Artigos / Eduardo Gomes

08/07/23 às 12:50

De barulho em Brasília

Mato Grosso precisa falar alto em Brasília. Gritar no Congresso pelos 11 integrantes da bancada federal; no Ministério da Agricultura, com Carlos Fávaro, o ministro de Lucas do Rio Verde; e pela voz do governador Mauro Mendes quando sua fala se fizer necessária. Não é mais possível presenciar em silêncio ataque ao Estado e sua economia, como esse que acaba de ser feito pelo repórter Wanderley Preite Sobrinho, do UOL. Preite rompe a linha que separa a verdade da mentira, a ética da leviandade e avança por um fétido caminho editorial na tentativa de descarrilar o trem da Ferrogrão antes mesmo de sua entrada nos trilhos.

Preite sustenta que o projeto Ferrogrão desconsidera quatro ferrovias em seu entorno, que desmatará uma área gigantesca e tece outros comentários e comparativos que se derretem à luz da verdade. Esse texto fere de morte tanto a lógica matemática quanto o princípio de melhor logística: a única ferrovia que liga o Centro-Oeste ao Pará é a Norte-Sul. O Maranhão, do porto de Itaqui, está entre Goiás e Belém. A distância de Sinop a São Luís pelos trilhos (imaginários entre Sinop e Água Boa, e daquela cidade a Mara Rosa (GO) é de 2.268 km. De Sinop a Miritituba são 933 km.

O trajeto a mais de 1.335 km entre Sinop e São Luís, no comparativo entre aquela cidade e Miritituba é um detalhe tão insignificante para Preite, que o mesmo sequer perdeu tempo de citá-lo. A FICO está em construção no trecho de 388 km entre Água Boa e Mara Rosa e há uma barreira entre Sinop e Água Boa, que é o Parque Indígena do Xingu. Isso, na linguagem ferroviária não é limpa-trilho, mas descarrilamento.

Uma matéria do porte de “Ferrogrão ignora 4 ferrovias e leva devastação à Amazônia” instiga o ecolouquismo e o radicalismo de esquerda, e mexe com os interesses econômicos que inevitavelmente serão atingidos quando os comboios saírem de Sinop e percorrerem 933 km até o porto no Tapajós, em Miritituba – vila diante da Itaituba.

Grandes ONGs internacionais que atuam na Amazônia farão dessa matéria mais um mote contra a Ferrogrão. Para Marina Silva será um prato cheio. Organismos financeiros que financiam obras de infraestrutura ficarão o pé atrás. Sempre pronto para travar o desenvolvimento nacional, Ministério Público Federal, Ibama e Funai não perderão a oportunidade para apunhalar a sonhada ferrovia.

Mato Grosso não pode permanecer calado em Brasília. Tem que assumir seu papel sem esperar a solidariedade da classe política paraense, que torce o bigode e sente urticária quando ouve a palavra Ferrogrão, por conta da rivalidade entre Belém e Santarém, que é o polo de Itaituba.

Felizmente não há congressista radical de esquerda na bancada federal mato-grossense para fazer coro com Preite. Tomara que a passividade que até agora dita o tom de Mato Grosso no Congresso ganhe forma de representação do sentimento de nossa gente. Tomara que ouçamos  barulho em Brasília para não ficarmos com o silêncio pela falta do apito do trem.
Eduardo Gomes

Eduardo Gomes

Eduardo Gomes é jornalista e escritor
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