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28/08/19 às 19:43 | Atualizada: 28/08/19 às 21:53

Nova Nazaré - 'É preocupante', diz cacique de terra indígena que já teve quase 219 mil hectares atingidos por queimadas

Há mais de uma semana, o cacique Carlos Wa’râiró vê pegar fogo no entorno de sua aldeia, em Nova Nazaré. Ela fica no território de Areões, de 219 mil hectares e quase todo atingido pelo incêndio, segundo o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renovveis (Ibama).
 
Nesta quarta-feira (28), agentes do Ibama e da Polícia Federal (PF) fizeram uma operação para tentar identificar os responsáveis pelo fogo.
 
"A preocupação é muito grande, porque muitos [índios] já estão doentes. Não sabemos quem colocou [o fogo]. É perigoso também porque nossas casas são de palha", afirmou o cacique da aldeia Campo Alegre, onde moram 97 de indígenas.
 
Há pelo menos outras 27 aldeias na área, onde vivem cerca de 1.500 indígenas.
 
Carlos Wa’râiró disse que, apesar de o fogo já estar perto da aldeia, ainda existe uma distância segura. Segundo ele, os indígenas não são os responsáveis pelas queimadas, porque sabem que "não é hora de queimar", referindo-se ao período em que os índios fazem festas com fogueiras.
 
Recentemente, o cacique chamou uma equipe para averiguar a saúde de indígenas que estavam com tosse, diarreia e vômito.
 
Mapa da Terra Indígena Areões  — Foto: G1
Mapa da Terra Indígena Areões — Foto: G1
 
Acampamentos foram abandonados antes da chegada da polícia — Foto: PF/ Divulgação
Acampamentos foram abandonados antes da chegada da polícia — Foto: PF/ Divulgação
 
PF foi a acampamento de criminosos
 
Nesta quarta-feira (28), agentes da PF foram à terra indígena e encontraram acampamentos recém-abandonados. Os locais eram usados como abrigo por criminosos que caçam ilegalmente e extraem madeira na região.
 
Segundo a PF, quando os agentes chegaram ao local, não havia mais ninguém, o que levantou a hipótese de vazamento de informação.
 
Os acampamentos foram destruídos pelos policiais e servidores do Ibama. Até a última atualização desta reportagem às 17h30, ninguém havia sido preso.
 
Barracas armadas em meio à área indígena — Foto: PF/ Divulgação
Barracas armadas em meio à área indígena — Foto: PF/ Divulgação
 
Base na terra indígena
 
Para a Fundação Nacional do Índio (Funai), uma das iniciativas que poderiam ajudar na prevenção de incêndios na terra indígena seria a instalação, lá dentro, de uma base do Prev Fogo (órgão ligado ao Ibama que atua em casos de queimadas).
 
Nesse projeto, que é feito em parceria entre a Funai e o Ibama, os índios são treinados para o combate a incêndios.
 
"Esse trabalho já é feito em outros territórios indígenas e é importantíssimo. Mas é preciso recurso financeiro e estamos aguardando resposta do Ibama", explica Jailton Alves Brito, coordenador regional da Funai em Ribeirão Cascalheira, que é responsável pela terra indígena Areões.
 
Nos meses anteriores ao período crítico de seca, os índios, sob orientação do Ibama, fazem aceiros – que consistem na limpeza no entorno das casas e plantações – para evitar a propagação das chamas, caso o incêndio se aproxime.
 
Árvores tinham sido derrubadas recentemente — Foto: PF/ Divulgação


Árvores tinham sido derrubadas recentemente — Fotos: PF/ Divulgação

 
Problemas de saúde
 
A coordenadora distrital de Saúde Indígena da etnia Xavante Luciene Cândida Gomes afirmou que houve aumento do número de casos de doenças respiratórias entre indígenas da região nesse período.
 
"Antes, tínhamos uma média de 10 a 70 casos por mês, e agora tivemos 1,5 mil atendimentos por mês, em junho e julho, e agosto seguiu da mesma forma. Temos situações que agravaram para pneumonia", explicou.
 
Segundo ela, os indígenas são atendidos em postos de saúde nas próprias aldeias e têm acompanhamento. Em casos mais graves, os pacientes são levados a hospitais de cidades próximas.

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