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18/10/15 às 08:57

Bordadeiras ganham profissão e renda com cooperativa, em Goiás

A geógrafa Celma Grace idealizou, há 6 anos, uma cooperativa que hoje envolve cerca de 30 mulheres, em sua maioria, donas de casa que, graças à iniciativa, ganharam profissão e renda. A Cooperativa Bordana reúne, em Goiânia, bordadeiras e costureiras que imprimem com a agulha, traços e cores de plantas do Cerrado em almofadas e outros artigos.

O trabalho do grupo de mulheres começou depois que Celma perdeu a filha, Ana Carolina Grace, em 2007, vítima de leucemia. Na época, a menina tinha apenas dez anos. “A perda de um filho é algo insuperável, e eu tive que encontrar uma forma de fazer com que essa perda se convertesse num trabalho positivo e que as ideias da Ana fossem perpetuadas”, conta Celma, que preside da cooperativa.
 
Celma participava da Associação de Moradores do Conjunto Caiçara, e, segundo ela, a filha sempre gostou dos trabalhos sociais da entidade.

“Diante da perda dela, foi na associação que encontrei forças para continuar a luta”, diz.  Segundo ela, Ana Carolina gostava de arte, desenhos e cores. A partir disso ela teve a ideia de fundar uma cooperativa de bordados.

O grupo começou com dez mulheres, mas  nenhuma delas era bordadeira profissional. Algumas, inclusive, nunca tinham bordado. De acordo com a presidente, tudo começou quando quatro das integrantes participaram de uma oficina da Prefeitura de Goiânia, onde aprenderam algumas técnicas e replicaram para as demais.
 
Rosemélia é uma das primeiras bordadeiras do grupo (Foto: Murillo Velasco/G1)Rosemélia Theiss é uma das primeiras
bordadeiras do grupo (Foto: Murillo Velasco/G1)
A bordadeira Rosemélia Theiss, de 60 anos, participa da cooperativa desde a fundação do grupo, em 2008. Hoje, além de ser cooperada e bordar para o coletivo, é uma das professoras da entidade. “Eu adoro ensinar, tenho um prazer enorme em poder passar a técnica para novas pessoas”, conta Rosemélia.

A dona de casa Ana Maria Batista de Souza , de 61 anos, começou a fazer parte do projeto depois de comprar um  bordado e conhecer, através da etiqueta da peça, a ideia da cooperativa. Ela procurou o grupo e entrou na cooperativa participando de oficinas para aprender a bordar.

Enquanto participava das aulas, Ana Maria ficou sabendo da história que motivou a geógrafa Celma a fundar a cooperativa.  “Quando conheci a história dela, me encantei ainda mais pelo trabalho e tive a certeza de que estava no lugar certo”, contou.

A idosa compara a atividade de bordadeira com uma fonte terapêutica. “Antes de ser uma cooperada, se eu quisesse, tinha que pagar pra fazer terapia. Agora faço terapia e recebo por isso como”, disse.

Gerações
O estudante Victor Emannuel de Souza, de 20 anos, é neto de uma das cooperadas. Victor é o designer da cooperativa. É ele quem esboça todos os tecidos antes de serem repassados às profissionais. “Eu faço isso por dom mesmo”, conta o estudante que pretende cursar arquitetura e continuar ajudando o projeto.
 
Ana Maria, 61 anos, faz parte da cooperativa há 2 anos (Foto: Murillo Velasco/G1)Ana Maria, 61 anos, faz parte da cooperativa
há 2 anos (Foto: Murillo Velasco/G1)
A avó dele, Djanira Beltrão, de 68 anos, se orgulha em poder estar ao lado do neto no trabalho. Ela é uma das costureiras da Bordana. “Me sinto jovem, forte, cheia de vida, e feliz por ver ele engajado em um projeto como esse ao meu lado,” comemora.

Nova coleção
A Bordana lançou em setembro deste ano uma coleção de peças de cama e mesa, além das tradicionais almofadas que são bordadas desde a fundação. A coleção, batizada de "Arranjo produtivo, um sonho bordado à mão" foi resultado de um trabalho que contou com a ajuda do renomado designer Renato Imbroisi, de São Paulo.

A consultoria com o designer veio atráves do custeio da Organização das Coperativas do Brasil (OCB) e com a colaboração do Sebrae-GO. Durante um ano, Imbroisi visitou Goiânia e, junto com as bordadeiras e com o designer da Bordana, Victor Emannuel, conduziu o processo de elaboração do desenho dos bordados.

O tema das estampas é o Cerrado e suas flores. As peças são produzidas em tecido de algodão egípcio de alta qualidade. Entre as linhas de produção da coleção estão: bordados de vasos de flores, flores com cabos longos - chamadas de Flor Girafa -, o cerradão, com concentrados de flores e florada, com flores representadas soltas no tecido.

As vendas são realizadas na sede da cooperativa, que funciona na Associação de Moradores do Conjunto Caiçara, em Goiânia, e através da rede social da Bordana.
 
Celma Grace idealizou cooperativa depois da morte da filha, em 2007 (Foto: Murillo Velasco/G1)Celma Grace idealizou cooperativa depois da morte da filha, em 2007 (Foto: Murillo Velasco/G1)
 
Bordadeiras se reúnem todos os sábados para dividirem tarefas (Foto: Murillo Velasco/G1)Bordadeiras se reúnem todos os sábados para dividirem tarefas (Foto: Murillo Velasco/G1)
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