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21/08/19 às 17:27

Colheita do algodão em Canarana

É fácil identificar uma lavoura de algodão. O branco das plumas reflete o sol forte do mês de agosto em pleno Cerrado Mato-grossense. Esse cenário, até então inexistente para a região do Médio Araguaia, em que se encontra Canarana, começa a fazer parte do “horizonte” dos agricultores locais. A cidade, até então marcada pelo cultivo de soja, milho e gergelim, sendo a maior produtora nacional do último, pouco a pouco abre as portas para novos cultivos.

No último dia 18 de agosto, houve a colheita de uma lavoura experimental da fibra de algodão no município. A área de 30 hectares, sob a gestão da empresa Meta, de consultoria agrícola, está servindo de termômetro para a inserção da cultura na região para plantio individual. No momento da colheita, empresários do agronegócio e agricultores se deslocaram até a propriedade, a pouco mais de 15 km da sede urbana do município, para verificar os primeiros resultados obtidos.

Esse interesse por parte da comunidade agrícola local se deve às grandes questões que norteiam os debates sobre o cultivo do algodão, geralmente relacionadas aos altos custos frente a potencial produtividade nos municípios do Médio Araguaia. Os valores para custear a produção vem causando receio por parte de alguns agricultores, pois demanda maior investimento inicial, sendo um desafio para pequenos e médios produtores.

Em Mato Grosso, segundo o IMEA (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária) em boletim de julho de 2019, o custo por hectare da fibra supera os R$ 9.200,00 em todas as regiões do estado. A soja, como exemplo comparativo, tem um custo que varia de R$ 3.473,69 a 4.101,39 dependendo da região e tipo de cultivo.

Foi na tentativa de analisar os desafios e resultados do plantio de algodão na região, que se propôs o cultivo experimental em Canarana. A pluma já é cultivada na região Centro Oeste e em alguns estados do Nordeste do país. Mato Grosso é responsável por quase 70% da produção nacional. Além do Médio Araguaia, a fibra também vem ganhando espaço em Rondônia.

A média de produtividade da lavoura colhida em Canarana ficou em torno de 300 arrobas/ha. O número ainda não é absoluto pois os fardos da fibra precisam passar pelo processo de pesagem na Algodoeira (indústria de beneficiamento), que depois de processado deve alcançar mais de 40% do peso colhido (120@ de pluma) em produto pronto para comercialização. Regiões tradicionais no cultivo, como Campo Novo dos Parecis – MT, apresentam uma média na safra 18/19 de 290 arrobas/ha.

A boa produtividade para Canarana, conforme afirma Rodrigo Piccinini, da Meta Consultoria Agrícola, se deve às condições climáticas do Médio Araguaia. “Temos a qualidade da pluma que se difere das demais regiões do Brasil, pois aqui não chove na época da colheita. Como exemplo, em Sapezal, Campo Novo dos Parecis e Campo Verde [todos no Mato Grosso], houveram chuvas nas lavouras nessa semana de colheita, que causam perda de qualidade”, disse.

Outro fator apontado por Piccinini é que, por se tratar de uma cultura relativamente nova na região, o índice de pragas e doenças ainda é baixo, sendo este um ponto de atenção no cultivo, pois “requer muito cuidado para não deixarmos explodir as mesmas e aumentar os custos”, afirma Rodrigo.

A Meta Consultoria, avaliando os resultados obtidos, pretende aumentar para 300 hectares a área no ano que vem. Outros produtores já demonstram interesse em fazer experimentos em suas propriedades no próximo ciclo. Para Rodrigo Piccinini, o algodão tem se demonstrado viável para o tamanho das propriedades do Médio Araguaia, que em média tem até 1.000 hectares.

Na negociação para venda, a arroba de algodão no estado fechou na última sexta feira (16/08) em R$ 75,67 em Campo Verde e por R$ 71,75 em Primavera do Leste. Esse preço, porém, é da pluma processada.

Conforme levantamento ImaMT (Instituto Mato-grossense do Algodão), a área plantada entre primeira e segunda safra (18/19) de algodão no Vale do Araguaia foi de aproximadamente 45 mil hectares, ocorrendo um aumento expressivo em relação à safra anterior (17/18), que somou 28.120 hectares de área cultivada.

Como desafio do cultivo inicial, o algodão demanda de maquinário exclusivo para sua colheita, não passível de adaptação de implementos usados em outras culturas. A colheitadeira usada pela Meta, por exemplo, foi cedida pelo Grupo Bom Futuro, que já cultiva algodão na fazenda Cocal em Canarana e está realizando a colheita e o beneficiamento da pluma. A Cocal plantou 11 mil hectares e instalou uma Algodoeira na fazenda.

Além do desafio do maquinário, os insumos utilizados ainda não estão disponíveis para venda direta nas representações e lojas do gênero na localidade, o que, no caso específico do campo experimental da Meta, demandou de aquisição destes em municípios com maiores áreas plantadas.

Como oportunidade no cultivo está o desenvolvimento das localidades em que se insere, visto a cadeia produtiva de alta empregabilidade. Ainda, recentemente, um incentivo fiscal foi garantido para os produtores de algodão na aprovação do Projeto de Lei Complementar (PLC 53/2019) no último dia 27 de julho pela Assembleia Legislativa de Mato Grosso. Foi mantida, por lei, a isenção de até 75% do ICMS para os produtores de algodão.

Um estudo da Meta Consultoria concluiu que a perspectiva de área plantada de algodão para as próximas safras em todo o Vale do Araguaia, incluindo grandes grupos, deve ultrapassar 60 mil hectares. A empresa está estudando a possibilidade de instalação de uma Algodoeira na região para beneficiamento da pluma e também aquisição de maquinário para atender a pequenos e médios produtores.

Colaborou Juliano Pinel do IMA
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