Artigos / Luciano Vacari

26/03/22 às 14:39

O que eu quero x posso comprar?

O mundo vive um momento muito difícil. Pós-pandemia. Países em guerra. Inflação em alta, não apenas no Brasil, mas no mundo. Preços das commodities também estão em ascensão. E, nesse contexto, o consumidor tem mudado seu comportamento. Esse indivíduo, que ao final, somos todos nós, é quem dita as tendências de inovação e adaptação das cadeias produtivas.

Uma das tendências que cresceu muito durante a pandemia foram as compras on-line, o chamado e-commerce. Muitos consumidores que tinham receio de comprar por sites, pela necessidade, acabaram experimentando e gostando. Economizam tempo. As próprias ferramentas de busca já apresentam o comparativo de preços. E as cadeias produtivas tiveram que se adaptar.

Além da decisão de como e onde comprar, outra mudança é o que comprar. Hoje, as pessoas estão mais preocupadas com saudabilidade. Com os ingredientes do produto que estão consumindo, com a proporção de açúcar, sal, gordura e outros. Na minha época, servia-se suco em pó nas escolas. Hoje esse produto já é visto como corante.

Outra tendência é a preocupação relacionada ao como e onde os ingredientes foram produzidos. Muitos consumidores pagam mais para saberem de onde vêm os alimentos e o modo como foram produzidos. Um dos temas que mais aparece nas pesquisas de exigência dos consumidores é não estar relacionado ao desmatamento.

Outro nicho de mercado crescente são os orgânicos, os veganos ou também chamados de plant based! Há consumidores buscando esses produtos e as agroindústrias se preocupam em ter produtos que também atendem a esses mercados. Muitos executivos têm em mente que, se a sua marca não oferecer esses produtos como alternativa de escolha, o concorrente oferecerá.

Cada um desses pontos são tendências que as cadeias produtivas precisam e precisarão se adaptar cada vez mais. Demonstrar a sustentabilidade da produção, agregar valor aos produtos, facilitar as compras, entre outros.

Porém, enquanto milhões de pessoas já compraram pelo e-commerce, outros muitos sequer tem acesso à internet. A reflexão é ainda mais profunda quando pensamos na Pirâmide de Maslow, conceito criado por um psicólogo americano que determina as condições necessárias para que cada pessoa atinja sua satisfação pessoal.

Maslow fez uma pirâmide com cinco níveis. O primeiro é a fisiologia, que corresponde a respirar, estar alimentado e ter boas condições de sono, por exemplo. Apenas após ter todos esses pontos satisfeitos é que o indivíduo pode passar para o segundo nível, onde, por exemplo, tem saúde e segurança garantidos.

A pirâmide tem cinco níveis. Consegue chegar ao quinto nível, com preocupações sobre o meio ambiente, apenas aqueles indivíduos que satisfizeram as necessidades dos níveis anteriores. Até chegar nos consumidores mais exigentes, há milhões que ainda lutam diariamente para se alimentar.

No Brasil, segundo pesquisa realizada pelo Observatório das Metrópoles juntamente com a PUC-RS, 50% dos trabalhadores tem uma renda média de 1,3 mil reais. E outros 24,5 milhões de brasileiros ganham menos de ¼ do salário-mínimo. Porém a realidade desses brasileiros são outras, já que com uma renda baixa e em situações de insegurança alimentar, a prioridade deles não são as mesmas dos que prezam pela saudabilidade.

Para esses pais e essas mães, o desafio é muito mais garantir que o arroz, o feijão, o leite e a carne estejam presentes em todas as refeições dos seus filhos, do que de fato pensar se aquele produto é neutro em carbono.
Luciano Vacari

Luciano Vacari

Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro Consultoria. 
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