produzem substâncias benéficas, como os ácidos graxos de cadeia curta (butirato, propionato, acetato), que ajudam a controlar a pressão arterial, reduzir inflamações e manter a barreira intestinal saudável.

O ciclo da inflamação

Quando há disbiose, as bactérias “boas” diminuem e as produtoras de toxinas aumentam. Isso gera inflamação crônica de baixo grau silenciosa, mas persistente que pode levar à piora progressiva da insuficiência cardíaca.
Esse processo cria um ciclo vicioso: a doença cardíaca afeta o intestino, e o intestino, por sua vez, piora a saúde do coração.

Podemos reverter essa situação?
Estudos estão investigando estratégias como:
* Mudanças na alimentação, com aumento do consumo de fibras, frutas, verduras e legumes;
* Probióticos e prebióticos, que ajudam a restaurar a flora intestinal saudável;
* Controle rigoroso de doenças associadas (pressão alta, diabetes, obesidade), que influenciam tanto o coração quanto o intestino;
* Novos medicamentos que bloqueiam substâncias tóxicas produzidas pelas bactérias.

Apesar do entusiasmo, ainda não existe um “tratamento intestinal” comprovado para insuficiência cardíaca. A ciência está avançando para entender melhor quais bactérias e substâncias realmente fazem diferença e como modulá-las de forma segura.

O recado final
Cuidar da saúde do intestino não é apenas questão de digestão — pode ser uma estratégia importante para proteger o coração. Comer de forma equilibrada, manter-se ativo, hidratar-se e evitar uso excessivo de medicamentos desnecessários são medidas simples que fortalecem esse “universo” interno e, de quebra, podem beneficiar seu sistema cardiovascular.
Como disse Lewis Carroll, em Alice no País das Maravilhas:
“Quem sou eu no mundo? Ah, esse é o grande enigma.” Quando falamos de microbioma e coração, a ciência está justamente desvendando esse enigma e nós somos parte dele.
Max Lima

Max Lima

Max Wagner de Lima é Cardiologista e Mentor em Saúde de Alta Performance, Especialista em Clínica Médica pelo Instituto dos servidores do Estado de São Paulo (HSPE-FMO ), Especialista em Cardiologia pelo Instituto Dante Pazzanese, Especialista em Terapia Intensiva pela AMIB, Fellow pela Sociedade Europeia de Cardiologia,  Ex Conselheiro Federal de Medicina (2019-2024), Presidente da SBC MT – biênio 2016-2017.  
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