Artigos / Soraya Medeiros

18/08/25 às 14:01

Quando o silêncio grita!

Ontem o dia terminou triste. A notícia da partida de Anselmo Carvalho, um dos jornalistas mais geniais que Mato Grosso já teve, caiu como um peso no peito. O silêncio que ficou não é apenas de ausência, mas de reflexão.

Tive o privilégio de conviver com ele na redação. Lembro da sua postura firme, da inteligência afiada e da generosidade em ensinar. Anselmo não guardava conhecimento só para si: compartilhava, orientava, corrigia e inspirava. Foi um grande mestre, e muito do que sou hoje como profissional devo à convivência com ele. Mais do que um jornalista brilhante, era um ser humano que nos ensinava pelo exemplo.

E não posso deixar de lembrar também de outro mestre, o jornalista Luiz Acosta, que há algum tempo também nos deixou. Assim como Anselmo, Luiz foi exemplo de profissionalismo e ética, alguém que acreditava no poder transformador da palavra e do jornalismo. Conviver com ambos foi um privilégio que guardo com gratidão e saudade.

Mas, além do legado, a despedida de Anselmo nos lembra algo que insistimos em deixar para depois: precisamos falar sobre saúde mental.

Eu sei bem o que significa carregar uma dor invisível. Há seis anos caminho entre consultas, terapias e crises. Convivo com a síndrome do pânico e a ansiedade. Sei como é acordar com o coração disparado sem motivo aparente, sei o que é lutar contra a própria mente que insiste em criar medos e fantasmas. Sei também como é difícil explicar ao mundo o que acontece por dentro quanto, por fora, o sorriso esconde a tempestade.

Mas aprendi, nesse mesmo caminho, que a vida pode ser recomeçada todos os dias. Que cada pequena vitória — levantar da cama, respirar fundo no meio da crise, encarar um medo que parecia intransponível — já é um ato de coragem. E que não há fraqueza em pedir ajuda; há força. Não há derrota em admitir que se precisa de apoio; hà humanidade.

Vivemos correndo, distraídos, perdendo a chance de olhar de verdade para quem está ao nosso lado. Quantos amigos, colegas, familiares carregam dores silenciosas sem que a gente perceba? Quantos gritam sem emitir som algum? A partida de Anselmo é dura, mas também é um chamado.

Que a partida de Anselmo não se perca em mais um luto coletivo sem aprendizado. Que sirva como alerta de que precisamos cuidar da saúde mental com a mesma seriedade com que cuidamos do corpo. Falar, acolher, ouvir e estar presente pode salvar uma vida. E talvez essa seja a verdadeira homenagem que podemos oferecer a ele: transformar a dor em consciência.
Soraya Medeiros

Soraya Medeiros

*Soraya Medeiros é jornalista com mais de 23 anos de experiência, possui pós-graduação em MBA em Gestão de Marketing. Além de sua sólida trajetória no jornalismo, é formada em Gastronomia e certificada como sommelier, trazendo uma combinação única de habilidades em comunicação, marketing e enogastronomia.
ver artigos

comentar  Nenhum comentário

AVISO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do AguaBoaNews. É vedada a inserção de opiniões que violem as Leis, a moral, os bons costumes e/ou direitos de terceiros. O portal poderá retirar, sem prévia notificação, comentários publicados que não respeitem os critérios impostos e/ou estão fora do tema da matéria comentada.

 
 
 
Sitevip Internet