Imprimir

Imprimir Notícia

06/05/17 às 18:56

Haitianos sofrem com desemprego em Cuiabá

Cerca de 80% das mulheres haitianas que vivem em Cuiabá estão desempregadas, dos homens o número pode chegar até metade. Somente na Capital são dois mil haitianos que em sua grande maioria vivem diariamente um ‘teste de sobrevivência’. 

De acordo com delegada regional em Mato Grosso do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho Marilete Mulinari Girardi, muitos dos haitianos estão sobrevivendo de solidariedade. É o caso de Clesius Monestine representante da Associação de Haitianos de Cuiabá. Clesius que chegou a Capital há aproximadamente seis anos, está desempregado há dois meses e a esposa há sete meses. Com cinco filhos para criar, Clesius afirma que está tentando se reinventar. 

“Estou buscando meio de trabalhar como autônomo, vender pão, vender coisas. Tenho que pagar o aluguel e dar de comer a minha família. Essa minha situação muitos haitianos estão vivendo, ter que depender de amigos para não passar fome”, diz. 

Clesius lamenta ainda fatores que prejudicam ainda mais os haitianos, um deles é não falar português. Outro motivo seria a proibição de trabalhar como ambulante no centro da cidade. Além de ser clara a seleção nos empregos quando se trata de haitianos e brasileiros. “Muitos querem voltar para nossa terra, mas não tem dinheiro”, afirma. 

Marilete Girardi lembra que os haitianos chegaram à Cuiabá no auge das obras da Copa, com a abertura de empregos, principalmente na construção civil. Eles chegaram até mesmo com propósito de trabalhar e ajudar as famílias que ficaram no Haiti. No entanto, com a crise econômica, muitos acabaram perdendo seus postos de trabalho. 

“Precisamos de políticas públicas que dê segurança aos imigrantes. Uma vez acolhidos pelo Brasil, precisamos que se dê condição humana de subsistência. Afinal, a situação do haitiano desempregado é pior que a do brasileiro desempregado, o brasileiro ao menos tem próximo seu grupo de amigos e familiares para ajudar”, diz. 

O intérprete Rafael Lira que faz trabalhos sociais com haitianos também reconhece a fragilidade que os novos moradores de Cuiabá estão passando. “Não somente os haitianos, mas os imigrantes em geral que estão aqui e que têm chegado diariamente, dentre eles cubanos, dominicanos e venezuelanos, encontram uma problemática pela frente que é a falta de emprego. A crise afeta o brasileiro, porém aquele que é de fora sente muito mais de perto os impactos desta crise”, revela. 

Lira frisa que se para um brasileiro é difícil hoje conseguir emprego, para um imigrante é ainda mais. Além disso, segundo ele, uma empresa que decidi demitir alguns funcionários, certamente optará, em primeiro lugar, por demitir aquele que veio de fora. “Da mesma forma, se uma empresa optar por contratar alguém e houver um candidato haitiano e um brasileiro, ela prontamente escolherá o segundo, por exemplo,”, afirma. 

Realidade - Um país de apenas 27 mil quilômetros quadrados e cerca de 10 milhões de habitantes. A história do Haiti está marcada por catástrofes naturais e instabilidade política. Com a esperança de dias melhores, muitos haitianos optam em abandonar suas casas, familiares e amigos para buscar oportunidades e dignidade para viver em outros cantos do mundo. No Estado de Mato Grosso a estimativa da Associação dos Haitianos é que pelo vivam pelo menos quatro mil haitianos, dois mil só em Cuiabá. 

O número é muito inferior ao início, isso porque, muitos decepcionados, decidiram voltar para casa. Outros sem recurso continuam tentando sobreviver. Uns vivem de aluguel, outros fazem do salário mínimo um verdadeiro milagre. Para aqueles que não têm onde ficar, a Pastoral do Migrante em Cuiabá é o principal local de acolhimento de estrangeiros que chegam a Cuiabá e não têm condições de pagar alojamentos. 

O preconceito, a falta de oportunidades, as dificuldades, a solidariedade, a desinformação, são um misto de uma realidade que segundo a Associação, os haitianos tem que lidar diariamente. 
Imprimir