Existem três maneiras de se atingir um objetivo ou de fazer valer sua vontade. Uma delas é através da negociação, onde argumentos são apresentados, pontos de vistas são debatidos, e após rodadas de debates e reuniões, as partes chegam a um acordo. A segunda é através da compensação, onde uma das partes aceita a proposta mediante algum tipo de recompensa, podendo ela ser financeira ou não. E a terceira, e a mais temida é através da imposição, que ocorre quando alguma das partes tem uma situação mais privilegiada no negócio, ou quando tem o poder de impor, obrigar.
E no comércio mundial de alimentos a coisa não é diferente. Diariamente o vendedor é convencido de entregar mais ou até menos do que foi combinado, e também existe o contrário, onde o comprador acaba levando um contêiner diferente do que se imaginava.
Mas por que isso acontece?
Oras, estamos falando de um negócio que precisa chegar todo santo dia, e mais do que uma vez ao dia, na mesa de bilhões de pessoas em cada canto remoto do planeta, estamos falando de comida. E quando se trata de alimentos, muita coisa pode acontecer. Pode, por exemplo, não chover na época certa, e fazer com que o produtor colha menos do que imagina, ou seja, vai ter que negociar uma entrega diferente do que se imaginava no início da safra.
Ou então, o navio que levaria nossa carne até a China atrasou, portanto, também vai atrasar o bife na mesa do sujeito lá do outro lado do mundo, fazendo com que ele procure outra coisa para comer naquele dia, ou seja, todo mundo perdeu, e sempre que alguém perde, alguém tem que pagar por aquilo.
O problema é que de vez em quando, as partes não conseguem se acertar, nem na base do convencimento, muito menos na base da compensação. Aí vem a imposição. Um exemplo claro disso é a rastreabilidade da cadeia da carne bovina no Brasil.
O que hoje é feito voluntariamente por milhares de produtores no Brasil, tende a passar a ser obrigatório a todos os produtores brasileiros, e por que isso? Por que até hoje ninguém conseguiu convencer nem os produtores, nem a indústria de processamento e muito menos o pessoal do couro de que garantir a origem dos animais abatidos é importante para o controle sanitário e para o consumidor.
Em maio de 2024, o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) criou um grupo de trabalho para discutir e propor soluções sobre o tema. No grupo estavam todos os representantes legítimos da cadeia produtiva da carne bovina, e durante 2 meses de reuniões e debates, não houve o convencimento tão pouco foi encontrada uma forma de compensação, ou seja, restou a imposição.
Ao que tudo indica o Brasil terá, num breve espaço de tempo, um programa nacional de rastreabilidade bovina obrigatório, com suas regras e prazos para implementação, e isso colocará o país em um outro patamar em relação aos grandes exportadores de proteína animal.
É a mão pesada do Estado tomando decisões em prol do que se entende o bem do coletivo, afinal como não houve consenso alguém tem que decidir.
Mas uma coisa é certa, passado o momento das adaptações, e é claro que elas são necessárias, o Brasil irá colher muitos bons frutos dessa decisão, caso ela venha, porque nenhum país do mundo produz o volume que produzimos com tanta qualidade de sustentabilidade.