Artigos / Juacy da Silva

22/12/23 às 22:07

Natal sem Violência, sem Guerra e sem Fome

“Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”. Frase atribuida a Jesus Cristo aos seus discípulos como constam do Evangelho de São João, Capítulo 10, versículo 10.

“Quando Jesus se aproximou de Jerusalém e viu a cidade, comecou a chorar”, situação narrada no Evangelho de Lucas, capítulo 19, versículo 41.

Estamos, novamente, nos aproximando do NATAL, quando os cristãos (Católicos romanos, católicos Ordodoxos e Evangélicos), que representam mais de 2,5 bilhões de pessoas no mundo ou 31,1% da população total, estarão “comemorando”, celebrando o nascimento de Jesus Cristo, há mais de dois mil anos.

Fico imaginando que, com certeza neste momento Cristo ao olhar o mundo, o PLANETA TERRA, em um processo acelerado de degradação e destruição ambiental/ecológica,  vendo tantos conflitos e violência, piores do que quando aqui pelo nosso planeta caminhou durante sua vida terrena, onde a guerra é algo concreto, como na Faixa de Gaza, na Ucrânia, na África e na Ásia, onde milhões de pessoas sofrem os maiores horrores diariamente, deve ficar muito triste, imaginando que seu sacrifício na cruz foi em vão.

O Natal ao longo dos tempos deixou de ser uma celebração religiosa para se tornar um tempo de muito consumismo, gastança e alienação, com mensagens de cumprimentos efusivos, muita comilança, esquecendo que existe outra realidade, bem mais cruel do que as “nossas” comemorações e euforia.

Se Cristo, esta criança inocente que imaginamos em uma manjedoura, na verdade nascido em uma estrebaria, ou seja, sem um teto digno para abrigá-lo, como dezenas de milhões de crianças que nascem na pobreza e nem sequer completam um mes, um ano ou cinco anos de vida e os que sobrevivem `a miséria, acabam sucumbindo em meio a exclusão, `a discriminação, `a violência, prisioneiros das drogas e do crime organizado. Para essas pessoas não existe feliz natal.  Nada disso a gente lembra quando comemoramos o Natal em família ou com amigos e amigas.

No mundo, em 2022, de acordo com dados da ONU existem mais de 735 milhões de pessoas famintas, das quais mais de 7,9 milhões morrem anualmente de fome. Isto afronta a mensagem dessse Cristo que clebramos no natal e que disse aos seus discípulos “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”.

Por essas pessoas, vitimas inocentes que sofrem as consequências da violência, da miséria, da exclusão, do preconceito, do racismo e das guerras Jesus continua chorando diuturnamente, ante o ódio, `a falta de solidariedade que estão muito distantes da mensagem de nosso Mestre!

Com certeza, este mesmo Cristo que celebramos o seu nascimento, também deve estar chorando ao ver tantas guerras, como o que está acontecendo com o povo palestino que vive confinado em uma pequena faixa de terra, onde dezenas de milhares já morreram, inclusive mais de 12 mil crianças inocentes e muito mais vivem com fome, impedidos de receberem sequer alimentos e água. Em vez de brinquedos ou comida essas crianças estão recebendo bombas e destruição.

Da mesma forma, Jesus deve estar chorando quando olha o que esta acontecendo na Ucrania, onde milhões de pessoas tiveram que deixar suas casas e vagam sem destino por outras regiões e paises e centenas de milhares de militares e civis morreeram e um número muito maior tem sido feridos.

Enquanto isso, o mundo gasta mais de Sete trilhões de dólares subsidiando combustíveis fósseis, esses mesmos combustiveis que são a causa principal do aquecimento global e da crise climática.

E, de forma semelhante, as máquinas de guerra, principalmente dos paises mais poderosos do mundo, incluindo a União Européia, a Rússia, a China, a Índia, os EUA, o Japão e tantos outros países, gastam por ano mais de quatro trilhões de dólares para fabricar armas que, em lugar de paz, só provocam destruição, sofrimento e Morte.

Parece que a humanidade, principalmente os poderosos, aqueles que decidem o destino de milhões e bilhões de pessoas, jamais entenderam a mensagem deste Cristo que “celebramos” em cada natal, quando Ele disse “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (Evangelho de São João, 14:27).

Oxalá, todas as pessoas no mundo inteiro pudessem celebrar realmente em paz, harmonia, com dignidade, solidariedade verdadeira e a plenitude de vida o NATAL, aí, sim, poderiamos dizer “FELIZ NATAL”.

Enquanto isto não é possível, cabe-nos nutrir a esperança e lutarmos de todas as formas possíveis para que mudanças profundas ocorram não apenas nos corações de cada pessoa, mas também em todos os países e possamos viver sob o primado da Justiça, da Equidade, da Solidariedade, da Sustentabilidade e da Dignidade da pessoa humana.

Este, para mim, é o verdadeiro sentido e signficado do Natal, fora disso, estamos diante de palavras vazias que estão longe das mensagens deixadas pelo Jesus a quem “celebramos” nesta data simbólica.
Juacy da Silva

Juacy da Silva

Juacy da Silva, professor titular aposentado Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia, ambientalista, articulador da Pastoral da Ecologia Integral.
E-mail profjuacy@yahoo.com.br
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