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11/06/19 às 13:38 | Atualizada: 11/06/19 às 13:50

Da Alemanha para Canarana, Hans acreditou nas oportunidades em solo mato-grossense

Hans Georg Kalmbach é alemão e tem 62 anos. Veio para Canarana em 1978 para conhecer a região depois de ter viajado por toda a América Latina à procura de um lugar para morar com a família. É casado com Christa Bärbel Kalmbach, de 56 anos, com quem teve quatro filhos: Steffi Bärbel Kalmbach (36 anos), Bárbara Dora Kalmbach Witter (33), Georg Ferdinand Kalmbach (30), e Kerstin Kalmbach (28 anos). A mais velha nasceu na Alemanha e veio para Canarana com cerca de 2 anos, em abril de 1984, quando ele trouxe a esposa.
 
Ele já trabalhava com agricultura na Alemanha, na região de Floresta Negra, no estado de Baden-Württemberg, e com um amigo saiu pelo mundo em busca de uma região que tivesse boas terras para o cultivo e fossem baratas. De cara já gostou de Canarana e via um potencial de crescimento muito grande. Além dessa característica muito importante que tornava a região bastante promissora, ele encontrou vários alemães na região que vieram em busca dos mesmos objetivos que ele.
 
Ao se fixar em Canarana Hans conta que enfrentaram muitas dificuldades, pois era uma região de mata, sem infraestrutura básica como estradas e energia elétrica. A casa era um “barraquinho” de madeira que sequer tinha janelas. “Aquele ano foi bem difícil. Trouxe pouco dinheiro. Comprei um trator, uma aradora e uma plantadeira. Derrubei árvores e comecei a cultivar arroz e depois soja”.
 
“Nos primeiros quatro anos íamos pra cidade de trator. Não tínhamos carro, que só foi comprado em 1989, um fusca modelo 1984, que tenho até hoje como uma relíquia, todo reformado e que representa uma lembrança daquele período”. Naquela época, Hans criava porcos soltos pela fazenda. Ia para a cidade com o fusca para entregar a carne a supermercados e outros clientes.
 
Numa área de 470 hectares ele criava animais e mantinha a lavoura. No entanto, começaram as dificuldades econômicas em função da política. “O Banco do Brasil, que era o principal agente financeiro dos produtores, cortou o crédito. O Plano Collor prejudicou muito os agricultores. Foi então que decidimos criar uma cooperativa de crédito e fundamos o Sicredi aqui em Canarana, em 1989. Acreditávamos nos nossos negócios e tínhamos que ter uma alternativa para emprestar recursos”.
 
Pouco tempo depois veio outra grande frustração. Perdeu o dinheiro que havia juntado por cinco anos para comprar uma terra em um golpe. Pagou por uma área de 1.724 hectares que jamais foi entregue a ele pela empresa. Com a descapitalização em função do golpe e as dificuldades de acesso ao crédito, ele decidiu mudar de negócio. Em 1990, investiu o pouco que tinha na compra de gado, atividade que mantém até hoje. “Comecei devagar, pequeno, com a criação de gado de corte”.
 
Com o passar dos anos e o avanço da agricultura – soja e milho – as áreas para arrendamento ficaram mais difíceis e hoje ele possui 1.650 hectares, onde cria gado fazendo ciclo completo, com confinamento e semiconfinamento. “O Sicredi me ajudou nesse processo. E além de nos ajudar, o dinheiro que aplicamos na cooperativa de crédito fica na região. Temos cota capital, investimentos dos associados e mais credibilidade. É uma relação familiar e não de banco”.
 
Mas, engana-se quem pensa que com a pecuária a vida de Hans tenha sido só flores. Ele conta que teve dois grandes prejuízos com a entrega de animais para frigoríficos que não honraram os pagamentos. “E mais uma vez o Sicredi me ajudou a cobrir as dívidas”. Apesar das grandes dificuldades enfrentadas em um território longe de sua pátria, Hans acredita que a cidade, o estado e o país têm potencial para oferecer o que há de melhor para sua população. Lamenta os escândalos de corrupção. “Esse país tem tudo o que a gente precisa. Só a política precisa melhorar. Só ficou para trás em desenvolvimento por causa da corrupção”, diz ao contar que por várias vezes, em momentos de dificuldade teve vontade de ir embora. Conta que o chamavam de “louco” por escolher viver aqui. “Mas, acredito que as coisas podem mudar. Com a melhora na infraestrutura, estradas e tudo mais, a agroindústria começa a vir para cá, trazendo desenvolvimento”.
 
Apesar de acreditar que o Brasil pode ser um país melhor, Hans e a esposa não tiraram dos filhos a oportunidade de viver em um lugar de primeiro mundo. Desde que aportaram em Canarana, a cada cinco anos viajavam de férias para a Alemanha, para mostrar a eles que existia um mundo lá fora e que depois que crescessem poderiam escolher onde viver. Ele lembra que a primeira barreira foi a língua e que quando as crianças começaram a estudar passaram a ter mais contato com o português e a comunicação melhorou.
 
Depois que cada filho terminou o ensino médio eles puderam escolher entre ir para uma cidade grande e fazer faculdade ou passar um período na Alemanha. Steffi foi a primeira e como já namorava há uns três anos, ela e o namorado Adriano decidiram se casar lá na Alemanha, onde moraram por 2 anos até voltarem ao Brasil, para se casar aqui. Voltaram à Alemanha e ficaram por mais oito anos, retornando a Canarana depois. Neste tempo todos os outros filhos de Hans foram para lá. Bárbara por 4 anos, Georg 8 meses e Kerstin 11 meses. A primeira neta de Hans, Ann-Sophie nasceu na Alemanha e quando Adriano e Steffi voltaram, em 2008, ela também tinha 1 ano e meio, igual a mãe dela quando chegou. Na volta, Steffi estava grávida do 2° filho, o Christian. Depois nasceram as gêmeas Amanda e Karoline.
 
Em 2008, o filho Georg já trabalhava na Fazenda com pecuária com os pais e o genro começou a trabalhar também. Hans, o filho Georg (Jorginho) e Adriano tocam a propriedade somente com a pecuária, num sistema bem intensivo. Bárbara mora em Querência, onde casou com Rudimar Witter, e trabalham com agricultura. A Kerstin mora em Jatai (GO) com o namorado.
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