Imprimir

Imprimir Notícia

23/10/19 às 10:47 | Atualizada: 23/10/19 às 11:02

Barra do Garças - Escola da Cadeia Pública contribui para a ressocialização dos reeducandos

Com a frase “Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo“ de Paulo Freire estampada em uma das salas de aula da Unidade Prisional de Barra do Garças, cerca de 70 reclusos participam, divididos no período matutino e vespertino e nos ensinos fundamentais e médio, das aulas ministradas por três professoras de uma extensão da Escola Estadual Nova Chance. Desde 2012 são ofertadas as aulas para os detentos na cidade.

Em parceria com a Secretaria do Estado de Educação (Seduc) as aulas são ministradas para aqueles reeducandos que possuem bom comportamento na unidade, contam com toda a documentação para que seja feita a matrícula na instituição e, principalmente, o interesse em estudar. A escola dá a oportunidade, além de uma educação de qualidade, também a remissão da pena.

O mestre em Educação Física pela Universidade Federal de Mato Grosso e Coordenador Pedagógico da Unidade Prisional de Barra do Garças, Giliard Mores diz que infelizmente a estrutura comporta apenas 70 dos quase 280 reclusos do presídio.

Atualmente, o ensino fundamental conta com 33 alunos e o ensino médio com 37. O prédio conta com duas salas de aula. Giliard explica que por conta da rotatividade dos recuperandos, ou seja, conforme vão cumprindo sua pena, sempre há novas vagas.

A respeito da prestação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) os alunos participam do que é chamado o Enem para Pessoas Privadas de Liberdade (PPL). Assim como o exame tradicional, o Enem PPL segue uma data nacional, sendo realizado após o tradicional.

De acordo com o Núcleo de Educação de Prisões (NEP) da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp-MT) nesse ano estão inscritos 1.166 recuperandos de 39 unidades penais no Estado, 11% a mais que em 2018. Na unidade de Barra do Garças, de acordo com Giliard, 38 recuperandos prestarão o exame em 2019. A grande maioria desses cursam a escola dentro da unidade, outros já possuem o ensino médio completo e também prestarão o Enem.

As provas são realizadas dentro das unidades prisionais, com organização do coordenador geral da Fundação Cesgranrio, empresa contratada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) para a aplicação. Nesse ano a prova será aplicada nos dias 10 e 11 de dezembro.

Em 2019, de acordo com o NEP, 16 reeducandos foram matriculados e, destes, cinco aguardam apenas autorização judicial para começarem a estudar. Entre 2016 e 2019, o Sistema Penitenciário de Mato Grosso contabilizou 102 matrículas de reeducandos no Ensino Superior.

Parceria com o Centro Universitário do Vale do Araguaia

Para que o reeducando que estudou dentro da unidade consiga ter uma continuidade nos estudos quando estiver em liberdade, parcerias são montadas pela Administração em Barra do Garças. Juntamente com o judiciário e o Centro Universitário do Vale do Araguaia (Univar) são ofertadas vagas de ensino superior para esses recuperandos.

Atualmente, 11 reeducandos que finalizaram seu cumprimento da pena em regime fechado estão matriculados em diversos cursos da instituição. Giliard conta que em sua grande maioria, a nota do Enem é aproveitada, mas também há casos de reeducandos que entraram através do vestibular do Univar “eles estão nas mais variadas áreas, sendo elas Direito, Medicina Veterinária, Psicologia, dentre outras” destaca o coordenador.

O pró-reitor administrativo do Univar, Eduardo Afonso da Silva conta que o projeto em parceria com a unidade existe há mais de uma década “nós contribuímos para a ressocialização desses reeducandos, incentivando eles, oferecendo bolsa integral” explicou. Eduardo ressalta que os recuperandos valorizam bastante a oportunidade que lhes é dada no Univar.

 
“quero dar um rumo diferente e poder dar total suporte para meus filhos, sempre ensinando que o melhor caminho é estudar. Sempre vou incentivar isso a eles”.
 
Um dos recuperandos, que passou pela unidade prisional de Barra do Garças e hoje cursa o ensino superior aceitou o convite para contar sua trajetória. Por questões pessoais, sua identidade será preservada.

Para o recuperando, sua projeção futura agora, após cursar o ensino superior é prestar alguns concursos na área e dar um rumo totalmente diferente à sua vida. Em nossa conversa, ele diz que ver a sua família orgulhosa dele não tem preço “quero dar um rumo diferente e poder dar total suporte para meus filhos, sempre ensinando que o melhor caminho é estudar. Sempre vou incentivar isso a eles” conta.

Sobre a experiência do primeiro dia de aula pós o cumprimento de sua pena, o reeducando contou que não deu para controlar a ansiedade e o frio na barriga “no início rolou um stress pelo fato da minha situação de reeducando, mas com a experiência que adquiri consegui mostrar quem realmente eu era, uma pessoa sempre humilde e educada” explica.

Ele, que agora se encontra no segundo semestre de sua graduação, contou que tudo que desejava era uma chance de voltar ao seio da sociedade e viver a sua vida em harmonia com sua família, principalmente seus filhos “foi um desacerto em minha vida, mas paguei o que devia à justiça” completou. O reeducando cursou o ensino médio na unidade.

 A transformação através da educação

Atuando na coordenadoria pedagógica da unidade desde 2015, Giliard diz que apesar de não ter dados concretos, pela sua vivência no presídio de Barra do Garças, é quase certo que 0% dos reeducandos que passam pela experiência escolar durante sua pena volta ao mundo do crime.

 
“Para os recuperandos aqui da unidade a educação é fundamental, as atividades educacionais, os cursos profissionalizantes só enriquecem e abrem portas para que seja mudado o rumo de suas vidas” frisa o coordenador.

Os que participam das aulas ficam em uma ala conhecida como a ala dos estudantes “é uma ala de exemplo aqui dentro da unidade” conta Giliard. O coordenador explica que o convívio e comportamento desses que cursam as aulas é destacado em relação aos demais “é visível a melhora de atitude aqui dentro” ressalta.

Por uma questão até de logística e condução dos presos dentro da cadeia, os que cursam as aulas ficam nessa ala específica, pois ajuda no deslocamento e também convívio entre si. A rotina desses reeducandos acaba sendo parecida, o que também justifica a colocação na ala dos estudante.  
Imprimir