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12/06/19 às 18:33 | Atualizada: 12/06/19 às 20:15

A entrevista do deputado Dr. Eugênio

Avalio que posicionamento deve ser respeitado, mas nem por isso não pode ser revisto. Hoje, mudo minha forma de ver a vereança, que até então – e há muito tempo – via com indiferença e até desprezo. A guinada aconteceu após assistir a entrevista do deputado estadual Dr. Eugênio (PSB) ao noticiário matutino da TV Centro América.

Vejo com pesar o conteúdo fútil, velhaco, oportunista e superficial de muitos políticos, que aproveitam espaço nos veículos de Comunicação e nas mídias sociais para destilarem  abobrinhas. Gosto de ouvir quem sabe falar e tem informação a quem o acompanha no texto, áudio ou vídeo. Vale a pena ouvir Otaviano Pivetta (vice-governador), Luiz Pagot (ex-presidente do Dnit), Jair Mariano (ex-presidente do Intermat) e outros – poucos – integrantes da chamada classe política nesta abençoada e ensolarada Terra de Rondon.

O nível da informação com base no claro conhecimento regional de Pivetta, Pagot e Jair Mariano é verdadeira aula sobre a realidade e as perspectivas mato-grossenses em várias áreas. Porém, quando se ouve ‘Sua Excelência’  na embromação, é doloroso.

Confesso que via as Câmaras Municipais como algo plenamente dispensável. Esse entendimento em parte era reforçado por minha discordância sobre os critérios ou falta deles, para a remuneração do exercício do cargo de vereador: o duodécimo.  Após a entrevista de Dr. Eugênio revejo meu conceito sobre vereador, mas sem prejuízo ao meu entendimento sobre duodécimo.

A entrevista de Dr. Eugênio foi marcada pela inteligência do entrevistado, que usou e abusou do direito de conhecer a realidade de sua base territorial – o Vale do Araguaia. O deputado abordou infraestrutura, citando a falta de ponte sobre o rio das Mortes, na MT-326, entre Nova Nazaré e Cocalinho; destacou roteiros turísticos de sua região, a exemplo do turismo esotérico na Serra do Roncador, onde em 1925 desapareceu o explorador e coronel inglês Percy Harisson Fawcett; pontuou áreas cultivadas em Querência, Gaúcha do Norte e outros municípios;   quantificou o rebanho bovino; detalhou a situação em que se encontra a Saúde Pùlbica e o que está em curso para melhorá-la – por mais de 20 anos ele atuou nessa área enquanto médico.

Foi proveitosa e esclarecedora a entrevista do deputado. Depois de acompanhar sua fala passo a considerá-lo integrante do rol daqueles que realmente conhecem Mato Grosso e que estão preparados para a vida pública. Avalio que o Araguaia tem motivos para se orgulhar de seu único representante legítimo (por domicílio eleitoral – em Água Boa) na Assembleia Legislativa.
 
O preparo do deputado para a vida pública não nasceu com seu mandato, que ora começa. Além da vivência, do saber acadêmico e de seu convívio social, Dr. Eugênio levou para a Assembleia o aprendizado que adquiriu enquanto vereador por Água Boa. Sabedor desse passado político, voltei o olhar sobre a vereança mato-grossense e vi – tardiamente, acho – que ela é formadora de grandes nomes da política. Das Câmaras saíram bons nomes que honram a vida pública. Delas, também brotaram figuras nada recomendáveis, mas isso é inerente ao coletivo social.

Pela origem política de seus membros a atual legislatura na Assembleia se confunde com reunião da União das Câmaras Municipais: Dr. Eugênio, Elizeu Nascimento/DC (Cuiabá), Lúdio Cabral /PT (Cuiabá), Paulo Araújo/PP (Cuiabá),  Allan Kardec/PDT (Cuiabá), Faissal/PV (Cuiabá), Max Russi/PSB  (Jaciara), Wilson Santos/PSDB  (Cuiabá), Thiago Silva/MDB (Rondonópolis) e Xuxu Dal Moliin/PSC (Sorriso) exercem mandato. Kardec, sob licença, é substituído por Romoaldo Júnior/MDB (Alta Floresta). Guilherme Maluf/PSDB Cuiabá) elegeu-se deputado, mas renunciou para ser conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. Gilmar Fabris/PSD (Rondonópolis) conquistou mandato, mas concorreu sub judice e não foi empossado.

Deputados estaduais, prefeitos e congressistas iniciaram a vida pública exercendo mandato de vereador. Cito dois exemplos da cidade de Água Boa, de Dr. Eugênio: Maurício Tonhá e Mauro Rosa. Continuo: em Rondonópolis, os prefeitos Zé do Pátio, Percival Muniz, Hermínio Barreto, Alberto de Carvalho e Walter Ulysséa, a deputada estadual Vilma Moreira e o deputado federal Augustinho Freitas. Em Várzea Grande, Sarita Baracat. Em Sinop, Juarez Costa e Nilson Leitão. Em Lucas do Rio Verde, Neri Geller. Em Cuiabá, Emanuel Pinheiro (famoso pelo paletó) e Sérgio Ricardo. Em Aripuanã, Jonas Canarinho. Em Sorriso, Mauro Savi. Etc.

Portanto, passo a ver Câmara Municipal na condição de viveiro político. Sua produção depende da soberana decisão popular ao eleger vereador. Os ensinamentos bíblicos nos dizem que árvore boa dá bons frutos e que árvore má produz a maus frutos. Que um dia a farra do duodécimo termine pelo bem da moralidade e em nome da modernização do Estado.

Ainda sobre Câmara, em 1972 a generosidade de um pequeno município mineiro me transformou em vereador pela Arena. À época já estava com os dois pés em Mato Grosso, mas mesmo assim me vi diante de uma diplomação tardia e isolada num ato com o juiz eleitor Dr. Joaquim de Assis Martins Costa, titular da 54ª Zona Eleitoral. Não tomei posse. Foi um erro de conduta guiado pela imaturidade e a aposta numa amizade familiar que me induziu a tal procedimento.

Portanto, sobre vereador tenho que me penitenciar duplamente. Pelo errôneo conceito sobre a vereança mato-grossense e por minha falha no campo pessoal em Minas. A entrevista de Dr. Eugênio abriu uma avenida ao meu modesto entendimento, soou como verdadeiro alerta pra que o conceito quase pétreo que me pautava  fosse trocado pelo reconhecimento que na Câmara é onde tudo começa: é o berço democrático, é o laço mais próximo entre o cidadão e o político e que erros individuais de quem exerce aquele cargo não podem ser lançados sobre o coletivo.

Boa legislatura aos 1.404 vereadores pelos municípios mato-grossenses.


Reportagem: Eduardo Gomes de Andrade – Editor do site Boamidia

Vídeo da entrevista na TVCA abaixo>>>
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