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14/02/16 às 15:36 | Atualizada: 14/02/16 às 15:44

‘É minha missão’, diz carpinteiro de MG que empresta cadeiras de rodas

Cosme da Silva é carpinteiro há 29 anos em uma reformadora de carrocerias em Muriaé, na Zona da Mata. Há 10 anos, ele se dedica ao que chama de “missão”: reformar e emprestar cadeiras de rodas e cadeiras de banho.

Cosmão, como é conhecido no Bairro Encoberta, onde mora, começou com um equipamento. Atualmente, segundo ele, são 150 distribuídos por cidades do interior de Minas Gerais e do Rio de Janeiro.

 
"Já me chamaram até para candidatar a vereador. Não quero. Já sou o candidato de Deus. Eu gosto de fazer este trabalho e quero continuar até o fim do meu último dia, ate quando Ele me chamar"
Cosme da Silva
 
“É coisa de Deus, inspiração divina. É um trabalho que eu gosto de fazer para ajudar as pessoas. É uma missão que eu tenho com Deus, não pegar dinheiro com ninguém. Se alguma pessoa quiser doar uma cadeira, estou preparado para receber, reformar e deixar pronta para ajudar a uma pessoa a sair de casa”, explicou.
Todas os equipamentos são reformados, pintados, tem lonas substituídas antes de serem emprestados gratuitamente. Quem pega, fica com as cadeiras até não precisar mais. Então devolve à Cosme da Silva, que repassa à próxima pessoa que estiver necessitando.
Até muletas já foram doadas para ele, que também são emprestadas. O agradecimento vem em forma de auxilio para ele continuar a ajudar outras pessoas.
 
Cosme da Silva reforma cadeiras de rodas Muriaé (Foto: Cida Bandeira/ Arquivo Pessoal)Atualmente, Cosme da Silva tem 150 cadeiras
emprestadas (Foto: Cida Bandeira/ Arquivo Pessoal)
“Não cobro um real por isso. Alguns, ao devolver, trazem tintas, pincel, lona. Existe até os que que agradecem e choram porque a pessoa melhorou. Atualmente as 150 cadeiras estão espalhadas em várias cidades, até em Além Paraíba (MG), Sapucaia (RJ), Campos (RJ), Itaperuna (RJ). Estão com pessoas que sofreram e precisam delas. Eu rezo todo dia para eles voltarem a caminhar”, destacou Cosme.

O carpinteiro reforçou que pretende seguir com a atividade para ajudar as pessoas e não tem outros interesses. “Já me chamaram até para candidatar a vereador. Não quero. Já sou o candidato de Deus. Eu gosto de fazer este trabalho e quero continuar até o fim do meu último dia, ate quando Ele me chamar”, garantiu.

Corrente do bem
O gesto de Cosme da Silva desperta uma série de solidariedade. O auxiliar de escritório Mateus do Vale explica que Cosme procura a oficina onde ele trabalha para realizar as soldas necessárias nas cadeiras de rodas. “Ele traz e um dos nossos soldadores realiza o serviço. A gente não cobra. Ele é muito simples, a ideia dele é ajudar os outros, então a gente o ajuda”, destacou.

De pessoa ajudada a quem ajuda Cosme da Silva. A dona de casa Antônia Ferreira e o marido José Caetano também fazem parte do time de amigos e auxiliares de Cosme. “Meu marido e ele trabalham juntos. Quando minha mãe esteve doente, ele me ajudou, ele deixou as cadeiras na minha casa enquanto ela precisou. Ele é uma pessoa que ajuda inteiramente de boa vontade, ele quer realmente ajudar as pessoas de coração”.

O exemplo espalhou entre o grupo de amigos, como destaca Antônia Ferreira. “Sempre que soubemos que alguém precisa, a gente avisa ao Cosme para ver o que pode ser feito. Ele inspira todos que o conhecem. Não faltam esforços, a gente faz o máximo para poder ajudar”, declarou.

Inspiradas pelo exemplo, tentam agora ajudar o carpinteiro. “Levo parafusos e tintas para ele. Ele não aceita um centavo de ninguém, só doações de materiais. Quando a minha mãe necessitou de uma cadeira de rodas, eu consegui emprestada. Isso me inspirou a ajudar o Cosme porque a necessidade é muito grande”, disse o aposentado Geraldo Rodrigues.

O aposentado elogiou a dedicação de Cosme para manter o apoio às pessoas que buscam a cadeira. “Ele trabalha nisso aos sábados, domingos e à tarde na casa dele. E banca com o pouco que ele ganha, que Deus transforma em muito. Ele consegue cadeira no ferro-velho e a coloca nova para emprestar, sem nenhuma intenção de lucro. Por isso, temos esse grupo paralelo onde ele se tornou um ‘líder’ informal. É um trabalho muito bonito, quem pode, ajuda”, ressaltou Geraldo Rodrigues.
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