“Os direitos trabalhistas nasceram das lutas solidárias do povo. Estão fundamentados na DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA: O amor pelos pobres está no centro do Evangelho. Terra, teto e trabalho – isto pelo qual voces lutam, são direitos sagrados. Reivindicar, isso é DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA” (Papa Francisco, I Encontro com os Movimentos Populares, 2013).
“Solidariedade é uma reação espontânea de quem reconhece a função social da propriedade e o destino universal dos bens como realidades anteriores `a propriedade privada. A solidariedade deve ser vivida como a decisão de devolver ao pobre o que lhe corresponde (o que lhe é de direito). Essas convicções e práticas de solidariedade abrem caminho para outras transformações estruturais, tornando-as possíveis”. (Papa Francisco, EG Evagngelii Gaudium 189, 2013).
Mesmo em meio `a degradação Ambiental, `a destruição dos ecossistemas, `a fome, miséria e exclusão de bilhões de pessoas ao redor do mundo e milhões no Brasil,`as guerras e violência indiscriminada, contra tudo e contra todos, para nós, cristãos, nunca podemos perder a esperança de que conseguiremos superar todos esses desafios e construirmos ou reconstruirmos um mundo melhor, onde as pessoas possam viver com dignidade e felizes; onde a exclusão social, econômica e política, o racismo, os preconceitos, a omissão diante do sofrimento e da morte de milhões de pessoas sejam coisas de um passado que jamais deveria ter existido.
É neste contexto que o Papa Francisco tem insistido que um dos requisitos para a construção de um mundo melhor, o fortalecimento da civilização do amor e da sociedade do bem viver, somente serão possíveis se substituirmos os modelos econômicos, capitalista, socialista ou capitalismo de Estado, que excluem as pessoas e degradam a natureza, repito, sejam substituidos por uma economia solidária, por um sistema que tenha como base a sustentabilidade, a justiça social, intergeracional e a garantia dos direitos humanos. Este é o cerne da Economia de Francisco e Clara.
A Economia de Francisco e Clara representa, pois, um novo modelo de economia, proposto e estimulado pelo Papa Francisco, o Papa que veio do “fim do mundo”, com uma JUSTA DISTRIBUIÇÃO dos frutos do crescimento econômico e do desenvolvimento sustentável, é uma forma concreta de combatermos as desigualdades sociais, econômicas e políticas, a uma melhor distribuição de renda, riquezas e oportunidades tanto dentro dos países quanto no contexto das relações internacionais.
A economia solidária, a agroecologia, o associativismo, o cooperativismo, a produção e o consume conscientes, responsáveis e sustentáveis, o fim do uso de combustíveis fósseis e sua substituição por uma matriz energética energia limpa e sustentável, fazem parte desses pilares, tendo em vista que o consumismo, o desperdício, o uso dos combustíveis fósseis, a civilização dos plásticos e a economia do descarte só levam `a degradação ambiental, `as mudanças climáticas, ao aquecimento global, `as catástrofes, `a fome, `a miséria e `a morte.
No encontro de Assis, Itália, inicialmente previsto para ser realizado entre 26 a 28 de março de 2020 presencialmente, mas devido `a pandemia da COVID-19 foi realizado através de Plataforma virtual em novembro do mesmo ano, nos deparamos com o pedido do Papa Francisco para que os jovens, os empresaários, os cientistas, pesquisadores, os governantes, os trabalhadores, enfim, para que os cristãos, católicos e evangélicos e os não cristãos, enfim, todas as pessoas, para praticarem uma economia diferente, mais racional, sustentável e mais humana.
Nas palavras do Sumo Pontífice, precisamos, com urgência repensar, reinventar e criar novos paradígmas de produção e consumo, uma nova forma de economia, em suas palavras, “que parta das necessidades dos pobres”, “Aquela que faz viver e não mata, inclui e não exclui, humaniza e não desumaniza, cuida da Criação e não a depreda.” Quanto `a reunião suas expectativas foram para “um evento que nos ajuda a permanecer juntos e a nos conhecer, e nos leve a fazer um ‘pacto’ para mudar a economia atual e dar uma alma à economia do amanhã.”
No mesmo encontro, o Papa Francisco também disse com clareza e objetividade sobre a nova economia que propõe, como um antídoto para os males gerados pelos atuais modelos, desta maneira, dirigindo-se diretamente aos jovens, já que a juventude e as próximas gerações no futuro viverão em um mundo, conforme todos os estudiosos e cientistas indicam que, se não for radicalmente alterado, transformado profundamente, deixará uma herança terrível, de destruição e morte da biodiversidade, de esgotamento dos recursos naturais, do solo, aquecimento global, crise climática, desertificação, degradação das águas, desmatamento, poluição de todas as formas, sem florestas, de fome, miséria, desigualdades mais profundas do que as atuais, de grandes massas humanas empobrercidas, com imensas correntes migratórias internacionais e um passivo ambiental IMPAGÁVEL.
Vejamos um dos destaques da fala de Francisco, quando disse: “A chave para o futuro está nos sonhos dos jovens, no seu olhar sem rodeios e preconceitos para um amanhã que seja de esperança verdadeira e não de cálculos matemáticos, interesses ou especulações”.
Sobre o mesmo Encontro, o Vaticannews, site oficial da Igreja Católica, em Roma, em 21 de novembro de 2020 assim estampava:“Foi com o entusiasmo, a imaginação e a criatividade deles (participantes) que o Papa Francisco procurou, na esteira da Laudato Si que deu ao mundo “o grito da terra e dos pobres”, relançar um grande e exigente desafio:”restituir uma alma à economia”.
A ECONOMIA DE FRANCISCO E CLARA, representa um novo modelo de economia, proposto e estimulado pelo Papa Francisco, com uma JUSTA DISTRIBUIÇÃO dos frutos do crescimento econômico e do desenvolvimento sustentável, de uma ECONOMIA VERDE e que esteja baseada na solidariedade, na ECOLOGIA INTEGRAL, na JUSTIÇA SÓCIOAMBIENTAL e no direito das futuras gerações a um planeta saudavel, enfim, nos cuidados da CASA COMUM.
Os modelos econômicos, sociais e politicos atuais no mundo todo, tem levado `a degradação ambiental, a destruição da biodiversidade, ao aquecimento do planeta, a emergência climática, `as crises hidricas, `a desertificação, além de uma injusta concentração de renda, riqueza e propriedade nas mãos dos poderosos, das elites politicas e econômicas dominantes, do aumento da pobreza, da miséria, dos conflitos, da exclusão sócio-economica, polita, enfim, a morte!
Precisamos repensar, com urgência, nossas relações sociais, econômicas e politicas e também, nossas relações com a natureza, pois, o destino do planeta e da humanidade está em nossas mãos, nossas atitudes , nossas ações, nossas omissões e nosso estilo de vida materialista e predatório.
Neste contexto, é imperiosa a substituição da matriz energética mundial, baseada em combustiveis fósseis que poluem, degradam o meio ambiente e matam, por fontes alternativas, limpas e renováveis, como a ENERGIA SOLAR, EOLICA principalmente.
Precisamos substituir a agricultura baseada no uso excessivo e abusivo de agrotóxicos que envenam os alimentos e matam os consumidores, degradam o solo, polui o ar e os mananciais (águas), por uma agricultura inteligente, que respeite o meio ambiente, que é a AGROECOLOGIA.
Precisamos substituir o apego exagerado com os bens materiais, com uma competição desenfreada, e a busca por lucros fáceis, com o desperdicio, com a economia do descarte, do supérfluo, por uma ECONOMIA SOLIDÁRIA, mais justa, duradoura, que VALORIZA e respeita o ser humano, os trabalhadores, os consumidores e também a natureza.
Precisamos impedir que nossas florestas sejam derrubadas, desmatadas e queimadas , pois este é um processo irracional que alimenta as queimadas, a degradação dos solos, a contaminação das águas, a poluição do ar e aumenta as doenças, as epidemias, as pandemias, enfim, provoca mais sofrimento e a morte.
Precisamos substituir o atual sistema logístico, basesado em veiculos movidos com energia oriunda de combustiveis fósseis, altamente poluidores, que tornam nossas cidades um verdadeiro caos e com ar irrespiravel, por um sistema de transporte público urbano mais eficiente, mais humano, com mais dignidade para os usuários e os moradores das cidades, baseado em fontes limpas e renováveis de energia.
Precisamos substituir o Sistema de transporte rodoviário de cargas e passageiros, também de custos elevados e baseado no uso de combustíveis fósseis, por um Sistema ferroviário moderno, eficiente, rapido, de menor custo e alimentado com energia renovável e limpa.
Precisamos garantir a posse e o uso da terra e os bens da natureza , inclusive as matas, a biodiversidade, os rios e demais fontes de água e vida, para agricultores familiares, para quilombolas, povos indigenas, os verdadeiros guardiões das florestas e do meio ambiente.
Precisamos garantir o direito `a moradia digna para a população de baixa renda e excluida, aos moradores em habitações sub-humanas, que colocam em risco, todos os anos a vida de milhões de pessoas no Brasil e ao redor do mundo, por habitações dignas onde esgoto a céu aberto, acúmulo de lixo, ruas sem pavimentação e sem arborização sejam substituidas por condições dignas, áreas realmente urbanizadas, para que tenhamos, de fato CIDADES SUSTENTÁVEIS, CIDADES VERDES, com arborização urbana, como forma de amenizar o clima urbano e outras condições compatíveis com as exigências de todas as camadas da população e não verdadeiros “guetos fechados, onde vivem as camadas privilegiadas”, enquanto as massas populares vivem em favelas, palafitas, cortiços e outras formas indígnas para um ser humano.
Enfim, também a ECONOMIA DE FRANCISCO E CLARA representa um modelo em que o trabalho humano não seja colocado na condição de trabalho escravo e semi escravo, com altos índices de desemprego, sub-emprego e trabalho informal, sem garantia de direitos e perspectivas de mobilidade social.
O trabalhador merece uma justa remuneração pelo seu trabalho, pela sua contribuição para o processo produtivo, jamais um salário minimo que é um salário injusto, um salário de fome, que não garante sequer o atendimento das necessidades básicas do trabalhador e sua familia, que gera mais pobreza, miséria, fome e exclusão , além de uma grande manipulação politica eleitoral por parte dos “donos do poder e da economia”.
Na Economia de Francisco e Clara não existe lugar para a exploração do trabalhador, para o desemprego aberto e o subemprego (que são reservas de mão de obra barata para que a exploração do trabalhador continue alimentando a cultura da pobreza e da exclusão social).
Cabe lembrar aqui também o princípio da Doutrina Social da Igreja quando estabelecde que “ sobre toda a propriedades privada recai ou pesa uma hipoteca social”, princípio coerente com o que estabelece o Concícilo Vaticano II quando afirma que “Deus destinou a terra, com tudo que ela contém, para o uso de todos os homens e de todos os povos, de tal modo que os bens criados devem bastar a todos, com equidade, segundo a regra da justiça, inseparável da caridade” (Gaudium et Spes, n.69).
É por isso que o Papa Francisco tanto tem enfatizado em seu magistério, em suas Enciclicas, em suas Exortações apostólicas e em seus pronunciamentos a imperiosa OPÇÃO PREFERENCIAL PELOS POBRES, para as ações de uma Igrreja missionária, em saida, sinodal, samaritana, misericordiosa e, também, PROFÉTICA, a única forma de construirmos um mundo novo, uma nova economia, uma nova sociedade, baseada em principios éticos e morais, em que todas as pessoas, independente de classe social, “status” sócio-econômico, raça/etnia, cor da pele, outras características ou preferências, sejam tratadoas como irmãos e irmãs, que vivem na mesma Casa Comum, com fraternidade, com amor e solidariedade e a NATUREZA como parte da criação divina.
Neste contexto é que surgem os conceitos de pecado social, pecado ecológico e CONVERSÃO ECOLÓGICA, cidadania ecológica, justiça socioambiental e inter-geracional como mecanismos de defesa da ECOLOGIA INTEGRAL, da vida em todas as suas formas e dos CUIDADOS COM A CASA COMUM, pois “tudo esta interligado, como se fôssemos um, nesta casa comum”.
TERRA, TETO E TRABALHO, dignidade humana, justiça socioambiental para todos, são fundamentais para a Economia de Francisco e Clara, por isso precisamos dizer alto e bom som: Viva a Laudato Si, Viva a Economia de Francisco e Clara! Viva a Pastoral da Ecologia Integral.
Só assim, as ações pastorais da Igreja podem impulsionar essas transformações nas sociedades, nos paises, em nossas cidades e comunidades!
Devemos, também, refletir sobre as palavras do Papa Francisco no Encontro de Assis: “Queridos jovens, sei que vocês são capazes de ouvir com o coração os gritos cada vez mais angustiantes da terra e dos seus pobres em busca de ajuda e de responsabilidade, ou seja, de alguém que ‘responda’ e não se vire para o outro lado.
Se vocês ouvirem o seu coração, vão se sentir portadores de uma cultura corajosa e não terão medo de arriscar e de se comprometer a construir uma nova sociedade.”, com certeza esta exortação do Sumo Pontífice também é endereçada a todos quanto sonham com um mundo mundo melhor e uma sociedade econômica e socialmente justas, ambientalmente sustentável e politicamente democráticas e participativas.
Para finalizer esta reflexão transcrevo os 10 princípios da Economia de Francisco e Clara, destacados pela Articulação Brasileira da Economia de Francisco e Clara - ABEFC, no dia 02 de outubro de 2021, data comemorativa do 2º Encontro Virtual Global da Economia de Francisco e Clara sobre o “Encontro de Assis”, que tem como objetivo ser subsídio condutor na caminhada de construção da Economia de Francisco e Clara: 1).Ecologia integral; 2) Desenvolvimento integral; 3) alternativas anti e pós capitalistas; 4) Bem comum/bens comuns; 5) Tudo está interligado; 6) Potência das periferias vivas (onde vivem os pobres e excluidos); 7) Economia a serviço da vida; 8) Comunidades como saídas; 9) Educação integral e, 10) Solidariedade, clamor da terra, dos pobres e dos povos.
Esses são os princípios da Economia de Francisco e Clara, no contexto dos fundamentos bíblicos/evangélicos, da Doutrina Social da Igreja, do Magistétio de Papas que antecederam ao Papa Francisco, alguns que, inclusive, se tornaram Santos.
Vale a pena refletir, conhecer e lutar por esta nova economia e sonhar com um mundo novo, melhor, mais humano, com justiça social e intergeracional e sustentabilidade. A esperança deve ser a energia que, como cristãos, nos move nesta direção!