Na última segunda feira, 01 de fevereiro, foi dada a largada para a corrida `a Casa Branca em 2016, símbolo do núcleo central do poder na maior superpotência na atualidade, onde a figura do Presidente dos EUA representa este poder.
O processo eleitoral nos EUA é completamente diferente do que ocorre na maioria dos países, onde não existe uma legislação única que regule a escolha dos candidatos e o processo eleitoral, não existe justiça eleitoral, nem Tribunais eleitorais, muito menos juizes eleitorais, onde o voto e facultativo, para cidadãos por nascimento ou por naturalização. Também não existem horário “gratuito” e nem propaganda eleitoral obrigatória nos meios de comunicação de massa, os partidos e os candidatos podem pleitear e receber contribuições de pessoas físicas e juridicas, respondendo cada um pelo que acontece, não existe “caixa dois” e corrupção praticamente é inexistente, quando ocorre algum deslize a justiça comum e os organismos de controle, incluindo o FBI agem com extrema agilidade, imparcialidade e rapidez.
Os pré-candidatos e depois os candidatos de cada partido escolhidos em convenção podem usar e pagar pelo uso os diversos meios de comunicação, com destaque para os diversos canais de TV que promovem debates, entrevistas, análises e comentários, possibilitando aos eleitores conhecerem em profundidade as propostas de cada pleiteante a residir na Casa Branca por quatro anos.
Os temas que mais motivam os candidatos e eleitores tem sido: Saúde, Gastos governamentais, governança, tamanho do Estado, emprego e a situação geral da economia, imigração, conflitos internacionais, com destaque para o terrorismo, educação, questão ambietal e o desenvolvimento da ciência e da tecnologia.
Quanto aos aspectos éticos, parece que todos os candidatos sabem que corrupção é crime , que dá cadeia, em regime fechado e ai ninguém ousa imaginar em tirar um pouco das contribuições para aumentar seu patrimônio pessoal familiar ou para o partido. A Lei é rigorosa e o peso da justiça muito pesado. Interessante, aqui não existe foro privilegiado, nem tratamento especial a ser dispensado pela justiça quando o crime e cometido por pessoas importantes, com ou sem mandato, todos são julgados e condenados pela mesma lei e na mesma instância, talvez por isso o scrimes de colarinho branco não prosperem tanto como no Brasil.
Tendo esses aspectos como pano de fundo, podemos entender melhor como ocorre a dinâmica democrática e eleitoral neste país, onde jamais houve um golpe de estado e onde apenas dois partidos disputam eleições ao longo de mais de dois séculos e meio, sucedendo-se no poder, dentro de um Sistema que os Americanos definem como pesos e contra-pesos, entre os poderes executivo e legislativo. Parece que existe uma sabedoria popular entre os eleitores que dificilmente o partido que detém o controle do executivo também tem a maioria no Congresso, que, diferente de muitos países o Poder Legislativo não se transforma em um apêndice ou capacho do Poder Executivo. Mesmo que um partido, Democrata ou Republicano, tenha o controle do Executivo e do Congresso, a bancada do partido majoritário não “obedece” as ordens do Presidente , pois existe uma divisão clarra de poderes e atribuições.
Outro aspecto interessante, quem é eleito para a Câmara ou para o Senado, é escolhido pelos eleitores para ser um legislador e um fiscal do Poder Executivo, jamais irá ser designado como ministro ou que aqui é chamado de secretário, isto é considerada uma verdadeira aberração política e jamais uma prática a ser aceita, mesmo que não exista Lei que impeça tal prática.
Outra característica marcante do Sistema politico Americano, os partidos não aparelham o Estado, ou seja, a Administração Federal não é usada como mecanismo de barganha para aprovar projetos do Poder Executivo e muito menos como feudos do partido que esteja no poder na Casa Branca.
No aspecto eleitoral, cada estado e cada partido tem o poder de estabelecer normas que devem reger a escolha dos delegados que, em convenção nacional, irão definir o candidato de cada partido e ai, sim, passa a ocorrer a disputa entre os candidatos dos partidos democrata e republicano para ocupar por quatro ou se for reeleito por oito anos, a Casa Branca e comandar uma máquina pública muito podrosa, cujo orçamento em 2016 é de 4,5 trilhões de dólares e um PIB de 18,7 trilhões de dólares.
A escolha dos delegados de ambos os partidos obedecem a dois sistemas, as “eleições primárias”, onde, através do voto secreto, ah, aqui também as urnas eletrônicas não existem, por não serem o bastante confiáveis, quando as pessoas, voluntárias e livremente inscritas em um ou outro partido, ou mesmo como independentes, comparecem aos locais de votação e escolhem seus candidatos. O outro Sistema é denominado de “caucus” , tipo de assembléia popular, onde todos os filiados, democratas em um determinado local e republicanos em outro e ai, cada grupo que apoia um candidato se reune em um “canto” do local ou sala e os demais se aglutinam de acordo com suas preferências.
Por exemplo, na última segunda feira, o “caucus” em Iowa, tinha apenas tres candidatos pelo partido democrrata, Hilary Clinton, que foi a vencedora; Senador Bernie Sanders, e o ex--governador de Maryland, Martin O’Malley, que acabou tendo menos de 1% dos votos e após este resultado abandonou a disputa, deixando apenas duas candidaturas.
No partido republicano, os eleitores tiveram que se juntar em 10 “grupinhos” ou grupões nos espaços designados, pois o partido que está fora da Casa Branca há oito anos e pretende retornar, tem 10 candidatos e ainda tem um longo caminho pela frente para afunilar esta disputa.
Nos próximos artigos pretendo apresentar a dinâmica da escolha e os resultados das primárias que há meses dominam o noticiário tanto da imprensa local, quanto nacional e internacional, afinal, as eleições presidenciais nos EUA interferem diretamente na política, na economia e na geopolítica mundial e, desta forma, afeta também todos os demais países, inclusive o Brasil.